Capitulo. 1
- Precisamos voltar!
- Não... acabou! Você precisa se acalmar, vai acabar nos matando!
- Qual é o seu problema? Eles são nossos amigos! Temos que voltar... por favor, me escuta, para o carro!
Eu mal conseguia ver as arvores passando pela janela do Jeep Renegade branco, o vento estava tão forte que mal dava para ouvir eles discutindo nos bancos da frente, nunca tinha visto eles tão nervosos e apreensivos. O vento gelado da noite de sábado corria pela janela quebrada da porta da frente e saía pelo porta-malas que já estava sem porta, o vento era tão forte que não conseguia respirar direito. Eu conseguia ver os clarões fortes pelo espelho retrovisor.
Eram 4:06 am quando as sirenes começaram a tocar e eles entraram sujos de sangue no carro. Eu não entendi muito bem o que aconteceu, mas as pessoas estavam loucas, choravam e gritavam por todos os lados O lugar estava em chamas, as madeiras caíam, as arvores queimavam. –Meu Deus.
Antes...
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– Você lembra de tudo, certo? – Karen calça os saltos sentada na poltrona vermelha da sala.
-Karen, não é a primeira vez que vou ficar com eles... sim eu me lembro- Madson ri deixando a bolsa em cima da mesa.
Oliver termina de dar o nó na gravata –É claro que ela lembra, vamos perder a reserva. Temos que ir- Oliver vai até Anna e a pega no colo com um abraço forte. -Princesa, respeita o seu irmão- Ele desvia o olhar para Noah. -Noah, qualquer coisa me liga, a Madson vai dormir aqui por uns dias, voltamos em uma semana.
Madson é a filha da Sra. Anderson, ela sempre fica com os filhos de Karen e Oliver quando eles saem. Noah tem dezesseis anos e Anna tem dez. Madson acabou de fazer dezoito anos e frequenta a casa deles desde pequena com a sua mãe, Wanda.
*O Notebook apita por falta de bateria*.
- Droga, espera aí, vai descarregar aqui – Noah se levanta da cama e pega o carregador no chão.
- Estudou para a prova amanhã? Eu estou muito ferrada, se eu reprovar... adeus carro. – Carol joga os cabelos ruivos para trás.
Noah a observa prender os cabelos pela webcam– Podíamos estudar um pouco hoje... meus pais saíram e a Madson nunca vem no meu quarto.
Carol ajeita a tela do notebook e ri enquanto responde - Estudar? Eu conheço isso por outro nome, Noah. Deixa a janela aberta. (Ligação do Skype desligada)
...
-Eu não estou com fome – Anna empurra o prato na mesa.
-Por favor Anna, eu estou cansada, colabora. - Ela diz empurrando o prato de volta para a menina.
Anna encara a mistura estranha e nojenta no prato raso. –Você está sentindo o cheiro disso? – Ela diz virando o rosto.
Madson vai até ela segurando um copo d’água. –Ok... depois de quase vinte horas de trabalho, isso era tudo o que eu estava precisando. - Ela dá um gole na água e põe um comprimido para dor de cabeça na boca.
Anna abaixa a cabeça e depois a encara. –Desculpa... é porque eu não gosto de brócolis- Ela diz um pouco sem graça.
Madson sorri para ela. –Eu também não.
Noah desce as escadas e entra na cozinha americana, ele está descalço, bermuda jeans e touca preta –Brócolis? - Ele ri.
Madson desvia o olhar para o garoto sem camisa. –Muito obrigada Noah, está me ajudando muito.
Ele vai até a geladeira e pega uma garrafa de leite. Ele dá um gole direto da garrafa e a coloca em cima do balcão -Vou pedir pizza- Ele diz tirando o telefone preto do gancho.
Madson pega o prato da mesa - mais fácil para mim- Ela diz abrindo a torneira. *TV- Eu sou Sasha Rodriguez e estou aqui em Las Vegas. O trânsito está totalmente parado por conta de um engavetamento na 592 sentido ao Bellagio. É uma péssima hora para sair de casa! O engarrafamento está na faixa dos 22km e pode dobrar segundo a guarda de transito regional. As autoridades desconfiam que o motorista da carreta que carregava vinte toneladas de madeira bruta pegou no sono... (A TV é desligada)
-Ei- Anna tenta pegar o controle remoto de volta.
Madson levanta o controle- Ouviu sua mãe, nada de TV até tarde.
Anna se vira e encara o relógio -mas ainda são nove da noite– Ela diz se virando para Madson
Noah põe o telefone de volta no gancho e volta as escadas –Anna, você dorme as dez todo dia– Ele ri subindo para o quarto.
Anna se levanta e vai até ele. –Eu sei, mas eles não estão em casa- Ela o encara. –Não precisamos fazer tudo como antes.
Madson vai até eles segurando sua bolsa. –Na verdade vocês precisam sim! Não dificultem as coisas para mim, estou fazendo um favor- Ela sobe as escadas.
-O que ela tem? - Anna pergunta baixo.
Noah observa Madson subir as escadas. –Ela cresceu Anna, não é mais a menina que brincava aqui em casa... respeite ela como adulta- Ele beija sua testa. –Vai tomar banho, quando a pizza chegar eu te chamo.
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No aeroporto...
-Dezessete horas em uma parada? Parabéns! Eu compro as passagens da próxima vez. – Karen se afasta do balcão arrastando a mala azul com raiva pelo aeroporto.
Oliver a alcança. - Nem é tanto tempo assim, podemos conversar, dar uma volta na cidade. – Ele diz parando na porta automática que dá para a rua principal.
Karen observa as ruas e em seguida se vira para Oliver -Que cidade Oliver? Essas três casas e uma igreja do lado de fora? Nem sei porque isso aqui tem um aeroporto.
Oliver pega as malas da mão dela. - É histórica, é até jeitosinha, qual é amor... tenta pelo menos- Ele diz dando um beijo curto nela.
Além da parada das dezessete horas de transferência de um voo para outro foi anunciado um atraso, as pistas foram fechadas por causa da nevasca forte de doze de dezembro. Halavan é uma pequena cidade colonizada pelos espanhóis depois da primeira guerra mundial. Não é muito grande, mas tem um enorme peso histórico. Localizada na costa do Alasca fronteira com o Canadá, é um dos pontos preferidos dos apaixonados por história. Com especiarias marcantes como o vinho e o café, atraem diversos turistas no inverno. Uma cidade que tem pelo menos um café e um bar em cada quadra é o local perfeito para admirar a paisagem das montanhas sempre cobertas por neve. A decoração natalina é fascinante.
A praça da igreja está lotada por conta das apresentações dos corais.
...
-Moedas para um cego por favor – Poucos olhavam para o senhor de aparentemente oitenta anos sentado na calçada, enrolado em um cobertor marrom manchado de vinho segurando uma caneca com umas sete moedas. Os olhos cobertos por cataratas e ossos marcando a pele do rosto chamam a atenção de Karen.
Karen pega uma nota de 10US$ e é interrompida por uma senhora. –É para a bebida! Ele não tem jeito- Diz a senhora de bochechas coradas pelo frio, pele branca e cabelos loiros claro. –Eu sou Dhavilla- Ela diz estendendo a mão a Karen.
Karen a cumprimenta -Eu sou Karen e esse é meu marido, Oliver. - Eles apertam as mãos enquanto acompanham Dhavilla pela calçada quase cheia de pessoas.
– É sempre cheio aqui essa época do ano- Dhavilla se esquiva de uma criança correndo com outros amigos. -Cuidado meninos- Ela diz encarando o palco na praça
Karen desvia de uma barraca de pipocas– São seus netos?
– São hospedes em meu hotel, estão com o colégio Mc Collengin, eles vêm todo ano. – Ela responde ainda encarando o palco. O vento gelado carrega poucos flocos de neve que se prendem nos cabelos cacheados de Karen.
Oliver segura a mão da sua mulher - Ótimo, ela tem um hotel. – Ele diz desviando o olhar para a senhora simpática. -Estávamos procurando uma pousada ou hotel, estão todos esgotados, nosso voo foi cancelado, pode nos ajudar?
Dhavilla se vira para o casal e os encara -Infelizmente eu estou lotada também, mas conheço alguém que pode ajudar vocês!
...
Dhavilla bate na porta de um café charmoso de portas altas e decoração rústica com pedras e madeiras brutas. – Oi querida, sua mãe está aí?
Charlle abre a porta e encara os visitantes -Oi Sra. Delavega. Vou chamar, entrem, está um gelo aí fora! –Todos agradecem a menina simpática e carismática, bonita e na faixa dos quatorze anos. Charlle sempre foi querida por seus vizinhos, trabalha no café da família e faz curso em uma livraria no centro da cidade. - Vou ser bibliotecária – Diz a menina segurando uma bandeja com xicaras e açúcar em cubos.
Karen observa a construção toda detalhada em madeira. -Ótimo, é uma bela profissão. –Karen encara a grande lareira.
–Ela sempre foi uma boa garota, vai se sair muito bem. - Diz Dhavilla servindo o café aos visitantes. O cheiro do café recém moído se sobressai por toda a sala.
Oliver dá um gole no café e fecha os olhos, ele se levanta e vai em direção aos livros na parede ao lado da lareira -Você tem uma coleção e tanto aqui- Ele diz olhando as prateleiras repletas de livros como Romeu e Julieta e a história do Holocausto.
Charlle para ao lado do homem de calça social preta e blusa azul -Obrigada, são livros ótimos- Ela vai até a lareira e põe mais duas peças de madeira. -Minha mãe está terminando de lavar a louça, já está vindo. Querem comer alguma coisa? – Ela pergunta limpando as mãos.
Karen dá um gole no café quente -Não, muito obrigada, comemos no aeroporto.
-Mil desculpas- Diz Lenna entrando apreçada e com as mãos molhadas na sala.
Karen se levanta e sorri para a mulher -Não precisa se desculpar. Obrigada por nos receber, não achamos lugar para passar a noite.
–É difícil conseguir um hotel aqui em alta temporada- Lenna dá um abraço em Dhavilla e em seguida vai até Karen. –Bom, não chega a ser um quarto de hotel. - Ela ri e em seguida prende os cabelos. - Mas vocês vão gostar.
Dhavilla se senta próximo a lareira e sopra a xícara de café. –As festas de fim de ano daqui são bem conhecidas. Eu particularmente não gosto de tumulto, mas não posso reclamar, os tumultos mantem meu hotel aberto em baixa temporada.
Lenna se senta no sofá de dois lugares com Charlle, ela pega a chaleira e despeja a água quente em sua xícara. –A cidade morre no final de janeiro, gosto dos turistas, são simpáticos e animam a cidade- Ela põe um sachê de chá na xícara com a água quente ainda soltando fumaça.
Karen sorri e a encara, seus olhos verdes e alegres são contagiantes. –Sinto falta desse clima mais sossegado, Nevada é sempre acordada, movimentada e barulhenta, amo morar lá, mas as vezes eu trocaria de lugar com vocês. - Ela ri.
Dhavilla desvia o olhar para a lareira robusta e ri. –Você se mataria na mesma semana.
Lenna se levanta e vai até o balcão onde Oliver recolhe as xícaras. –Acho que em uns três dias talvez. – Todos riem juntos. A conversa está tão boa que as horas passam em minutos. Karen já esqueceu praticamente todo o estresse do aeroporto. Dhavilla é uma senhora muito bem-humorada e cheia de histórias para contar, Lenna é jovem, bonita como a filha, carismática e inteligente. O café Dorivan está na família há seis gerações, um dos mais tradicionais cafés de Halavan. Mãe solteira e irmã mais nova de três irmãos, Lenna é admirada por muitos, pelo seu belo corpo e cabelos ruivos naturais, a cidade toda a trata como uma irmã. Dhavilla era a melhor amiga da mãe de Lenna que infelizmente faleceu ainda nova, ela tinha vinte e oito anos quando morreu no parto de Lenna. –Ela escolheu me dar a vida- Diz Lenna com os olhos cheios d’água, as bochechas ficaram vermelhas com a emoção das palavras.
–Eu sinto muito- Diz Karen impressionada com a história.
–Ela morreu feliz, escolheu você- Dhavilla diz dando mais um gole no café.
O clima fica um pouco pesado por uns segundos por conta da emoção de Lenna, mas volta ao normal logo em seguida com Dhavilla contando como foi a história do seu hotel.
...
Eles já estão no quarto que Lenna os emprestou para passar a noite. *TV- Ainda não sabemos o que é ou de onde veio, já estamos estudando a situação.
-Mas as pessoas devem se preocupar? - A jornalista pergunta sentada ao lado do homem de jaleco.
-Claro que não, o governo está tomando todas as providencias, foram apenas casos isolados que já foram contidos, não é uma ameaça ou algo do tipo- Ele dá um gole na água e volta a olhar para a câmera.
-Tem alguma coisa para dizer para as pessoas que estão nos assistindo? Acredito que muitos estejam apavorados, a final, as notícias não são agradáveis- Ela dá uma pausa e também dá um gole na água.
Ele passa a mão na barba rala e desvia o olhar para a mulher que continua olhando para a câmera. -Não acreditem em boatos, as pessoas se divertem criando pânico. Está tudo sob controle, a segurança e bem-estar de vocês são nossa prioridade!
Ela desvia o olhar para o homem e volta a encarar a câmera. -Obrigada pelo esclarecimento, tenho certeza que todos vão ficar mais aliviados agora- A câmera dá zoom na repórter que cruza as pernas, somente ela aparece agora. –Vocês ouviram, não tem motivos para preocupação. Julie agora é com você. *
A notícia passa despercebida por eles e pela maioria das pessoas, o pânico criado por alguns vídeos e notícias em websites foi de fato controlado com o decorrer dos dias. A maioria das pessoas nem sabiam do tal surto de uma doença agressiva no norte da Ásia, a final, foi contido.
...
Oliver se levanta e vai até a janela. Os feixes de luz do sol invadem o quarto rústico destacando partículas de poeira no ar. Oliver veste uma cueca branca box, ele para na janela e a abre.
Karen Abre os olhos e os esconde da luz. - Bom dia! Vai no aeroporto agora? - A voz dela sai fraca e rouca pelo sono.
–Vou sim- Ele vai até ela e a beija na testa. -Não pretendo demorar. Vai descer comigo para tomar café? – Ele pergunta indo até o banheiro.
Karen se levanta e observa seu marido de pé em frente ao vaso, suas costas largas e definidas moldam o corpo alto. - Vou tomar banho primeiro, pode ir na frente. - Ela vai até ele e o abraça por trás
–Ok, te amo.
Oliver vai tentar trocas as passagens para algum voo no mesmo dia ou o mais rápido o possível, mas vai demorar horas só para ele ser atendido, o aeroporto está um caos, lotado, todos tentando remarcar as passagens.
*Alguém bate na porta do quarto do casal. * -Só um minuto- Karen grita do banheiro se enrolando na toalha. Ela abre a porta com os cabelos pingando.
-Bom dia! Está afim de dar uma volta pela cidade? Eu trouxe café. – Lenna segura um bule cheio e dois copos térmicos.
-Vou ficar mal-acostumada- Diz Karen abrindo a porta pra Lenna entrar.
Lenna vai até a janela e observa a neve tímida da manhã do dia treze caindo. -Charlle está na biblioteca, o café não abre hoje e o dia está lindo- Ela ri e volta a olhar para Karen.
