sábado, 5 de novembro de 2016

Apresentação



Apresentação.            Alive - Infection




 No final de 2015 o mundo conheceu a febre vermelha, uma doença silenciosa e agressiva que deixou toda a Ásia em estado de calamidade pública em menos de uma semana. Uma vacina foi desenvolvida às pressas para tentar controlar a infecção, mas, o vírus aos poucos começou a se espalhar forçando rapidamente todos os países a distribuir a vacina que não prometia imunidade, mas, sim reforçar o sistema imunológico dando mais tempo as pessoas infectadas e então a possibilidade de tratamento. O problema foi que a vacina desencadeou uma reação imprevista e as pessoas começaram a retornar a vida após a morte, não como eram conhecidas antes. Os “Mortos” como eram chamados, se espalharam como pragas matando continentes inteiros em menos de seis meses. As empresas Alive se juntaram ao governo de dezenas de países para tentar achar uma cura assim que o CCD caiu. Infelizmente a Alive foi desativada em março de 2016. Proibida de realizar experimentos que ligassem a febre vermelha ou aos mortos, a Instituição Farmacêutica de Biomedicina, Alive, deixou o mercado fechando as instalações.



Aos sobreviventes, viver um dia após o outro é a única opção. Não há ajuda. No dia 13 de março de 2016 as luzes do mundo se apagaram permanentemente e todas as transmissões cessaram tirando qualquer resquício de esperança de tudo voltar ao normal. O mundo como conhecemos, ao poucos deixou de existir.

VICTOR GONÇALVES

 Pessoal, esse é meu primeiro livro, não está bem corrigido. Não sei se um dia publicarei ele, então estou deixando uma parte aqui no meu blog para que vocês possam ler um pouco do