–Não tenho como recusar um pedido desses- Karen ri penteando os cabelos negros e cacheados. -Vou por uma roupa e vamos.
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Nevada...
O sol passa pelas brechas da persiana destacando a poeira no ar do quarto típico de um garoto de dezesseis anos, com pôsteres de filmes, tacos e luvas de basebol. Carol abre os olhos e encara o relógio em cima na cômoda de Noah. –Droga- Ela segura o lençol branco por cima dos seios e vai apressada em direção as suas roupas deixando sua calcinha preta à mostra. Noah observa enquanto ela veste a camiseta virada de costas para ele. –Estou ferrada, de verdade- Ela continua se vestindo apressada
Noah se senta na cama de solteiro -Peguei no sono, calma. - Ele diz se levantando.
Carol o observa de pé de costas para ela, ele pega a cueca box cinza em cima da mesa do computador e começa a vestir. –Meus pais vão me matar! - Ela diz prendendo os cabelos
Ele veste a cueca e vai em direção a Carol. -Eles não devem ter acordado ainda, vai ficar tudo bem! Relaxa.
Ela o beija e cola a testa na testa dele. Seus cabelos ruivos descem bagunçados pelos seus ombros magros e brancos. –Eu te ligo, tenho que ir- Noah abre a janela do quarto e a ajuda a descer, o sol tinha acabado de subir, estavam todos dormindo ainda, menos o sr. Wilson, ele sempre botava o lixo para fora essa hora.
-Os pais dela não são idiotas, você sabe né? - Madson não consegue segurar a vontade de rir.
Ele vai até a porta segurando a bermuda cargo azul. -O que você está fazendo aqui?
Madson desencosta os ombros da porta e entra no quarto. -Peguei no sono na sala ontem, vim te chamar para tomar café. Não vou ser a única pessoa acordada. - Ela vai até a janela e encara Carol correndo no fim da rua. -Vocês não são novos para transar não? Jesus, com a sua idade eu ainda brincava de bonecas.
-Sério Mad? - Ele veste a bermuda e pega uma camisa branca no armário. –Quando anos acha que eu tenho? Treze? - Ele ri e vai até o computador.
Ela se joga na cama -Ah, qual é, me conta, estão mesmo transando?
Ele se joga na cama também e ri. –Qual é Mad- Ele respira fundo. –Talvez- Ele ri.
Madson se levanta e vai até a porta. -Pensei que você fosse morrer virgem.
–Do que estão rindo? -Anna pergunta parando na porta coçando os olhos de sono ainda. Madson a encara. -Coisa de gente grande mocinha curiosa! Vem, vou preparar seu cereal, e o seu irmão... ele vai tomar um bom banho, fez muito calor nesse quarto ontem, deve ter soado a noite inteira.- Ela ri alto e pisca para ele.
-Muito engraçada você.- Ele taca um travesseiro que bate na porta quando Madson a fecha.
(Notificação no whatsapp)
-Grupo/Scott- Eu quero saber de fatos, FATOS...
–Grupo/Tassia- A festa vai babar, tenho certeza.
–Grupo/Alice- Não conseguiram as bebidas?
–Grupo/Ashley- Gente, é uma coisa tão simples –‘
-Grupo/Tassia- Ué, os meninos estão com dificuldade pra arrumar bebida? Onw, fofos *-*
–Grupo/Alice- HAHAHA, garotas, melhor darmos o nosso jeito ou vamos acabar bebendo suco a noite inteira.
–Grupo/Noah- Cheguei.
–Grupo/Ashley- Chegou tarde, o Scott e o Troye acabaram com a festa. .l.
–Grupo/Troye- Eeeei, não foi culpa minha, o cara da id falsa não quer fazer.
–Grupo/Noah- Ninguém aqui tem um amigo com mais de 21?
–Grupo/Ashley- Esquece, vamos dar um jeito.
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-Foi um verdadeiro massacre, pelo menos 1.5 milhão de judeus foram mortos nas câmaras de gás daquele campo de concentração. Massacres aconteceram por toda nossa história, pela igreja católica, pelo preconceito, a religião em si matou mais do que qualquer guerra, tivemos as caças as bruxas, as cruzadas, vocês vão aprender mais na faculdade- As aulas da sra. Wilson eram incríveis, todos adoravam o jeito que ela falava, os detalhes, as coisas que os outros professores não falavam, ela era nossa professora de história. Negra e na faixa dos sessenta anos, ela não seguia os planos de ensino do colégio, falava o que tinha que ser dito.
–A senhora acha que as coisas seriam diferentes sem a religião? – Ashley debruça sobre a mesa de madeira esperando a resposta.
-Eu tenho certeza. Tudo isso que vocês veem acontecendo aí fora, as guerras, os preconceitos, os suicídios, agradeçam a igreja por isso. Hipocrisia eu diria! – Ela responde apagando algumas anotações no quadro.
Troye desvia o olhar para Ashley e em seguida diz. -Talvez as coisas pudessem estar piores sem a igreja, imagina um mundo sem leis.
–Porque não teríamos leis? Acha que sem esse livro preconceituoso e machista as pessoas estariam como? Temos nosso senso de humanidade Troye, nada vai tirar isso, quando começamos a entender as coisas quando crianças, mesmo sem ler a tal bíblia já sabemos o que é certo e o que é errado! - Ashley rebate.
Alicia os encara. –Isso tudo é uma questão cultural. Se a bíblia fosse escrita hoje em dia, seria diferente! Eles escreveram o que achavam errado e o que achavam certo... acredito que seja isso.
-Bom ponto de vista, Alicia- A Sra. Wilson diz indo até as mesas. –É um livro cultural, político e muito bem escrito.
A sra. Wilson pega um dos livros e põe sobre a mesa ao lado de sua garrafa d’água. -Podíamos estar melhores, piores, enfim, o foco dessa aula não é esse! Mas já que entramos nesse assunto, queria deixar um trabalho para vocês, individual. Anotem! “Como seria nosso mundo sem a religião? ” Esse é o tema. Estamos presos e limitados por causa de um livro, a religião não é o problema, o problema é a religião ser usada como doutrina pessoa e moral, base das coisas, isso é errado! Pesquisas que poderiam salvar pessoas em estado vegetativo são colocadas nas gavetas a todo tempo por causa da visão que a religião impõe nas pessoas. Podíamos estar no futuro já, mas ainda estamos aqui, vendo pessoas tendo que sair do estado para ir casar em outro. - Ela sabia o que estava falando e até onde ela podia ir.
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Halavan
-Eu fiz jornalismo em Massachusetts, era colunista no AM, resolvi escrever um livro. Ia ficar aqui temporariamente, mas eu conheci o Will, pai da Charlle, foi breve, mas foi intenso. – Lenna diz ajeitando o cachecol.
Karen caminha ao lado da mulher ruiva, seus passos deixam pequena marcas da neve misturada com o pó de serra. –Ainda não o conheci. – Karen sorri.
–Ele era casado- Lenna respira fundo. -Eu descobri isso no dia que contei a ele que estava gravida. Ele disse que já tinha uma família e não poderia ter outra, sugeriu que eu abortasse e continuássemos amantes.
–Que filho da puta- Karen diz com uma visível repulsa pelo homem.
Lenna ri –Eu fiquei sem reação, tipo quando um vendedor ou o caixa do supermercado te trata mal, você sabe que você tem que responder, mas você não consegue, porque você simplesmente não esperava por aquilo. Eu fiquei ali parada esperando ele dizer que era uma brincadeira de mau gosto.
Lenna e Karen caminham pelo porto da cidade. O céu está gélido e a neve parou de cair. A brisa balança os cabelos vermelhos de Lenna e o rabo de cavalo de cabelos negros e cacheados da Karen. Elas seguram cada uma um expresso duplo que ainda solta fumaça. As ruas estão parcialmente cobertas por lascas de madeiras misturada com pó de serra e neve. A indústria madeireira é a especialidade de Halavan, o porto recebe enormes quantidades de madeira todos os dias onde são exportadas. Elas vão caminhando até atravessar o porto e chegar ao centro de Halavan.
...
Lenna entra no hotel acompanhada por Karen -Dhavilla? Está aí?
–Estou sim, só um momento- Dhavilla responde da cozinha do Hotel. –Chegaram na hora certa, estou fazendo bolinhos de arroz.
Karen vai até ela e a cumprimenta. -Nossa, eu não como isso há anos. Minha tia fazia sempre para mim, ela foi minha melhor amiga na minha adolescência. Nos juntávamos todos os dias à tarde na casa dela, eu ela e minha vó, tomávamos café e comíamos bolinhos de arroz- Ela ri.
–Acabou o arroz na casa dela? – Lenna diz rindo, ela vai até o armário e pega um copo.
Karen se senta em um dos bancos de madeira. -Na verdade ela era mulher do meu tio... eles terminaram.
–Entendi. Que chato, perderam contato? – Lenna enche o copo com água e vai até Karen.
-Ah, com o tempo vamos nos distanciando, é normal.
-Manter uma boa amizade à distância é bem complicado- Diz Dhavilla escorrendo o óleo dos bolinhos com a escumadeira e os colocando em um prato com papel toalha. –Pode fazer o café, querida?
–Claro. - Lenna vai até a pia e enche a chaleira.
As três estão rindo com as histórias que estão contando. Quando a chaleira começou a apitar, Lenna levanta para ir terminar o café. –Sou uma senhora, mas não estou morta- Diz Dhavilla sem conter a risada.
–Ainda não vi esses garotos no porto, estou perdendo tempo- Karen diz rindo, ela morde um dos bolinhos e fecha os olhos
–Eles são muito jovens, eu teria que ensinar muita coisa a eles– Lenna ri tirando a chaleira do fogo.
Dhavilla morde um dos bolinhos -Eu não ligaria de dar umas boas aulas para o garoto do guindaste- A chuva de gargalhadas toma conta da cozinha do hotel, Lena ri tanto que tem que se agachar em frente ao fogão.
Dhavilla se vira para a porta e chama as netas. –Lisa, Taylor, os bolinhos estão prontos. – As duas meninas entram correndo na cozinha. Lisa tem seis anos e Taylor tem oito, elas sempre passam temporada com a vó. Dhavilla adora aquelas garotas, mima elas de todas as formas.
–São lindas meninas! - Karen diz sorrindo para elas.
Dhavilla desvia o olhar para Karen. –Elas são tudo para mim, ajudei a cria-las até Emma resolver se mudar para o Texas, faz três anos já. Foi difícil me acostumar.
Lenna põe o pó de café no coador de pano. –É sempre assim, a vó cuida até não ser mais necessária.
–Não posso culpa-la- Dhavilla da mais uma mordida no bolinho. -Ela nunca gostou daqui e sempre foi bem clara sobre ir embora um dia. Mas nunca levei a sério- Ela desvia o olhar para a janela. -Ela conseguiu um bom emprego, um bom marido, estou feliz por ela.
Lenna leva o bule até a mesa de madeira e em seguida desvia o olhar para a TV
*TV- (comercial) Ainda não tomou sua vacina? A vacina contra a febre vermelha é fundamental para você e sua família. Se você ainda não tomou, não perca mais tempo. Uma campanha de proteção pelo cidadão, sua saúde também depende de você. *
Karen levanta e leva os pratos até a pia. –Pensei que só as pessoas que fossem viajar para a Ásia tivessem que tomar.
–A vacina se tornou obrigatória ontem depois que confirmaram uns casos na américa do sul. – Lenna diz se levantando. –Que isso Karen, deixa que eu lavo.
-Não, tudo bem.
Dhavilla pega o controle remoto e desliga a TV. -Países sem controle. Abrem as portas para imigrantes e expõe as pessoas a Deus sabe lá oque.
O sol começa a se por deixando o ambiente levemente escuro. Karen abre a torneira e começa a lavar a louça. –Eu não sabia que estava assim, já tem uma cura?
–A maioria morre em dias, não tem cura. Tem cidades na Ásia que estão totalmente fechadas, ninguém entra ou sai.
Dhavilla puxa um dos bancos de madeira e põe uma das pernas em cima, seus óculos refletem a pouca luz solar que ainda entra na cozinha do Hotel. –Mas tem que fechar mesmo- Ela encara sua perna um pouco inchada. -Não temos culpa se eles comem ratos, macacos e insetos. Eles sempre expõem o mundo a esse tipo de risco, lembra do Ebola né?
Karen enxágua um dos copos e desvia o olhar para Dhavilla. –Mas o ebola não foi na África? – Ela ri e volta a olhar para a pia de alumínio.
-Tanto faz! – Dhavilla levanta da cadeira, ela caminha até a janela e a fecha. –O ponto é que essas coisas sempre vêm de lá.
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Nevada
-Noah, já deixei a Anna na escola. Estou indo trabalhar, volto as 8:00pm- Madson arruma umas coisas na bolsa falando com Noah pelo celular. Em seguida ela calça uma sapatilha preta.
–Ok, eu busco ela quando estiver voltando para casa, se cuida.
Madson é enfermeira auxiliar no hospital Estadual de Nevada, recém-formada ela conseguiu um estágio na emergência do hospital. Ela é uma jovem muito atraente, loira com os cabelos lisos na altura dos ombros, magra e de pele branca. Anda sempre com uma maquiagem leve, o que a deixa ainda mais linda.
–Está atrasada- Diz Tahisse, enfermeira chefe e melhor amiga de Madson.
Madson põe a bolsa no balcão apressada. –Mil desculpas, estou tomando conta dos meninos de novo. Tive que deixar a Anna na escola porque o ônibus não passou- Ela veste o jaleco e põe os cabelos para trás.
–Relaxa, está tudo calmo aqui, nenhum acidente ou crianças se engasgando com chicletes. – Tahisse ri e caminha em direção a porta verde de duas folhas.
Madson a acompanha. -Estou mesmo precisando de um dia calmo, estou exausta! Sarah me mandou mensagem ontem de noite perguntando se eu podia dividir seu plantão com ela.
Tahisse pega uma carteira de cigarros. O tempo está se fechando e começou a esfriar. –Eu vou tirar a semana que vem de folga. Estou dobrando desde quinta passada. Terça é aniversário do meu pai- Tahisse acende um cigarro. –Quer um?
Madson lê uns e-mails pelo celular e em seguida desvia o olhar para Tahisse. –Não, estou parando. – Ela guarda o celular no bolso do jaleco. –Teddy me chamou para ir em um bar aqui perto depois do meu plantão.
Tahisse a encara e depois ri. –Alguém vai transar hoje- Ela dá mais um trago no cigarro.
Madson a encara e bate no ombro dela. –Não! Claro que não... que nojo. - Ela ri.
Tahisse se apoia em um vaso com uma palmeira. –Ah, Mad. Ele nem é tão ruim... para relaxar está ótimo
Madson ri alto. –Meu Deus, Tahisse... eu não acredito que você...
-O que eu posso fazer? - Ela dá de ombros. –Trabalho aqui há seis anos.
Madson ri e pega o cigarro da mão dela. –Você é uma vadia mesmo. – Ela traga o cigarro e em seguida tosse. –Nossa, isso é péssimo, ainda bem que estou parando.
Tahisse traga o cigarro fazendo o papel e a nicotina ficar em brasa. –Está certa! Tem noção de quanto o cigarro está caro? Meu Deus... vou ter que arrumar outro emprego só para continuar fumando.
*Barulho da sirene, uma ambulância está chegando no hospital*
-Acho que você vai ter que apagar esse- Madson ri e abre a porta.
...
-Mad- Sarah se aproxima das duas. –Pode pegar meus pacientes hoje à tarde? Tenho que resolver umas coisas.
Elas estão paradas do lado de fora junto com os médicos esperando a ambulância chegar. –Estou com os meninos- Madson desvia o olhar para ela. –Já tentou com a Tina?
Sarah observa a ambulância virando a rua. –Vou falar com ela.
Teddy é médico residente. –Vamos lá pessoal. Acidente de carro, várias fraturas expostas e uma possível amputação.
A ambulância chega e três socorristas descem. Jonny é um dos médicos socorristas, ele desce uma maca apressado com a ajuda de dois enfermeiros. –NÃO CHEGUEM PERTO!
Todos o encaram. Teddy vai até ele. –Assumimos daqui Jonny. Jonny o encara e em seguida o empurra. –NÃO. O CCD mandou não fazermos nada até eles chegarem.
-CCD? - Tahisse se aproxima. –O que eles têm a ver com isso?
Jonny dá de ombros. –Eu não sei. Mandaram isolar o corpo e o pôr na quarentena.
-Tudo bem- Tahisse se vira. –Anuncie o código azul e preparem a quarentena.
Uma das médicas residentes de plantão anuncia o código azul e cobre o homem aparentemente morto com uma manta de plástico isolante.
–O que ele tem? - Madson pergunta enquanto se aproxima rápido. Ela quase cai quando é segurada pelo policial que estava no banco carona da ambulância.
–DISSE PARA NÃO CHEGAR PERTO, DROGA MADSON! – Jonny grita desviando o olhar para Madson. Ela o encara assustada e se afasta. –ISOLEM ESSA ENTRADA E PREPAREM A QUARENTENA NIVEL 7!
O movimento no hospital muda completamente, poucas informações e muita correria. *Campainha de acionamento para funcionários –Dr. Gomes, por favor compareça ao setor de risco-*
-O que está acontecendo? - Madson pergunta enquanto tenta acompanhar os funcionários pelo corredor do hospital. Sarah anda ao lado dela e faz sinal como se também não soubesse o que está acontecendo. *Dr. Gomes, por favor compareça ao setor de risco*
-Mad, vem cá! - Tahisse grita atrás do balcão de enfermagem. Ela segura alguns prontuários e os põe em cima do balcão. - Preciso que transfira os pacientes desse bloco e da observação 5 para o outro lado do hospital.
Madson olha em volta e em seguida desvia o olhar para Tahisse –O que está acontecendo Tahisse? - *Dr. Gomes e responsáveis pela ala de infecção, por favor comparecer ao setor de risco* -Tahisse? - Madson pergunta mais uma vez. Nessa hora tudo passa mais devagar. Madson vê tudo em câmera lenta, os médicos correndo pelo corredor, as luzes vermelhas sendo acesas, médicos do CCD entrando com malas e roupas de proteção.
–Faça o que eu te mandei fazer! - Tahisse pega em um dos braços de Madson tirando ela do estado de choque. –MADSON?
–Desculpa, estou indo.
...
-PAREM DE FILMAR! - Um dos policiais grita derrubando o celular da mão de um adolescente que aguardava atendimento na sala de espera.
–SEM VIOLÊNCIA, DE O EXEMPLO! - Madson grita devolvendo o celular para o adolescente. Ela vê de relance Teddy andando rápido no corredor e vai atrás. Ela começa a andar junto com ele e pergunta mais baixo. –Teddy, me fala, o que é isso?
Teddy olha uns papéis e continua andando apressado. -Você precisa sair daqui, pega suas coisas e sai pelo necrotério, eles ainda não estão vigiando lá- Ele responde sem olhar para ela.
–Como assim sair? O que está acontecendo? ME RESPONDE, DROGA!
Teddy para no corredor e põe as duas mãos sobre os ombros de Madson. Ele está visivelmente preocupado e com medo. As luzes brancas do corredor piscam deixando expostas as luzes vermelhas. –O hospital está em quarentena, ninguém entra ou sai daqui... eles vão isolar tudo.
As palavras de Teddy caem feito um piano em cima de Madson, ela não sabe de fato o que está acontecendo mas sabe que é grave. Ela fica parada por alguns segundos alheia a tudo o que está acontecendo em volta. –Mad! - Isso ecoa na cabeça dela, bem distante. –Mad, RAPIDO- Ela é balançada, mas está tudo tão baixo e devagar. –Mad, temos que sair daqui- Ela desperta com Tahisse suja de sangue a puxando pelo braço.
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-Mãe? - Charlle abre as portas do café. Ela caminha pela sala e põe os livros em cima da mesinha com flores ao lado do sofá de dois lugares cor vinho. –Mãe, está aí? - Ela vai em direção a geladeira com o controle da TV na mão. Ela liga a TV enquanto pega algumas coisas para preparar um lanche. Pasta de amendoim, queijo branco, geleia de frutas vermelhas e suco de pêssego.
TV *-Pode sim ser o primeiro caso da febre vermelha nos EUA, não podemos dar uma posição até o CCD se pronunciar a respeito disso. - Diz Suzan, governadora de nevada.
–Entendi. Mas se for, como o governo vai lidar com isso? - Pergunta Mariah, ancora do jornal BBC.
–Não temos como ter uma resposta exata sobre isso agora, o governo disponibilizou a vacina que certamente amenizaria as coisas. A vacina não torna ninguém imune a febre, mas nos dá possibilidade de tratamento. - Suzan responde cruzando as pernas.
–Você pode nos falar mais sobre a vacina Dr. Willian?
–Claro! Ela basicamente desperta todo o sistema imunológico, nos deixa mais fortes e resistentes a invasão de vírus e bactérias, fica mais difícil matar nossas células responsáveis pelo sistema nervoso, o que nos dá mais tempo para controlar a infecção e tratar o paciente.
Mariah desvia o olhar para a câmera. –Vocês ouviram, as vacinas são obrigatória e já entraram para o livro de vacinação. A vacinação está sendo feita nas escolas públicas e postos de saúde. Não percam tempo! Governadora Suzan, Dr. Willian, muito obrigada por nos dar esse esclarec... –Charlle muda de canal, mas todos estão passando a mesma coisa. *Já passam de três mil casos de febre vermelha no Chile* Ela pula. *Calamidade pública* Ela pula. *Pode ser sim reação da vacina! Só as pessoas que tomaram a vacina estão ficando desse jeito, são monstros, não são pessoas...* Ela pula. *we could be heroes, me and you* -Agora sim- Diz Charlle aumentando o volume da TV.
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-Amor? - Oliver atende o celular.
–Onde você está? Já vai fazer oito horas que você saiu!
Ele leva as mãos ao ouvido para poder ouvir Karen. –O aeroporto está um caos, não fui atendido ainda.
Karen anda até a porta e encara a noite caindo. –Meu Deus, Oliver, vem para casa.
–Daqui a pouco amor. Deixa eu tentar resolver logo isso, já fiquei esse tempo todo aqui, não quero ter que voltar amanhã.
–Tudo bem- Ela fecha a porta. –Te amo. - Ela se vira para Dhavilla –Acredita que ele ainda não foi atendido?
Dhavilla está tirando as coisas da mesa. –Estranho, já era para ter voltando ao normal. Esse aeroporto não fica muito tempo fechado, é muito movimentado pelas transferências. Daqui a pouco volta a funcionar normalmente.
Lenna termina de guardar as coisas no armário. –Vocês vão comigo para o café? Charlle já chegou.
–Vão indo na frente, vou pôr as meninas na cama e encontro vocês lá.
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-Meu Deus Tahisse, você está bem? - Madson pergunta enquanto é puxada por Tahisse.
–Pensei que ele tivesse morto- Ela diz sem diminuir o ritmo dos passos. –Ele arrancou uma parte do pescoço do Jonny bem na nossa frente... não deu tempo de fazer nada.
Nessa hora ela para e finalmente chora, chora pelo seu amigo morto, chora por ter visto aquilo acontecer e chora simplesmente por não saber o que era aquilo, por que ele voltou? Por que ele mordeu o Jonny? Por que ele continuou de pé após três tiros do segurança no seu peito? O corredor está totalmente deserto agora, as luzes brancas já estão totalmente extintas. –Ele disse para sairmos pelo necrotério- Tahisse diz enquanto seca as lagrimas com a manga do jaleco sujo de sangue. Madson a observa e assente com um gesto com a cabeça. –Seja lá o que tiver acontecendo, eles não vão deixar ninguém sair daqui de dentro. – Ela diz enquanto tira o jaleco apressada e joga por cima de um cadáver que está preparado para a necropsia em cima da maca de ferro fria como gelo.
–Não podemos ir! Eles podem precisar da nossa ajuda, não sabemos o que é.- Madson entra na frente da porta de duas folhas verdes do necrotério impedindo a passagem de Tahisse.
–Mad, nós vamos voltar! A emergência vai voltar a funcionar e nós vamos voltar, ok? Mas a ala de infecção e todos que tiveram contato com isso... bem, ainda não sei o que vai acontecer. –
Tahisse respira fundo. -Nós só precisamos não ter estado aqui hoje, não fomos parte disso e não vamos ser estudadas como duas ratas de laboratório! Ou você quer passar por isso? Porque o governo não pensaria duas vezes em “eliminar” qualquer ameaça, mesmo que insignificante, e eu posso te garantir que ninguém ficaria sabendo de nada.
–Tem razão- Madson desvia o olhar para o braço de Tahisse e abre a porta.
–Droga, filho da puta doente! - Diz Tahisse limpando a mordida que levou no braço.
–Nossa, isso está feio- Madson pega ataduras e álcool. –Vai doer, você sabe né- Ela ri enquanto joga álcool sobre as suas mãos.
–DROGA! - Tahisse grita dando um soco na maca que está sentada quando Madson despeja o álcool em cima da mordida.
–Vamos- Madson abre a porta.
Elas passam por um corredor longo até chegarem a saída. O movimento é bem grande na frente do hospital, emissoras de TV, muitas pessoas, carros de polícia, Helicópteros sobrevoam o hospital e elas quase são vistas. Tahisse puxa Madson para a parede e elas ficam ali encostadas fora do campo de visão. A tropa de choque chega. –Eles estão tentando sair- Madson olha por cima da caçamba de lixo hospitalar.
*-Vocês precisam se acalmar! Vocês não podem sair! Todas as medidas possíveis para acabar logo com isso já estão sendo tomadas-* Diz a voz no microfone.
-Temos que sair daqui Mad, agora!
Elas saem pela lateral e pulam a cerca para o parque municipal. –Me liga assim que chegar em casa.
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Noah está encostado na parede da sala, algumas mechas curtas de seu cabelo castanho escuro descem pela touca preta. -Qual é Mad, atende! – Ele diz tentando mais uma vez sem sucesso ligar para Madson.
*TV –Eu só quero falar com o meu filho! Por favor, meu filho está lá dentro! - Diz a mulher em desespero para a repórter em frente ao hospital de Nevada. *
Noah tira o celular do ouvido. -Droga Anna, desliga isso- Ele diz tentando mais uma vez ligar para ela. Madson abre a porta da sala e entra -Meu Deus, você está bem? - Ele Pergunta colocando o celular em cima da mesa.
–Eu vou ficar depois de um bom banho. – Madson pega o celular *Tah, cheguei*. Ela manda a mensagem para Tahisse.
Ele vai atrás dela. –O que aconteceu? Está passando em todos os jornais. Como você saiu de lá?
Madson para no primeiro degrau da escada e desvia o olhar para Noah. Seus cabelos lisos e loiros descem pelo seu rosto abatido até tocar os ombros. -Noah, eu preciso mesmo de um banho. Depois nós conversamos, ok? - Ela começa a subir as escadas digitando no celular. *Tahisse? Já chegou? *
Ela anda em direção no banheiro no fim do corredor. Ela entra, tranca a porta e para em frente ao espelho. –Está tudo bem! - Ela diz para si mesma. Madson joga um pouco de água no rosto e repete. –Está tudo bem- Ela diz agora com um tom um pouco mais confiante, tentando acreditar em si mesma. Ela pega o celular e escolhe uma música para por enquanto toma banho. A música começa a rolar preenchendo levemente todo o banheiro *Can't keep my hands to myself...*. Ela abre as torneiras da banheira e tira as alças do sutiã preto deixando-as penduradas ao lado dos seios fartos cobertos pela renda preta do sutiã. Madson olha em volta e pega um elástico de tecido em cima de uma das prateleiras e prende os cabelos loiros de um jeito que não molhe. Ela abre o fecho traseiro do seu sutiã deixando os seios brancos de bicos rosados expostos. A som da notificação a faz olhar para o celular. *Cheguei, desculpa a demora para responder, estava um nojo* Ela visualiza a mensagem na tela de bloqueio do celular. A música continua rolando. *All of the doubts and the outbursts, Keep making love to each other, And I'm trying, trying, I'm trying, trying*. Ela relaxa na banheira como alguém relaxa na cama de casa após um dia estressante. Ela tenta não pensar em nada que aconteceu dentro do hospital, ela só quer esquecer, quer voltar a vida normal que ela tinha, voltar ao hospital e estar tudo bem.
Ela cochila e acorda na banheira suja de sangue, as luzes estão vermelhas -Você não tem como sair daqui agora! - Diz Teddy.
Os médicos do CCD se aproximam dela, ela está preza na banheira, não consegue sair, eles estão mais perto. O barulho da respiração deles passando pelo filtro da máscara é tão alto. -Não tem como sair- Diz Jonny parado do outro lado do banheiro com o pescoço sangrando. Ela está paralisada, não consegue falar, gritar, ela só chora e se contorce tentando se soltar.
-Mad? - Diz o médico do CCD batendo três vezes na parede de azulejos sujos de sangue. –Mad, está tudo bem aí? - Ele bate mais forte dessa vez. –MAD! - Ela desperta na banheira com Noah batendo na porta. Ela leva as mãos a boca e respira fundo.
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-Como assim sem previsão? – Oliver grita no guichê do aeroporto.
–Infelizmente é só isso que eu tenho a dizer. Não nos foi passado nada além disso. – Diz a caixa.
–Vocês vão arcar com as minhas despesas então? - Grita um homem lá do fundo.
–Vão ter que arcar né. – Diz uma mulher segurando um bebê.
Todos começam a falar juntos, todos com raiva. Um homem começa a falar nos autofalantes do aeroporto. –Boa noite, venho pedir desculpa pelo transtorno e dar as devidas informações que recebemos. Nós não arcaremos com nenhuma despesa pessoal como comida, hotel ou outras despesas, o aeroporto vai ficar aberto e todos são bem-vindos a ficar o tempo que precisar ou até as coisas se normalizarem. Toda a linha aérea está suspensa até a segunda ordem. Não é nossa culpa, não é ordem nossa, essa ordem veio do governo! Todas as linhas de conexão de todo o continente Americano estão fechadas temporariamente. Obrigado pela compreensão.
–Meu Deus- Diz uma senhora de aparentemente sessenta e cinco anos.
–Estamos presos aqui então? - Pergunta uma mulher ruiva vestida com roupas sociais.
–Parece que não é só aqui que isso está acontecendo. – Diz um homem também vestido com roupas sociais.
–Eles podem fazer isso? – Pergunta Oliver.
–Dependendo da situação, sim. – Responde a mulher ruiva.
–É um plano de contingência- Diz uma aeromoça pegando um pouco de café no balcão de madeira espelhado.
–Você sabe o que está acontecendo? – Oliver pergunta enquanto se aproxima da mulher de saltos azuis combinando com a gravata e o chapéu.
Ela desvia o olhar para Oliver. –Meu avião teve que pousar aqui faz quase sete horas, toda linha aérea foi interrompida.
-Meu nome é Oliver- Ele diz pegando um pouco de café também.
Ela se encosta no balcão e dá um gole no café morno. –Droga, odeio café frio- Ela respira fundo. –Meu nome é Tara.
-Eu sou Alisson e esse é meu namorado Clark. –Diz a mulher ruiva de vinte e seis anos.
–A coisa ficou feia na Europa. Eles não estão transmitindo nada na TV para não causar pânico. Os hospitais não estão dando conta de tanta gente doente. – Tara diz adoçando o café.
Oliver pega um pouco do café que acaba assim que ele aperta o botão duas vezes. –O que está acontecendo na Europa?
–O mesmo que está acontecendo no mundo inteiro! - Tara responde.
–Febre vermelha- Alisson responde lendo uma matéria no celular.
Oliver desvia o olhar para Alisson. –Como eles podem esconder uma coisa dessas? Não faz muito tempo que eles falaram que eram só casos isolados, sem risco nenhum.- Oliver joga o copo de café no lixo.
Tara respira fundo e apoia o cotovelo no balcão. –É normal eles não divulgarem algo que eles não intendam ainda, só criaria pânico e pioraria as coisas. Esse plano de contingencia é justamente para impedir que as coisas piorem.
–E a vacina? Todos tomaram, certo? – Alisson pergunta guardando o celular no bolso.
Tara desvia o olhar para Alisson que a encara segurando uma bolsa vermelha. -A vacina é o problema todo! A febre vermelha mata muito rápido, em horas, a vacina estende esse prazo em dias, mas além deles não conseguirem tratar nem com esse prazo mais alto, a vacina está causando um efeito colateral.
–As pessoas que morrem voltam- Alisson diz rindo. –Gente, é só um boato, por favor, tem coisas que realmente não dá para acreditar. – Alisson vai até o balcão e apoia a bolsa.
–E se for verdade? - Oliver pergunta aparentemente preocupado.
Clarck desabotoa o paletó preto. –As vacinas passam por diversos testes antes de vir para o mercado. Uma coisa dessas nunca seria liberada.
–Aí que está- Tara olha para o rapaz. -Eles erraram, e erraram feio. A vacina foi feita na Ásia assim que descobriram a doença, ela não foi “testada” como as outras porque eles não tinham tempo para isso, ela foi uma medida de emergência de um governo desesperado. Eles distribuíram a vacina e deu certo, mas começaram outros focos da doença pelo mundo. Os governos de outros países compraram e distribuíram a vacina e assim foi indo. A febre vermelha recuou porque as pessoas estão demorando mais para morrer, mas as pessoas ainda estão morrendo, morrendo e voltando.
–Ok! - Alisson corta o assunto. -Seja lá o que estiver acontecendo, está lá, não aqui.
–Vocês têm onde ficar? - Tara pergunta se abaixando para tirar os saltos.
–Estou com a minha esposa em um café de uma amiga, não conseguimos um hotel.
–Não! Estamos aqui no aeroporto mesmo. - Alisson responde olhando para Clarck.
Tara levanta e ajeita os cabelos curtos. –Estou em um hotel aqui perto. O aeroporto disponibilizou para as equipes de bordo, estou com uma colega de trabalho lá. Está sobrando uma cama, com certeza é melhor que o chão do aeroporto.
–Muito obrigada, não sei como agradecer- Alisson sorri.
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-Charlle? – Lenna chama enquanto tira o casaco na porta da sala.
-Esfriou bastante! –Karen diz enquanto também tira o casaco e pendura no armário ao lado da porta.
Lenna vai até a lareira e põe mais uma peça de madeira para queimar. –É sempre assim, está fresco de dia e do nada a temperatura despenca, mês que vem as coisas começam a voltar ao normal. - Ela respira fundo e abre a porta da varanda. –Me ajuda a pôr as coisas para dentro? - Lenna pergunta enquanto abre a porta que liga a cozinha a varanda lateral do café.
–Claro.
Elas conversam sobre coisas aleatórias enquanto guardam as mesas e as cadeiras acolchoadas. O tempo virou muito rápido, pode ser uma tempestade das feias. Oliver chega no café acompanhado por Alisson, Clarck e Tara. –Nossa, está um gelo lá fora- Diz Oliver enquanto dá um beijo rápido em Karen. Ela encara os visitantes desconfortável pelo marido ter levado visitas a uma casa que não é deles. –Desculpa, pensei que o café fosse estar aberto- Diz Oliver.
Lenna vai até eles segurando uma das cadeiras. O vento entra forte pela porta arremessando poucos flocos de neve para a cozinha. –Não tem o porquê se desculpar. Esqueci de avisar que o café não abriria hoje.
Alisson desvia o olhar para Clarck que abaixa a cabeça um pouco sem graça. –Não queremos atrapalhar, o hotel é aqui perto, vamos indo para não pegarmos a tempestade.
–Que isso! - Lenna acende as luzes do balcão. -De jeito nenhum! Ninguém sai daqui sem um café bem forte e quente. - Ela ri.
–Agora sim o meu dia vai ter algum sentido, o café do aeroporto estava péssimo. - Diz Tara indo em direção a Karen e Lenna. –Eu sou Tara- Ela diz.
-Karen! Essa é Lenna. - Karen responde apertando a Mão de Tara.
–Aqueles são Alisson e Clarck. - Tara diz apontando para o casal. Eles se cumprimentam de longe, parecem ser boas pessoas. –Posso fumar aqui? – Tara pergunta indo em direção a varanda lateral do café com porta de vidro, iluminação baixa e amarela.
–Claro, fique à vontade! – Lenna responde.
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-Está tudo bem Karen! – Madson diz no telefone sentada por cima das pernas na poltrona bege.
–Preciso que fique com os meninos durante um tempo, não estamos conseguindo voltar para casa. –
Madson estala o pescoço. -O que houve? Está tudo bem com vocês?
A voz de Karen sai um pouco picotada pela interferência. –Os aeroportos fecharam para tentar conter o surto, devem voltar ao normal logo.
Madson fica muda por um momento, as coisas começam a se encaixar agora, o hospital, os aeroportos. –Eles estão perdendo o controle- Diz Madson sem perceber que estava falando com Karen.
–Quem está perdendo o controle?
–Ninguém! Tenho que desligar, eu peço para o Noah te ligar amanhã antes da aula.
–Está tudo bem mesmo, Mad?
–Sim! Tenho que ir- O som de ligação finalizada preenche o ouvido de Karen. Ela fica parada segurando o telefone por um tempo.
Oliver se aproxima por trás de Karen. –Tudo bem com as crianças?
–Sim- Ela responde ainda segurando o telefone. -Tudo bem.
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Madson está sentada na poltrona ainda segurando o telefone e escutando ao fundo o som de linha livre.
Noah se senta ao lado de Madson –Está tudo bem?
Ela abaixa as pernas para dar espaço a ele. –Era sua mãe- diz Madson colocando o telefone no gancho. Ela deita nas pernas dele procurando o mínimo de conforto e segurança em meio a tantos pensamentos ruins. Ele acaricia seus cabelos loiros com a suavidade em que uma folha cai ao chão. Eles ficam ali parados alheios aos pensamentos um do outro.
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-Não vou Mad! Estou péssima- Tahisse responde enquanto tira a chaleira que estava apitando do fogo.
–Está tudo bem? – Madson pergunta batendo a porta do carro.
–Estou morrendo de dor de cabeça e estou queimando em febre, vou tomar um café e vou deitar um pouco. – A voz de Tahisse sai fraca e com alguns chiados pelo celular de Madson.
-Quer que eu vá aí?
–De jeito nenhum! Não precisa, se eu não melhorar, vou ao hospital amanhã. – Diz Tahisse adoçando o café.
Madson entra no carro e põe o cinto de segurança. –Tudo bem, qualquer coisa me liga!
Tahisse põe as duas mãos em cima do balcão central da cozinha branca e apoia o peso do corpo. Ela pisca para tentar afastar a visão turva e encara a mordida no seu braço que começa a ficar com uma aparência pior. –Droga, não vai parar de sangrar nunca? – Ela enrola um pano em volta do braço mordido. Tahisse está vestida com uma blusa larga e uma calcinha preta que fica escondida pela blusa que desce até metade de sua coxa, está chovendo e o tempo está fresco, ela ama o tempo assim.
Tahisse sobe as escadas até o seu quarto com a xícara de café nas mãos. No final do quarto ao lado da cama de casal desarrumada com roupas de cama brancas, fica a porta para a varanda, certamente é a parte da casa que ela mais gosta. Uma varanda aconchegante com vista para o lago, poltronas confortáveis, chão de madeira e parapeito de vidro com os ferros de divisão pretos. Por todo o teto de vidro da varanda ficam penduradas cúpulas preenchidas com velas, ela geralmente as acende a noite e fica sentada olhando as estrelas tomando um bom vinho. Ela senta na poltrona segurando a xícara de café com as duas mãos, ela cruza as pernas e encosta a cabeça na poltrona fechando os olhos enquanto sente a brisa da manhã preencher a varanda balançando as cúpulas de vidro.
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Karen acorda no dia seguinte com o cheiro de café entrando no seu quarto. A claridade vai entrando aos poucos através da cortina cor de palha. Ela senta na cama onde Oliver ainda dorme sem camisa com o lençol cobrindo metade do seu corpo, ela mexe nos cabelos cacheados e vai até o banheiro lavar o rosto.
...
–Bom dia- Lenna diz vendo Karen descer as escadas. O café está aberto com poucos clientes, um senhor lendo jornal em uma mesa na lateral e duas adolescentes tomando cappuccino no balcão grande de madeira rustica. Ela serve o café em uma xícara que ela pôs no balcão para Karen.
–Obrigada- Karen agradece apoiando o cotovelo no balcão descendo a cabeça sobre a mão.
–Toma, esses são ótimos- Lenna põe dois comprimidos para dor de cabeça ao lado da xícara.
–Tenho que respeitar mais os limites do meu corpo- Karen remove os dois comprimidos da cartela. Lenna ri.
Dhavilla senta ao lado de Karen. –Parece que alguém bebeu demais ontem. - Elas riem juntas
–Por favor não me faça rir Dhavilla- Karen toma os remédios.
–Desculpa querida- Dhavilla ri despejando o café em sua xícara.
*TV- Suspender os transportes públicos por precaução é arriscado, mas é necessário! *
Karen se debruça sobre o balcão e olha para a televisão. -Lenna, pode aumentar por favor?
Lenna aumenta a TV presa a parede de canto.
*É uma situação muito delicada, um passo em falso e podemos expor toda a nossa nação a isso*
Oliver desce as escadas e vai em direção ao balcão. –Bom dia- Ele se senta ao lado de Karen. *TV- O governo já investiu um total de trinta e oito bilhões de dólares em recursos, pesquisas e prevenção. Temos o Texas como exemplo em combate ao surto, eles reduziram a carga horaria de trabalho, suspenderam os transportes públicos, intimaram todos os funcionários da saúde afastados ou de férias a voltar ao trabalho e voluntariou cerca de dez mil pessoas para trabalhar nos hospitais e unidades de pronto atendimento* Eles continuam vendo as notícias que começam a tomar conta dos noticiários em todos os canais.
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-Mais da metade dos alunos não vieram a aula sra. Collins. Estamos com cento e trinta e seis alunos em salas- Diz Thomaz, psicólogo e secretário da Rancho High School, escola de ensino médio onde Noah estuda.
–Cento e trinta e seis de mil e duzentos e trinta e três alunos matriculados. Não sei mais o que fazer Thom, já faz uma semana que estamos em queda de presença. A maioria dos alunos estão doentes ou os pais não os deixam vir por medo, não os culpo, se eu tivesse filhos eles também não sairiam de casa. – Ela responde olhando os relatórios em cima da mesa de madeira rústica.
Thomas abre uma das garrafas de whisky. -O que pretende fazer? - Ele serve uma dose de whisky a caubói na mesa dela.
Ela pega o copo -Obrigada Thom- Ele pisca para ela. Eles trabalham juntos há mais de vinte anos. Além de ótimos colegas de trabalho são ótimos amigos. –Mandem juntar as turmas e dispense os restantes dos professores. - Ela toma de uma só vez todo o whisky e levanta o copo em direção a ele.
–Vá com calma Beth, ainda é diretora da escola- Ele diz pegando o copo e servindo mais uma dose.
Ela o encara. –Não me repreenda Thom! Essa é minha função, esqueceu? - Ela diz rindo enquanto pega o copo pesado de vidro retorcido.
...
-Ai meu Deus! Eles estão comendo ela viva? – Carol pergunta levando as mãos até a boca vendo um vídeo no celular de Ashley. O vídeo mostra uma mulher de mais ou menos trinta anos sendo devorada por usuário de drogas em um dos pontos de vendas de Crack na índia. A câmera de segurança de uma loja mostra quando ela estava passando e foi atacada por umas seis pessoas. –Isso é loucura- Ela diz se sentando rápido junto com os outros alunos.
Thomas entra na sala de aula. –Vocês podem ir para a sala A05
Os alunos começam a arrumar as coisas para mudar de sala, tirando cadernos e livros de cima das mesas de madeira escura. –Vamos Ashley! –Uma mulher diz entrando apressada na sala de aula, todos param e a olham.
Thomas desvia o olhar para a mulher assustada. –Está tudo bem senhora?
Ela pega a mochila jeans com pingentes e nomes escritos com canetas fluorescentes da filha. -Vim buscar a minha filha- Ela está apressada, não quer dar satisfações.
Ashley a encara sem entender a situação. –Mãe? Vamos ter aula- Ela diz ainda de pé ao lado de sua mesa.
–Pode me obedecer pelo menos dessa vez sem me questionar? Nós vamos agora!
Thomas vai até ela. -O que a senhora está fazendo? Ela vai entrar em semana de prova-
Alicia para em frente a porta antes de sair e responde. –Você só pode estar brincando. Tem noção do que está acontecendo aqui? Eu vou sair do estado e sugiro que faça o mesmo!
–Mãe, você está me assustando! – Ashley diz parada do outro lado da porta.
–Vai ficar tudo bem, vamos para a casa dos seus avós em Boston- Ela escuta enquanto é puxada pelo braço. Os alunos ficam assustados mas observam ela ser tirada da sala pela mãe, todos ficam quietos. O clima é de tensão e dúvidas, medo.
Ashley se despede de todos e em seguida deixa a escola junto com sua mãe em um taxi.
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*The deads walk* (Os mortos caminham). Essa frase estampa a capa dos jornais na banca por onde Madson passa para chegar ao metrô. A frase seguida da foto de um homem cambaleando por um parque na Califórnia foi destaque da semana em todos os jornais, revistas e sites.
The
Deads Walk
- Precisamos voltar!
- Não... acabou! Você precisa se acalmar, vai acabar nos matando!
- Qual é o seu problema? Eles são nossos amigos! Temos que voltar... por favor, me escuta, para o carro!
Eu mal conseguia ver as arvores passando pela janela do Jeep Renegade branco, o vento estava tão forte que mal dava para ouvir eles discutindo nos bancos da frente, nunca tinha visto eles tão nervosos e apreensivos. O vento gelado da noite de sábado corria pela janela quebrada da porta da frente e saía pelo porta-malas que já estava sem porta, o vento era tão forte que não conseguia respirar direito. Eu conseguia ver os clarões fortes pelo espelho retrovisor.
Eram 4:06 am quando as sirenes começaram a tocar e eles entraram sujos de sangue no carro. Eu não entendi muito bem o que aconteceu, mas as pessoas estavam loucas, choravam e gritavam por todos os lados O lugar estava em chamas, as madeiras caíam, as arvores queimavam. –Meu Deus.
Antes...
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– Você lembra de tudo, certo? – Karen calça os saltos sentada na poltrona vermelha da sala.
-Karen, não é a primeira vez que vou ficar com eles... sim eu me lembro- Madson ri deixando a bolsa em cima da mesa.
Oliver termina de dar o nó na gravata –É claro que ela lembra, vamos perder a reserva. Temos que ir- Oliver vai até Anna e a pega no colo com um abraço forte. -Princesa, respeita o seu irmão- Ele desvia o olhar para Noah. -Noah, qualquer coisa me liga, a Madson vai dormir aqui por uns dias, voltamos em uma semana.
Madson é a filha da Sra. Anderson, ela sempre fica com os filhos de Karen e Oliver quando eles saem. Noah tem dezesseis anos e Anna tem dez. Madson acabou de fazer dezoito anos e frequenta a casa deles desde pequena com a sua mãe, Wanda.
*O Notebook apita por falta de bateria*.
- Droga, espera aí, vai descarregar aqui – Noah se levanta da cama e pega o carregador no chão.
- Estudou para a prova amanhã? Eu estou muito ferrada, se eu reprovar... adeus carro. – Carol joga os cabelos ruivos para trás.
Noah a observa prender os cabelos pela webcam– Podíamos estudar um pouco hoje... meus pais saíram e a Madson nunca vem no meu quarto.
Carol ajeita a tela do notebook e ri enquanto responde - Estudar? Eu conheço isso por outro nome, Noah. Deixa a janela aberta. (Ligação do Skype desligada)
...
-Eu não estou com fome – Anna empurra o prato na mesa.
-Por favor Anna, eu estou cansada, colabora. - Ela diz empurrando o prato de volta para a menina.
Anna encara a mistura estranha e nojenta no prato raso. –Você está sentindo o cheiro disso? – Ela diz virando o rosto.
Madson vai até ela segurando um copo d’água. –Ok... depois de quase vinte horas de trabalho, isso era tudo o que eu estava precisando. - Ela dá um gole na água e põe um comprimido para dor de cabeça na boca.
Anna abaixa a cabeça e depois a encara. –Desculpa... é porque eu não gosto de brócolis- Ela diz um pouco sem graça.
Madson sorri para ela. –Eu também não.
Noah desce as escadas e entra na cozinha americana, ele está descalço, bermuda jeans e touca preta –Brócolis? - Ele ri.
Madson desvia o olhar para o garoto sem camisa. –Muito obrigada Noah, está me ajudando muito.
Ele vai até a geladeira e pega uma garrafa de leite. Ele dá um gole direto da garrafa e a coloca em cima do balcão -Vou pedir pizza- Ele diz tirando o telefone preto do gancho.
Madson pega o prato da mesa - mais fácil para mim- Ela diz abrindo a torneira. *TV- Eu sou Sasha Rodriguez e estou aqui em Las Vegas. O trânsito está totalmente parado por conta de um engavetamento na 592 sentido ao Bellagio. É uma péssima hora para sair de casa! O engarrafamento está na faixa dos 22km e pode dobrar segundo a guarda de transito regional. As autoridades desconfiam que o motorista da carreta que carregava vinte toneladas de madeira bruta pegou no sono... (A TV é desligada)
-Ei- Anna tenta pegar o controle remoto de volta.
Madson levanta o controle- Ouviu sua mãe, nada de TV até tarde.
Anna se vira e encara o relógio -mas ainda são nove da noite– Ela diz se virando para Madson
Noah põe o telefone de volta no gancho e volta as escadas –Anna, você dorme as dez todo dia– Ele ri subindo para o quarto.
Anna se levanta e vai até ele. –Eu sei, mas eles não estão em casa- Ela o encara. –Não precisamos fazer tudo como antes.
Madson vai até eles segurando sua bolsa. –Na verdade vocês precisam sim! Não dificultem as coisas para mim, estou fazendo um favor- Ela sobe as escadas.
-O que ela tem? - Anna pergunta baixo.
Noah observa Madson subir as escadas. –Ela cresceu Anna, não é mais a menina que brincava aqui em casa... respeite ela como adulta- Ele beija sua testa. –Vai tomar banho, quando a pizza chegar eu te chamo.
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No aeroporto...
-Dezessete horas em uma parada? Parabéns! Eu compro as passagens da próxima vez. – Karen se afasta do balcão arrastando a mala azul com raiva pelo aeroporto.
Oliver a alcança. - Nem é tanto tempo assim, podemos conversar, dar uma volta na cidade. – Ele diz parando na porta automática que dá para a rua principal.
Karen observa as ruas e em seguida se vira para Oliver -Que cidade Oliver? Essas três casas e uma igreja do lado de fora? Nem sei porque isso aqui tem um aeroporto.
Oliver pega as malas da mão dela. - É histórica, é até jeitosinha, qual é amor... tenta pelo menos- Ele diz dando um beijo curto nela.
Além da parada das dezessete horas de transferência de um voo para outro foi anunciado um atraso, as pistas foram fechadas por causa da nevasca forte de doze de dezembro. Halavan é uma pequena cidade colonizada pelos espanhóis depois da primeira guerra mundial. Não é muito grande, mas tem um enorme peso histórico. Localizada na costa do Alasca fronteira com o Canadá, é um dos pontos preferidos dos apaixonados por história. Com especiarias marcantes como o vinho e o café, atraem diversos turistas no inverno. Uma cidade que tem pelo menos um café e um bar em cada quadra é o local perfeito para admirar a paisagem das montanhas sempre cobertas por neve. A decoração natalina é fascinante.
A praça da igreja está lotada por conta das apresentações dos corais.
...
-Moedas para um cego por favor – Poucos olhavam para o senhor de aparentemente oitenta anos sentado na calçada, enrolado em um cobertor marrom manchado de vinho segurando uma caneca com umas sete moedas. Os olhos cobertos por cataratas e ossos marcando a pele do rosto chamam a atenção de Karen.
Karen pega uma nota de 10US$ e é interrompida por uma senhora. –É para a bebida! Ele não tem jeito- Diz a senhora de bochechas coradas pelo frio, pele branca e cabelos loiros claro. –Eu sou Dhavilla- Ela diz estendendo a mão a Karen.
Karen a cumprimenta -Eu sou Karen e esse é meu marido, Oliver. - Eles apertam as mãos enquanto acompanham Dhavilla pela calçada quase cheia de pessoas.
– É sempre cheio aqui essa época do ano- Dhavilla se esquiva de uma criança correndo com outros amigos. -Cuidado meninos- Ela diz encarando o palco na praça
Karen desvia de uma barraca de pipocas– São seus netos?
– São hospedes em meu hotel, estão com o colégio Mc Collengin, eles vêm todo ano. – Ela responde ainda encarando o palco. O vento gelado carrega poucos flocos de neve que se prendem nos cabelos cacheados de Karen.
Oliver segura a mão da sua mulher - Ótimo, ela tem um hotel. – Ele diz desviando o olhar para a senhora simpática. -Estávamos procurando uma pousada ou hotel, estão todos esgotados, nosso voo foi cancelado, pode nos ajudar?
Dhavilla se vira para o casal e os encara -Infelizmente eu estou lotada também, mas conheço alguém que pode ajudar vocês!
...
Dhavilla bate na porta de um café charmoso de portas altas e decoração rústica com pedras e madeiras brutas. – Oi querida, sua mãe está aí?
Charlle abre a porta e encara os visitantes -Oi Sra. Delavega. Vou chamar, entrem, está um gelo aí fora! –Todos agradecem a menina simpática e carismática, bonita e na faixa dos quatorze anos. Charlle sempre foi querida por seus vizinhos, trabalha no café da família e faz curso em uma livraria no centro da cidade. - Vou ser bibliotecária – Diz a menina segurando uma bandeja com xicaras e açúcar em cubos.
Karen observa a construção toda detalhada em madeira. -Ótimo, é uma bela profissão. –Karen encara a grande lareira.
–Ela sempre foi uma boa garota, vai se sair muito bem. - Diz Dhavilla servindo o café aos visitantes. O cheiro do café recém moído se sobressai por toda a sala.
Oliver dá um gole no café e fecha os olhos, ele se levanta e vai em direção aos livros na parede ao lado da lareira -Você tem uma coleção e tanto aqui- Ele diz olhando as prateleiras repletas de livros como Romeu e Julieta e a história do Holocausto.
Charlle para ao lado do homem de calça social preta e blusa azul -Obrigada, são livros ótimos- Ela vai até a lareira e põe mais duas peças de madeira. -Minha mãe está terminando de lavar a louça, já está vindo. Querem comer alguma coisa? – Ela pergunta limpando as mãos.
Karen dá um gole no café quente -Não, muito obrigada, comemos no aeroporto.
-Mil desculpas- Diz Lenna entrando apreçada e com as mãos molhadas na sala.
Karen se levanta e sorri para a mulher -Não precisa se desculpar. Obrigada por nos receber, não achamos lugar para passar a noite.
–É difícil conseguir um hotel aqui em alta temporada- Lenna dá um abraço em Dhavilla e em seguida vai até Karen. –Bom, não chega a ser um quarto de hotel. - Ela ri e em seguida prende os cabelos. - Mas vocês vão gostar.
Dhavilla se senta próximo a lareira e sopra a xícara de café. –As festas de fim de ano daqui são bem conhecidas. Eu particularmente não gosto de tumulto, mas não posso reclamar, os tumultos mantem meu hotel aberto em baixa temporada.
Lenna se senta no sofá de dois lugares com Charlle, ela pega a chaleira e despeja a água quente em sua xícara. –A cidade morre no final de janeiro, gosto dos turistas, são simpáticos e animam a cidade- Ela põe um sachê de chá na xícara com a água quente ainda soltando fumaça.
Karen sorri e a encara, seus olhos verdes e alegres são contagiantes. –Sinto falta desse clima mais sossegado, Nevada é sempre acordada, movimentada e barulhenta, amo morar lá, mas as vezes eu trocaria de lugar com vocês. - Ela ri.
Dhavilla desvia o olhar para a lareira robusta e ri. –Você se mataria na mesma semana.
Lenna se levanta e vai até o balcão onde Oliver recolhe as xícaras. –Acho que em uns três dias talvez. – Todos riem juntos. A conversa está tão boa que as horas passam em minutos. Karen já esqueceu praticamente todo o estresse do aeroporto. Dhavilla é uma senhora muito bem-humorada e cheia de histórias para contar, Lenna é jovem, bonita como a filha, carismática e inteligente. O café Dorivan está na família há seis gerações, um dos mais tradicionais cafés de Halavan. Mãe solteira e irmã mais nova de três irmãos, Lenna é admirada por muitos, pelo seu belo corpo e cabelos ruivos naturais, a cidade toda a trata como uma irmã. Dhavilla era a melhor amiga da mãe de Lenna que infelizmente faleceu ainda nova, ela tinha vinte e oito anos quando morreu no parto de Lenna. –Ela escolheu me dar a vida- Diz Lenna com os olhos cheios d’água, as bochechas ficaram vermelhas com a emoção das palavras.
–Eu sinto muito- Diz Karen impressionada com a história.
–Ela morreu feliz, escolheu você- Dhavilla diz dando mais um gole no café.
O clima fica um pouco pesado por uns segundos por conta da emoção de Lenna, mas volta ao normal logo em seguida com Dhavilla contando como foi a história do seu hotel.
...
Eles já estão no quarto que Lenna os emprestou para passar a noite. *TV- Ainda não sabemos o que é ou de onde veio, já estamos estudando a situação.
-Mas as pessoas devem se preocupar? - A jornalista pergunta sentada ao lado do homem de jaleco.
-Claro que não, o governo está tomando todas as providencias, foram apenas casos isolados que já foram contidos, não é uma ameaça ou algo do tipo- Ele dá um gole na água e volta a olhar para a câmera.
-Tem alguma coisa para dizer para as pessoas que estão nos assistindo? Acredito que muitos estejam apavorados, a final, as notícias não são agradáveis- Ela dá uma pausa e também dá um gole na água.
Ele passa a mão na barba rala e desvia o olhar para a mulher que continua olhando para a câmera. -Não acreditem em boatos, as pessoas se divertem criando pânico. Está tudo sob controle, a segurança e bem-estar de vocês são nossa prioridade!
Ela desvia o olhar para o homem e volta a encarar a câmera. -Obrigada pelo esclarecimento, tenho certeza que todos vão ficar mais aliviados agora- A câmera dá zoom na repórter que cruza as pernas, somente ela aparece agora. –Vocês ouviram, não tem motivos para preocupação. Julie agora é com você. *
A notícia passa despercebida por eles e pela maioria das pessoas, o pânico criado por alguns vídeos e notícias em websites foi de fato controlado com o decorrer dos dias. A maioria das pessoas nem sabiam do tal surto de uma doença agressiva no norte da Ásia, a final, foi contido.
...
Oliver se levanta e vai até a janela. Os feixes de luz do sol invadem o quarto rústico destacando partículas de poeira no ar. Oliver veste uma cueca branca box, ele para na janela e a abre.
Karen Abre os olhos e os esconde da luz. - Bom dia! Vai no aeroporto agora? - A voz dela sai fraca e rouca pelo sono.
–Vou sim- Ele vai até ela e a beija na testa. -Não pretendo demorar. Vai descer comigo para tomar café? – Ele pergunta indo até o banheiro.
Karen se levanta e observa seu marido de pé em frente ao vaso, suas costas largas e definidas moldam o corpo alto. - Vou tomar banho primeiro, pode ir na frente. - Ela vai até ele e o abraça por trás
–Ok, te amo.
Oliver vai tentar trocas as passagens para algum voo no mesmo dia ou o mais rápido o possível, mas vai demorar horas só para ele ser atendido, o aeroporto está um caos, lotado, todos tentando remarcar as passagens.
*Alguém bate na porta do quarto do casal. * -Só um minuto- Karen grita do banheiro se enrolando na toalha. Ela abre a porta com os cabelos pingando.
-Bom dia! Está afim de dar uma volta pela cidade? Eu trouxe café. – Lenna segura um bule cheio e dois copos térmicos.
-Vou ficar mal-acostumada- Diz Karen abrindo a porta pra Lenna entrar.
Lenna vai até a janela e observa a neve tímida da manhã do dia treze caindo. -Charlle está na biblioteca, o café não abre hoje e o dia está lindo- Ela ri e volta a olhar para Karen.
–Não tenho como recusar um pedido desses- Karen ri penteando os cabelos negros e cacheados. -Vou por uma roupa e vamos.
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Nevada...
O sol passa pelas brechas da persiana destacando a poeira no ar do quarto típico de um garoto de dezesseis anos, com pôsteres de filmes, tacos e luvas de basebol. Carol abre os olhos e encara o relógio em cima na cômoda de Noah. –Droga- Ela segura o lençol branco por cima dos seios e vai apressada em direção as suas roupas deixando sua calcinha preta à mostra. Noah observa enquanto ela veste a camiseta virada de costas para ele. –Estou ferrada, de verdade- Ela continua se vestindo apressada
Noah se senta na cama de solteiro -Peguei no sono, calma. - Ele diz se levantando.
Carol o observa de pé de costas para ela, ele pega a cueca box cinza em cima da mesa do computador e começa a vestir. –Meus pais vão me matar! - Ela diz prendendo os cabelos
Ele veste a cueca e vai em direção a Carol. -Eles não devem ter acordado ainda, vai ficar tudo bem! Relaxa.
Ela o beija e cola a testa na testa dele. Seus cabelos ruivos descem bagunçados pelos seus ombros magros e brancos. –Eu te ligo, tenho que ir- Noah abre a janela do quarto e a ajuda a descer, o sol tinha acabado de subir, estavam todos dormindo ainda, menos o sr. Wilson, ele sempre botava o lixo para fora essa hora.
-Os pais dela não são idiotas, você sabe né? - Madson não consegue segurar a vontade de rir.
Ele vai até a porta segurando a bermuda cargo azul. -O que você está fazendo aqui?
Madson desencosta os ombros da porta e entra no quarto. -Peguei no sono na sala ontem, vim te chamar para tomar café. Não vou ser a única pessoa acordada. - Ela vai até a janela e encara Carol correndo no fim da rua. -Vocês não são novos para transar não? Jesus, com a sua idade eu ainda brincava de bonecas.
-Sério Mad? - Ele veste a bermuda e pega uma camisa branca no armário. –Quando anos acha que eu tenho? Treze? - Ele ri e vai até o computador.
Ela se joga na cama -Ah, qual é, me conta, estão mesmo transando?
Ele se joga na cama também e ri. –Qual é Mad- Ele respira fundo. –Talvez- Ele ri.
Madson se levanta e vai até a porta. -Pensei que você fosse morrer virgem.
–Do que estão rindo? -Anna pergunta parando na porta coçando os olhos de sono ainda. Madson a encara. -Coisa de gente grande mocinha curiosa! Vem, vou preparar seu cereal, e o seu irmão... ele vai tomar um bom banho, fez muito calor nesse quarto ontem, deve ter soado a noite inteira.- Ela ri alto e pisca para ele.
-Muito engraçada você.- Ele taca um travesseiro que bate na porta quando Madson a fecha.
(Notificação no whatsapp)
-Grupo/Scott- Eu quero saber de fatos, FATOS...
–Grupo/Tassia- A festa vai babar, tenho certeza.
–Grupo/Alice- Não conseguiram as bebidas?
–Grupo/Ashley- Gente, é uma coisa tão simples –‘
-Grupo/Tassia- Ué, os meninos estão com dificuldade pra arrumar bebida? Onw, fofos *-*
–Grupo/Alice- HAHAHA, garotas, melhor darmos o nosso jeito ou vamos acabar bebendo suco a noite inteira.
–Grupo/Noah- Cheguei.
–Grupo/Ashley- Chegou tarde, o Scott e o Troye acabaram com a festa. .l.
–Grupo/Troye- Eeeei, não foi culpa minha, o cara da id falsa não quer fazer.
–Grupo/Noah- Ninguém aqui tem um amigo com mais de 21?
–Grupo/Ashley- Esquece, vamos dar um jeito.
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-Foi um verdadeiro massacre, pelo menos 1.5 milhão de judeus foram mortos nas câmaras de gás daquele campo de concentração. Massacres aconteceram por toda nossa história, pela igreja católica, pelo preconceito, a religião em si matou mais do que qualquer guerra, tivemos as caças as bruxas, as cruzadas, vocês vão aprender mais na faculdade- As aulas da sra. Wilson eram incríveis, todos adoravam o jeito que ela falava, os detalhes, as coisas que os outros professores não falavam, ela era nossa professora de história. Negra e na faixa dos sessenta anos, ela não seguia os planos de ensino do colégio, falava o que tinha que ser dito.
–A senhora acha que as coisas seriam diferentes sem a religião? – Ashley debruça sobre a mesa de madeira esperando a resposta.
-Eu tenho certeza. Tudo isso que vocês veem acontecendo aí fora, as guerras, os preconceitos, os suicídios, agradeçam a igreja por isso. Hipocrisia eu diria! – Ela responde apagando algumas anotações no quadro.
Troye desvia o olhar para Ashley e em seguida diz. -Talvez as coisas pudessem estar piores sem a igreja, imagina um mundo sem leis.
–Porque não teríamos leis? Acha que sem esse livro preconceituoso e machista as pessoas estariam como? Temos nosso senso de humanidade Troye, nada vai tirar isso, quando começamos a entender as coisas quando crianças, mesmo sem ler a tal bíblia já sabemos o que é certo e o que é errado! - Ashley rebate.
Alicia os encara. –Isso tudo é uma questão cultural. Se a bíblia fosse escrita hoje em dia, seria diferente! Eles escreveram o que achavam errado e o que achavam certo... acredito que seja isso.
-Bom ponto de vista, Alicia- A Sra. Wilson diz indo até as mesas. –É um livro cultural, político e muito bem escrito.
A sra. Wilson pega um dos livros e põe sobre a mesa ao lado de sua garrafa d’água. -Podíamos estar melhores, piores, enfim, o foco dessa aula não é esse! Mas já que entramos nesse assunto, queria deixar um trabalho para vocês, individual. Anotem! “Como seria nosso mundo sem a religião? ” Esse é o tema. Estamos presos e limitados por causa de um livro, a religião não é o problema, o problema é a religião ser usada como doutrina pessoa e moral, base das coisas, isso é errado! Pesquisas que poderiam salvar pessoas em estado vegetativo são colocadas nas gavetas a todo tempo por causa da visão que a religião impõe nas pessoas. Podíamos estar no futuro já, mas ainda estamos aqui, vendo pessoas tendo que sair do estado para ir casar em outro. - Ela sabia o que estava falando e até onde ela podia ir.
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Halavan
-Eu fiz jornalismo em Massachusetts, era colunista no AM, resolvi escrever um livro. Ia ficar aqui temporariamente, mas eu conheci o Will, pai da Charlle, foi breve, mas foi intenso. – Lenna diz ajeitando o cachecol.
Karen caminha ao lado da mulher ruiva, seus passos deixam pequena marcas da neve misturada com o pó de serra. –Ainda não o conheci. – Karen sorri.
–Ele era casado- Lenna respira fundo. -Eu descobri isso no dia que contei a ele que estava gravida. Ele disse que já tinha uma família e não poderia ter outra, sugeriu que eu abortasse e continuássemos amantes.
–Que filho da puta- Karen diz com uma visível repulsa pelo homem.
Lenna ri –Eu fiquei sem reação, tipo quando um vendedor ou o caixa do supermercado te trata mal, você sabe que você tem que responder, mas você não consegue, porque você simplesmente não esperava por aquilo. Eu fiquei ali parada esperando ele dizer que era uma brincadeira de mau gosto.
Lenna e Karen caminham pelo porto da cidade. O céu está gélido e a neve parou de cair. A brisa balança os cabelos vermelhos de Lenna e o rabo de cavalo de cabelos negros e cacheados da Karen. Elas seguram cada uma um expresso duplo que ainda solta fumaça. As ruas estão parcialmente cobertas por lascas de madeiras misturada com pó de serra e neve. A indústria madeireira é a especialidade de Halavan, o porto recebe enormes quantidades de madeira todos os dias onde são exportadas. Elas vão caminhando até atravessar o porto e chegar ao centro de Halavan.
...
Lenna entra no hotel acompanhada por Karen -Dhavilla? Está aí?
–Estou sim, só um momento- Dhavilla responde da cozinha do Hotel. –Chegaram na hora certa, estou fazendo bolinhos de arroz.
Karen vai até ela e a cumprimenta. -Nossa, eu não como isso há anos. Minha tia fazia sempre para mim, ela foi minha melhor amiga na minha adolescência. Nos juntávamos todos os dias à tarde na casa dela, eu ela e minha vó, tomávamos café e comíamos bolinhos de arroz- Ela ri.
–Acabou o arroz na casa dela? – Lenna diz rindo, ela vai até o armário e pega um copo.
Karen se senta em um dos bancos de madeira. -Na verdade ela era mulher do meu tio... eles terminaram.
–Entendi. Que chato, perderam contato? – Lenna enche o copo com água e vai até Karen.
-Ah, com o tempo vamos nos distanciando, é normal.
-Manter uma boa amizade à distância é bem complicado- Diz Dhavilla escorrendo o óleo dos bolinhos com a escumadeira e os colocando em um prato com papel toalha. –Pode fazer o café, querida?
–Claro. - Lenna vai até a pia e enche a chaleira.
As três estão rindo com as histórias que estão contando. Quando a chaleira começou a apitar, Lenna levanta para ir terminar o café. –Sou uma senhora, mas não estou morta- Diz Dhavilla sem conter a risada.
–Ainda não vi esses garotos no porto, estou perdendo tempo- Karen diz rindo, ela morde um dos bolinhos e fecha os olhos
–Eles são muito jovens, eu teria que ensinar muita coisa a eles– Lenna ri tirando a chaleira do fogo.
Dhavilla morde um dos bolinhos -Eu não ligaria de dar umas boas aulas para o garoto do guindaste- A chuva de gargalhadas toma conta da cozinha do hotel, Lena ri tanto que tem que se agachar em frente ao fogão.
Dhavilla se vira para a porta e chama as netas. –Lisa, Taylor, os bolinhos estão prontos. – As duas meninas entram correndo na cozinha. Lisa tem seis anos e Taylor tem oito, elas sempre passam temporada com a vó. Dhavilla adora aquelas garotas, mima elas de todas as formas.
–São lindas meninas! - Karen diz sorrindo para elas.
Dhavilla desvia o olhar para Karen. –Elas são tudo para mim, ajudei a cria-las até Emma resolver se mudar para o Texas, faz três anos já. Foi difícil me acostumar.
Lenna põe o pó de café no coador de pano. –É sempre assim, a vó cuida até não ser mais necessária.
–Não posso culpa-la- Dhavilla da mais uma mordida no bolinho. -Ela nunca gostou daqui e sempre foi bem clara sobre ir embora um dia. Mas nunca levei a sério- Ela desvia o olhar para a janela. -Ela conseguiu um bom emprego, um bom marido, estou feliz por ela.
Lenna leva o bule até a mesa de madeira e em seguida desvia o olhar para a TV
*TV- (comercial) Ainda não tomou sua vacina? A vacina contra a febre vermelha é fundamental para você e sua família. Se você ainda não tomou, não perca mais tempo. Uma campanha de proteção pelo cidadão, sua saúde também depende de você. *
Karen levanta e leva os pratos até a pia. –Pensei que só as pessoas que fossem viajar para a Ásia tivessem que tomar.
–A vacina se tornou obrigatória ontem depois que confirmaram uns casos na américa do sul. – Lenna diz se levantando. –Que isso Karen, deixa que eu lavo.
-Não, tudo bem.
Dhavilla pega o controle remoto e desliga a TV. -Países sem controle. Abrem as portas para imigrantes e expõe as pessoas a Deus sabe lá oque.
O sol começa a se por deixando o ambiente levemente escuro. Karen abre a torneira e começa a lavar a louça. –Eu não sabia que estava assim, já tem uma cura?
–A maioria morre em dias, não tem cura. Tem cidades na Ásia que estão totalmente fechadas, ninguém entra ou sai.
Dhavilla puxa um dos bancos de madeira e põe uma das pernas em cima, seus óculos refletem a pouca luz solar que ainda entra na cozinha do Hotel. –Mas tem que fechar mesmo- Ela encara sua perna um pouco inchada. -Não temos culpa se eles comem ratos, macacos e insetos. Eles sempre expõem o mundo a esse tipo de risco, lembra do Ebola né?
Karen enxágua um dos copos e desvia o olhar para Dhavilla. –Mas o ebola não foi na África? – Ela ri e volta a olhar para a pia de alumínio.
-Tanto faz! – Dhavilla levanta da cadeira, ela caminha até a janela e a fecha. –O ponto é que essas coisas sempre vêm de lá.
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Nevada
-Noah, já deixei a Anna na escola. Estou indo trabalhar, volto as 8:00pm- Madson arruma umas coisas na bolsa falando com Noah pelo celular. Em seguida ela calça uma sapatilha preta.
–Ok, eu busco ela quando estiver voltando para casa, se cuida.
Madson é enfermeira auxiliar no hospital Estadual de Nevada, recém-formada ela conseguiu um estágio na emergência do hospital. Ela é uma jovem muito atraente, loira com os cabelos lisos na altura dos ombros, magra e de pele branca. Anda sempre com uma maquiagem leve, o que a deixa ainda mais linda.
–Está atrasada- Diz Tahisse, enfermeira chefe e melhor amiga de Madson.
Madson põe a bolsa no balcão apressada. –Mil desculpas, estou tomando conta dos meninos de novo. Tive que deixar a Anna na escola porque o ônibus não passou- Ela veste o jaleco e põe os cabelos para trás.
–Relaxa, está tudo calmo aqui, nenhum acidente ou crianças se engasgando com chicletes. – Tahisse ri e caminha em direção a porta verde de duas folhas.
Madson a acompanha. -Estou mesmo precisando de um dia calmo, estou exausta! Sarah me mandou mensagem ontem de noite perguntando se eu podia dividir seu plantão com ela.
Tahisse pega uma carteira de cigarros. O tempo está se fechando e começou a esfriar. –Eu vou tirar a semana que vem de folga. Estou dobrando desde quinta passada. Terça é aniversário do meu pai- Tahisse acende um cigarro. –Quer um?
Madson lê uns e-mails pelo celular e em seguida desvia o olhar para Tahisse. –Não, estou parando. – Ela guarda o celular no bolso do jaleco. –Teddy me chamou para ir em um bar aqui perto depois do meu plantão.
Tahisse a encara e depois ri. –Alguém vai transar hoje- Ela dá mais um trago no cigarro.
Madson a encara e bate no ombro dela. –Não! Claro que não... que nojo. - Ela ri.
Tahisse se apoia em um vaso com uma palmeira. –Ah, Mad. Ele nem é tão ruim... para relaxar está ótimo
Madson ri alto. –Meu Deus, Tahisse... eu não acredito que você...
-O que eu posso fazer? - Ela dá de ombros. –Trabalho aqui há seis anos.
Madson ri e pega o cigarro da mão dela. –Você é uma vadia mesmo. – Ela traga o cigarro e em seguida tosse. –Nossa, isso é péssimo, ainda bem que estou parando.
Tahisse traga o cigarro fazendo o papel e a nicotina ficar em brasa. –Está certa! Tem noção de quanto o cigarro está caro? Meu Deus... vou ter que arrumar outro emprego só para continuar fumando.
*Barulho da sirene, uma ambulância está chegando no hospital*
-Acho que você vai ter que apagar esse- Madson ri e abre a porta.
...
-Mad- Sarah se aproxima das duas. –Pode pegar meus pacientes hoje à tarde? Tenho que resolver umas coisas.
Elas estão paradas do lado de fora junto com os médicos esperando a ambulância chegar. –Estou com os meninos- Madson desvia o olhar para ela. –Já tentou com a Tina?
Sarah observa a ambulância virando a rua. –Vou falar com ela.
Teddy é médico residente. –Vamos lá pessoal. Acidente de carro, várias fraturas expostas e uma possível amputação.
A ambulância chega e três socorristas descem. Jonny é um dos médicos socorristas, ele desce uma maca apressado com a ajuda de dois enfermeiros. –NÃO CHEGUEM PERTO!
Todos o encaram. Teddy vai até ele. –Assumimos daqui Jonny. Jonny o encara e em seguida o empurra. –NÃO. O CCD mandou não fazermos nada até eles chegarem.
-CCD? - Tahisse se aproxima. –O que eles têm a ver com isso?
Jonny dá de ombros. –Eu não sei. Mandaram isolar o corpo e o pôr na quarentena.
-Tudo bem- Tahisse se vira. –Anuncie o código azul e preparem a quarentena.
Uma das médicas residentes de plantão anuncia o código azul e cobre o homem aparentemente morto com uma manta de plástico isolante.
–O que ele tem? - Madson pergunta enquanto se aproxima rápido. Ela quase cai quando é segurada pelo policial que estava no banco carona da ambulância.
–DISSE PARA NÃO CHEGAR PERTO, DROGA MADSON! – Jonny grita desviando o olhar para Madson. Ela o encara assustada e se afasta. –ISOLEM ESSA ENTRADA E PREPAREM A QUARENTENA NIVEL 7!
O movimento no hospital muda completamente, poucas informações e muita correria. *Campainha de acionamento para funcionários –Dr. Gomes, por favor compareça ao setor de risco-*
-O que está acontecendo? - Madson pergunta enquanto tenta acompanhar os funcionários pelo corredor do hospital. Sarah anda ao lado dela e faz sinal como se também não soubesse o que está acontecendo. *Dr. Gomes, por favor compareça ao setor de risco*
-Mad, vem cá! - Tahisse grita atrás do balcão de enfermagem. Ela segura alguns prontuários e os põe em cima do balcão. - Preciso que transfira os pacientes desse bloco e da observação 5 para o outro lado do hospital.
Madson olha em volta e em seguida desvia o olhar para Tahisse –O que está acontecendo Tahisse? - *Dr. Gomes e responsáveis pela ala de infecção, por favor comparecer ao setor de risco* -Tahisse? - Madson pergunta mais uma vez. Nessa hora tudo passa mais devagar. Madson vê tudo em câmera lenta, os médicos correndo pelo corredor, as luzes vermelhas sendo acesas, médicos do CCD entrando com malas e roupas de proteção.
–Faça o que eu te mandei fazer! - Tahisse pega em um dos braços de Madson tirando ela do estado de choque. –MADSON?
–Desculpa, estou indo.
...
-PAREM DE FILMAR! - Um dos policiais grita derrubando o celular da mão de um adolescente que aguardava atendimento na sala de espera.
–SEM VIOLÊNCIA, DE O EXEMPLO! - Madson grita devolvendo o celular para o adolescente. Ela vê de relance Teddy andando rápido no corredor e vai atrás. Ela começa a andar junto com ele e pergunta mais baixo. –Teddy, me fala, o que é isso?
Teddy olha uns papéis e continua andando apressado. -Você precisa sair daqui, pega suas coisas e sai pelo necrotério, eles ainda não estão vigiando lá- Ele responde sem olhar para ela.
–Como assim sair? O que está acontecendo? ME RESPONDE, DROGA!
Teddy para no corredor e põe as duas mãos sobre os ombros de Madson. Ele está visivelmente preocupado e com medo. As luzes brancas do corredor piscam deixando expostas as luzes vermelhas. –O hospital está em quarentena, ninguém entra ou sai daqui... eles vão isolar tudo.
As palavras de Teddy caem feito um piano em cima de Madson, ela não sabe de fato o que está acontecendo mas sabe que é grave. Ela fica parada por alguns segundos alheia a tudo o que está acontecendo em volta. –Mad! - Isso ecoa na cabeça dela, bem distante. –Mad, RAPIDO- Ela é balançada, mas está tudo tão baixo e devagar. –Mad, temos que sair daqui- Ela desperta com Tahisse suja de sangue a puxando pelo braço.
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-Mãe? - Charlle abre as portas do café. Ela caminha pela sala e põe os livros em cima da mesinha com flores ao lado do sofá de dois lugares cor vinho. –Mãe, está aí? - Ela vai em direção a geladeira com o controle da TV na mão. Ela liga a TV enquanto pega algumas coisas para preparar um lanche. Pasta de amendoim, queijo branco, geleia de frutas vermelhas e suco de pêssego.
TV *-Pode sim ser o primeiro caso da febre vermelha nos EUA, não podemos dar uma posição até o CCD se pronunciar a respeito disso. - Diz Suzan, governadora de nevada.
–Entendi. Mas se for, como o governo vai lidar com isso? - Pergunta Mariah, ancora do jornal BBC.
–Não temos como ter uma resposta exata sobre isso agora, o governo disponibilizou a vacina que certamente amenizaria as coisas. A vacina não torna ninguém imune a febre, mas nos dá possibilidade de tratamento. - Suzan responde cruzando as pernas.
–Você pode nos falar mais sobre a vacina Dr. Willian?
–Claro! Ela basicamente desperta todo o sistema imunológico, nos deixa mais fortes e resistentes a invasão de vírus e bactérias, fica mais difícil matar nossas células responsáveis pelo sistema nervoso, o que nos dá mais tempo para controlar a infecção e tratar o paciente.
Mariah desvia o olhar para a câmera. –Vocês ouviram, as vacinas são obrigatória e já entraram para o livro de vacinação. A vacinação está sendo feita nas escolas públicas e postos de saúde. Não percam tempo! Governadora Suzan, Dr. Willian, muito obrigada por nos dar esse esclarec... –Charlle muda de canal, mas todos estão passando a mesma coisa. *Já passam de três mil casos de febre vermelha no Chile* Ela pula. *Calamidade pública* Ela pula. *Pode ser sim reação da vacina! Só as pessoas que tomaram a vacina estão ficando desse jeito, são monstros, não são pessoas...* Ela pula. *we could be heroes, me and you* -Agora sim- Diz Charlle aumentando o volume da TV.
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-Amor? - Oliver atende o celular.
–Onde você está? Já vai fazer oito horas que você saiu!
Ele leva as mãos ao ouvido para poder ouvir Karen. –O aeroporto está um caos, não fui atendido ainda.
Karen anda até a porta e encara a noite caindo. –Meu Deus, Oliver, vem para casa.
–Daqui a pouco amor. Deixa eu tentar resolver logo isso, já fiquei esse tempo todo aqui, não quero ter que voltar amanhã.
–Tudo bem- Ela fecha a porta. –Te amo. - Ela se vira para Dhavilla –Acredita que ele ainda não foi atendido?
Dhavilla está tirando as coisas da mesa. –Estranho, já era para ter voltando ao normal. Esse aeroporto não fica muito tempo fechado, é muito movimentado pelas transferências. Daqui a pouco volta a funcionar normalmente.
Lenna termina de guardar as coisas no armário. –Vocês vão comigo para o café? Charlle já chegou.
–Vão indo na frente, vou pôr as meninas na cama e encontro vocês lá.
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-Meu Deus Tahisse, você está bem? - Madson pergunta enquanto é puxada por Tahisse.
–Pensei que ele tivesse morto- Ela diz sem diminuir o ritmo dos passos. –Ele arrancou uma parte do pescoço do Jonny bem na nossa frente... não deu tempo de fazer nada.
Nessa hora ela para e finalmente chora, chora pelo seu amigo morto, chora por ter visto aquilo acontecer e chora simplesmente por não saber o que era aquilo, por que ele voltou? Por que ele mordeu o Jonny? Por que ele continuou de pé após três tiros do segurança no seu peito? O corredor está totalmente deserto agora, as luzes brancas já estão totalmente extintas. –Ele disse para sairmos pelo necrotério- Tahisse diz enquanto seca as lagrimas com a manga do jaleco sujo de sangue. Madson a observa e assente com um gesto com a cabeça. –Seja lá o que tiver acontecendo, eles não vão deixar ninguém sair daqui de dentro. – Ela diz enquanto tira o jaleco apressada e joga por cima de um cadáver que está preparado para a necropsia em cima da maca de ferro fria como gelo.
–Não podemos ir! Eles podem precisar da nossa ajuda, não sabemos o que é.- Madson entra na frente da porta de duas folhas verdes do necrotério impedindo a passagem de Tahisse.
–Mad, nós vamos voltar! A emergência vai voltar a funcionar e nós vamos voltar, ok? Mas a ala de infecção e todos que tiveram contato com isso... bem, ainda não sei o que vai acontecer. –
Tahisse respira fundo. -Nós só precisamos não ter estado aqui hoje, não fomos parte disso e não vamos ser estudadas como duas ratas de laboratório! Ou você quer passar por isso? Porque o governo não pensaria duas vezes em “eliminar” qualquer ameaça, mesmo que insignificante, e eu posso te garantir que ninguém ficaria sabendo de nada.
–Tem razão- Madson desvia o olhar para o braço de Tahisse e abre a porta.
–Droga, filho da puta doente! - Diz Tahisse limpando a mordida que levou no braço.
–Nossa, isso está feio- Madson pega ataduras e álcool. –Vai doer, você sabe né- Ela ri enquanto joga álcool sobre as suas mãos.
–DROGA! - Tahisse grita dando um soco na maca que está sentada quando Madson despeja o álcool em cima da mordida.
–Vamos- Madson abre a porta.
Elas passam por um corredor longo até chegarem a saída. O movimento é bem grande na frente do hospital, emissoras de TV, muitas pessoas, carros de polícia, Helicópteros sobrevoam o hospital e elas quase são vistas. Tahisse puxa Madson para a parede e elas ficam ali encostadas fora do campo de visão. A tropa de choque chega. –Eles estão tentando sair- Madson olha por cima da caçamba de lixo hospitalar.
*-Vocês precisam se acalmar! Vocês não podem sair! Todas as medidas possíveis para acabar logo com isso já estão sendo tomadas-* Diz a voz no microfone.
-Temos que sair daqui Mad, agora!
Elas saem pela lateral e pulam a cerca para o parque municipal. –Me liga assim que chegar em casa.
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Noah está encostado na parede da sala, algumas mechas curtas de seu cabelo castanho escuro descem pela touca preta. -Qual é Mad, atende! – Ele diz tentando mais uma vez sem sucesso ligar para Madson.
*TV –Eu só quero falar com o meu filho! Por favor, meu filho está lá dentro! - Diz a mulher em desespero para a repórter em frente ao hospital de Nevada. *
Noah tira o celular do ouvido. -Droga Anna, desliga isso- Ele diz tentando mais uma vez ligar para ela. Madson abre a porta da sala e entra -Meu Deus, você está bem? - Ele Pergunta colocando o celular em cima da mesa.
–Eu vou ficar depois de um bom banho. – Madson pega o celular *Tah, cheguei*. Ela manda a mensagem para Tahisse.
Ele vai atrás dela. –O que aconteceu? Está passando em todos os jornais. Como você saiu de lá?
Madson para no primeiro degrau da escada e desvia o olhar para Noah. Seus cabelos lisos e loiros descem pelo seu rosto abatido até tocar os ombros. -Noah, eu preciso mesmo de um banho. Depois nós conversamos, ok? - Ela começa a subir as escadas digitando no celular. *Tahisse? Já chegou? *
Ela anda em direção no banheiro no fim do corredor. Ela entra, tranca a porta e para em frente ao espelho. –Está tudo bem! - Ela diz para si mesma. Madson joga um pouco de água no rosto e repete. –Está tudo bem- Ela diz agora com um tom um pouco mais confiante, tentando acreditar em si mesma. Ela pega o celular e escolhe uma música para por enquanto toma banho. A música começa a rolar preenchendo levemente todo o banheiro *Can't keep my hands to myself...*. Ela abre as torneiras da banheira e tira as alças do sutiã preto deixando-as penduradas ao lado dos seios fartos cobertos pela renda preta do sutiã. Madson olha em volta e pega um elástico de tecido em cima de uma das prateleiras e prende os cabelos loiros de um jeito que não molhe. Ela abre o fecho traseiro do seu sutiã deixando os seios brancos de bicos rosados expostos. A som da notificação a faz olhar para o celular. *Cheguei, desculpa a demora para responder, estava um nojo* Ela visualiza a mensagem na tela de bloqueio do celular. A música continua rolando. *All of the doubts and the outbursts, Keep making love to each other, And I'm trying, trying, I'm trying, trying*. Ela relaxa na banheira como alguém relaxa na cama de casa após um dia estressante. Ela tenta não pensar em nada que aconteceu dentro do hospital, ela só quer esquecer, quer voltar a vida normal que ela tinha, voltar ao hospital e estar tudo bem.
Ela cochila e acorda na banheira suja de sangue, as luzes estão vermelhas -Você não tem como sair daqui agora! - Diz Teddy.
Os médicos do CCD se aproximam dela, ela está preza na banheira, não consegue sair, eles estão mais perto. O barulho da respiração deles passando pelo filtro da máscara é tão alto. -Não tem como sair- Diz Jonny parado do outro lado do banheiro com o pescoço sangrando. Ela está paralisada, não consegue falar, gritar, ela só chora e se contorce tentando se soltar.
-Mad? - Diz o médico do CCD batendo três vezes na parede de azulejos sujos de sangue. –Mad, está tudo bem aí? - Ele bate mais forte dessa vez. –MAD! - Ela desperta na banheira com Noah batendo na porta. Ela leva as mãos a boca e respira fundo.
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-Como assim sem previsão? – Oliver grita no guichê do aeroporto.
–Infelizmente é só isso que eu tenho a dizer. Não nos foi passado nada além disso. – Diz a caixa.
–Vocês vão arcar com as minhas despesas então? - Grita um homem lá do fundo.
–Vão ter que arcar né. – Diz uma mulher segurando um bebê.
Todos começam a falar juntos, todos com raiva. Um homem começa a falar nos autofalantes do aeroporto. –Boa noite, venho pedir desculpa pelo transtorno e dar as devidas informações que recebemos. Nós não arcaremos com nenhuma despesa pessoal como comida, hotel ou outras despesas, o aeroporto vai ficar aberto e todos são bem-vindos a ficar o tempo que precisar ou até as coisas se normalizarem. Toda a linha aérea está suspensa até a segunda ordem. Não é nossa culpa, não é ordem nossa, essa ordem veio do governo! Todas as linhas de conexão de todo o continente Americano estão fechadas temporariamente. Obrigado pela compreensão.
–Meu Deus- Diz uma senhora de aparentemente sessenta e cinco anos.
–Estamos presos aqui então? - Pergunta uma mulher ruiva vestida com roupas sociais.
–Parece que não é só aqui que isso está acontecendo. – Diz um homem também vestido com roupas sociais.
–Eles podem fazer isso? – Pergunta Oliver.
–Dependendo da situação, sim. – Responde a mulher ruiva.
–É um plano de contingência- Diz uma aeromoça pegando um pouco de café no balcão de madeira espelhado.
–Você sabe o que está acontecendo? – Oliver pergunta enquanto se aproxima da mulher de saltos azuis combinando com a gravata e o chapéu.
Ela desvia o olhar para Oliver. –Meu avião teve que pousar aqui faz quase sete horas, toda linha aérea foi interrompida.
-Meu nome é Oliver- Ele diz pegando um pouco de café também.
Ela se encosta no balcão e dá um gole no café morno. –Droga, odeio café frio- Ela respira fundo. –Meu nome é Tara.
-Eu sou Alisson e esse é meu namorado Clark. –Diz a mulher ruiva de vinte e seis anos.
–A coisa ficou feia na Europa. Eles não estão transmitindo nada na TV para não causar pânico. Os hospitais não estão dando conta de tanta gente doente. – Tara diz adoçando o café.
Oliver pega um pouco do café que acaba assim que ele aperta o botão duas vezes. –O que está acontecendo na Europa?
–O mesmo que está acontecendo no mundo inteiro! - Tara responde.
–Febre vermelha- Alisson responde lendo uma matéria no celular.
Oliver desvia o olhar para Alisson. –Como eles podem esconder uma coisa dessas? Não faz muito tempo que eles falaram que eram só casos isolados, sem risco nenhum.- Oliver joga o copo de café no lixo.
Tara respira fundo e apoia o cotovelo no balcão. –É normal eles não divulgarem algo que eles não intendam ainda, só criaria pânico e pioraria as coisas. Esse plano de contingencia é justamente para impedir que as coisas piorem.
–E a vacina? Todos tomaram, certo? – Alisson pergunta guardando o celular no bolso.
Tara desvia o olhar para Alisson que a encara segurando uma bolsa vermelha. -A vacina é o problema todo! A febre vermelha mata muito rápido, em horas, a vacina estende esse prazo em dias, mas além deles não conseguirem tratar nem com esse prazo mais alto, a vacina está causando um efeito colateral.
–As pessoas que morrem voltam- Alisson diz rindo. –Gente, é só um boato, por favor, tem coisas que realmente não dá para acreditar. – Alisson vai até o balcão e apoia a bolsa.
–E se for verdade? - Oliver pergunta aparentemente preocupado.
Clarck desabotoa o paletó preto. –As vacinas passam por diversos testes antes de vir para o mercado. Uma coisa dessas nunca seria liberada.
–Aí que está- Tara olha para o rapaz. -Eles erraram, e erraram feio. A vacina foi feita na Ásia assim que descobriram a doença, ela não foi “testada” como as outras porque eles não tinham tempo para isso, ela foi uma medida de emergência de um governo desesperado. Eles distribuíram a vacina e deu certo, mas começaram outros focos da doença pelo mundo. Os governos de outros países compraram e distribuíram a vacina e assim foi indo. A febre vermelha recuou porque as pessoas estão demorando mais para morrer, mas as pessoas ainda estão morrendo, morrendo e voltando.
–Ok! - Alisson corta o assunto. -Seja lá o que estiver acontecendo, está lá, não aqui.
–Vocês têm onde ficar? - Tara pergunta se abaixando para tirar os saltos.
–Estou com a minha esposa em um café de uma amiga, não conseguimos um hotel.
–Não! Estamos aqui no aeroporto mesmo. - Alisson responde olhando para Clarck.
Tara levanta e ajeita os cabelos curtos. –Estou em um hotel aqui perto. O aeroporto disponibilizou para as equipes de bordo, estou com uma colega de trabalho lá. Está sobrando uma cama, com certeza é melhor que o chão do aeroporto.
–Muito obrigada, não sei como agradecer- Alisson sorri.
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-Charlle? – Lenna chama enquanto tira o casaco na porta da sala.
-Esfriou bastante! –Karen diz enquanto também tira o casaco e pendura no armário ao lado da porta.
Lenna vai até a lareira e põe mais uma peça de madeira para queimar. –É sempre assim, está fresco de dia e do nada a temperatura despenca, mês que vem as coisas começam a voltar ao normal. - Ela respira fundo e abre a porta da varanda. –Me ajuda a pôr as coisas para dentro? - Lenna pergunta enquanto abre a porta que liga a cozinha a varanda lateral do café.
–Claro.
Elas conversam sobre coisas aleatórias enquanto guardam as mesas e as cadeiras acolchoadas. O tempo virou muito rápido, pode ser uma tempestade das feias. Oliver chega no café acompanhado por Alisson, Clarck e Tara. –Nossa, está um gelo lá fora- Diz Oliver enquanto dá um beijo rápido em Karen. Ela encara os visitantes desconfortável pelo marido ter levado visitas a uma casa que não é deles. –Desculpa, pensei que o café fosse estar aberto- Diz Oliver.
Lenna vai até eles segurando uma das cadeiras. O vento entra forte pela porta arremessando poucos flocos de neve para a cozinha. –Não tem o porquê se desculpar. Esqueci de avisar que o café não abriria hoje.
Alisson desvia o olhar para Clarck que abaixa a cabeça um pouco sem graça. –Não queremos atrapalhar, o hotel é aqui perto, vamos indo para não pegarmos a tempestade.
–Que isso! - Lenna acende as luzes do balcão. -De jeito nenhum! Ninguém sai daqui sem um café bem forte e quente. - Ela ri.
–Agora sim o meu dia vai ter algum sentido, o café do aeroporto estava péssimo. - Diz Tara indo em direção a Karen e Lenna. –Eu sou Tara- Ela diz.
-Karen! Essa é Lenna. - Karen responde apertando a Mão de Tara.
–Aqueles são Alisson e Clarck. - Tara diz apontando para o casal. Eles se cumprimentam de longe, parecem ser boas pessoas. –Posso fumar aqui? – Tara pergunta indo em direção a varanda lateral do café com porta de vidro, iluminação baixa e amarela.
–Claro, fique à vontade! – Lenna responde.
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-Está tudo bem Karen! – Madson diz no telefone sentada por cima das pernas na poltrona bege.
–Preciso que fique com os meninos durante um tempo, não estamos conseguindo voltar para casa. –
Madson estala o pescoço. -O que houve? Está tudo bem com vocês?
A voz de Karen sai um pouco picotada pela interferência. –Os aeroportos fecharam para tentar conter o surto, devem voltar ao normal logo.
Madson fica muda por um momento, as coisas começam a se encaixar agora, o hospital, os aeroportos. –Eles estão perdendo o controle- Diz Madson sem perceber que estava falando com Karen.
–Quem está perdendo o controle?
–Ninguém! Tenho que desligar, eu peço para o Noah te ligar amanhã antes da aula.
–Está tudo bem mesmo, Mad?
–Sim! Tenho que ir- O som de ligação finalizada preenche o ouvido de Karen. Ela fica parada segurando o telefone por um tempo.
Oliver se aproxima por trás de Karen. –Tudo bem com as crianças?
–Sim- Ela responde ainda segurando o telefone. -Tudo bem.
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Madson está sentada na poltrona ainda segurando o telefone e escutando ao fundo o som de linha livre.
Noah se senta ao lado de Madson –Está tudo bem?
Ela abaixa as pernas para dar espaço a ele. –Era sua mãe- diz Madson colocando o telefone no gancho. Ela deita nas pernas dele procurando o mínimo de conforto e segurança em meio a tantos pensamentos ruins. Ele acaricia seus cabelos loiros com a suavidade em que uma folha cai ao chão. Eles ficam ali parados alheios aos pensamentos um do outro.
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-Não vou Mad! Estou péssima- Tahisse responde enquanto tira a chaleira que estava apitando do fogo.
–Está tudo bem? – Madson pergunta batendo a porta do carro.
–Estou morrendo de dor de cabeça e estou queimando em febre, vou tomar um café e vou deitar um pouco. – A voz de Tahisse sai fraca e com alguns chiados pelo celular de Madson.
-Quer que eu vá aí?
–De jeito nenhum! Não precisa, se eu não melhorar, vou ao hospital amanhã. – Diz Tahisse adoçando o café.
Madson entra no carro e põe o cinto de segurança. –Tudo bem, qualquer coisa me liga!
Tahisse põe as duas mãos em cima do balcão central da cozinha branca e apoia o peso do corpo. Ela pisca para tentar afastar a visão turva e encara a mordida no seu braço que começa a ficar com uma aparência pior. –Droga, não vai parar de sangrar nunca? – Ela enrola um pano em volta do braço mordido. Tahisse está vestida com uma blusa larga e uma calcinha preta que fica escondida pela blusa que desce até metade de sua coxa, está chovendo e o tempo está fresco, ela ama o tempo assim.
Tahisse sobe as escadas até o seu quarto com a xícara de café nas mãos. No final do quarto ao lado da cama de casal desarrumada com roupas de cama brancas, fica a porta para a varanda, certamente é a parte da casa que ela mais gosta. Uma varanda aconchegante com vista para o lago, poltronas confortáveis, chão de madeira e parapeito de vidro com os ferros de divisão pretos. Por todo o teto de vidro da varanda ficam penduradas cúpulas preenchidas com velas, ela geralmente as acende a noite e fica sentada olhando as estrelas tomando um bom vinho. Ela senta na poltrona segurando a xícara de café com as duas mãos, ela cruza as pernas e encosta a cabeça na poltrona fechando os olhos enquanto sente a brisa da manhã preencher a varanda balançando as cúpulas de vidro.
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Karen acorda no dia seguinte com o cheiro de café entrando no seu quarto. A claridade vai entrando aos poucos através da cortina cor de palha. Ela senta na cama onde Oliver ainda dorme sem camisa com o lençol cobrindo metade do seu corpo, ela mexe nos cabelos cacheados e vai até o banheiro lavar o rosto.
...
–Bom dia- Lenna diz vendo Karen descer as escadas. O café está aberto com poucos clientes, um senhor lendo jornal em uma mesa na lateral e duas adolescentes tomando cappuccino no balcão grande de madeira rustica. Ela serve o café em uma xícara que ela pôs no balcão para Karen.
–Obrigada- Karen agradece apoiando o cotovelo no balcão descendo a cabeça sobre a mão.
–Toma, esses são ótimos- Lenna põe dois comprimidos para dor de cabeça ao lado da xícara.
–Tenho que respeitar mais os limites do meu corpo- Karen remove os dois comprimidos da cartela. Lenna ri.
Dhavilla senta ao lado de Karen. –Parece que alguém bebeu demais ontem. - Elas riem juntas
–Por favor não me faça rir Dhavilla- Karen toma os remédios.
–Desculpa querida- Dhavilla ri despejando o café em sua xícara.
*TV- Suspender os transportes públicos por precaução é arriscado, mas é necessário! *
Karen se debruça sobre o balcão e olha para a televisão. -Lenna, pode aumentar por favor?
Lenna aumenta a TV presa a parede de canto.
*É uma situação muito delicada, um passo em falso e podemos expor toda a nossa nação a isso*
Oliver desce as escadas e vai em direção ao balcão. –Bom dia- Ele se senta ao lado de Karen. *TV- O governo já investiu um total de trinta e oito bilhões de dólares em recursos, pesquisas e prevenção. Temos o Texas como exemplo em combate ao surto, eles reduziram a carga horaria de trabalho, suspenderam os transportes públicos, intimaram todos os funcionários da saúde afastados ou de férias a voltar ao trabalho e voluntariou cerca de dez mil pessoas para trabalhar nos hospitais e unidades de pronto atendimento* Eles continuam vendo as notícias que começam a tomar conta dos noticiários em todos os canais.
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-Mais da metade dos alunos não vieram a aula sra. Collins. Estamos com cento e trinta e seis alunos em salas- Diz Thomaz, psicólogo e secretário da Rancho High School, escola de ensino médio onde Noah estuda.
–Cento e trinta e seis de mil e duzentos e trinta e três alunos matriculados. Não sei mais o que fazer Thom, já faz uma semana que estamos em queda de presença. A maioria dos alunos estão doentes ou os pais não os deixam vir por medo, não os culpo, se eu tivesse filhos eles também não sairiam de casa. – Ela responde olhando os relatórios em cima da mesa de madeira rústica.
Thomas abre uma das garrafas de whisky. -O que pretende fazer? - Ele serve uma dose de whisky a caubói na mesa dela.
Ela pega o copo -Obrigada Thom- Ele pisca para ela. Eles trabalham juntos há mais de vinte anos. Além de ótimos colegas de trabalho são ótimos amigos. –Mandem juntar as turmas e dispense os restantes dos professores. - Ela toma de uma só vez todo o whisky e levanta o copo em direção a ele.
–Vá com calma Beth, ainda é diretora da escola- Ele diz pegando o copo e servindo mais uma dose.
Ela o encara. –Não me repreenda Thom! Essa é minha função, esqueceu? - Ela diz rindo enquanto pega o copo pesado de vidro retorcido.
...
-Ai meu Deus! Eles estão comendo ela viva? – Carol pergunta levando as mãos até a boca vendo um vídeo no celular de Ashley. O vídeo mostra uma mulher de mais ou menos trinta anos sendo devorada por usuário de drogas em um dos pontos de vendas de Crack na índia. A câmera de segurança de uma loja mostra quando ela estava passando e foi atacada por umas seis pessoas. –Isso é loucura- Ela diz se sentando rápido junto com os outros alunos.
Thomas entra na sala de aula. –Vocês podem ir para a sala A05
Os alunos começam a arrumar as coisas para mudar de sala, tirando cadernos e livros de cima das mesas de madeira escura. –Vamos Ashley! –Uma mulher diz entrando apressada na sala de aula, todos param e a olham.
Thomas desvia o olhar para a mulher assustada. –Está tudo bem senhora?
Ela pega a mochila jeans com pingentes e nomes escritos com canetas fluorescentes da filha. -Vim buscar a minha filha- Ela está apressada, não quer dar satisfações.
Ashley a encara sem entender a situação. –Mãe? Vamos ter aula- Ela diz ainda de pé ao lado de sua mesa.
–Pode me obedecer pelo menos dessa vez sem me questionar? Nós vamos agora!
Thomas vai até ela. -O que a senhora está fazendo? Ela vai entrar em semana de prova-
Alicia para em frente a porta antes de sair e responde. –Você só pode estar brincando. Tem noção do que está acontecendo aqui? Eu vou sair do estado e sugiro que faça o mesmo!
–Mãe, você está me assustando! – Ashley diz parada do outro lado da porta.
–Vai ficar tudo bem, vamos para a casa dos seus avós em Boston- Ela escuta enquanto é puxada pelo braço. Os alunos ficam assustados mas observam ela ser tirada da sala pela mãe, todos ficam quietos. O clima é de tensão e dúvidas, medo.
Ashley se despede de todos e em seguida deixa a escola junto com sua mãe em um taxi.
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*The deads walk* (Os mortos caminham). Essa frase estampa a capa dos jornais na banca por onde Madson passa para chegar ao metrô. A frase seguida da foto de um homem cambaleando por um parque na Califórnia foi destaque da semana em todos os jornais, revistas e sites.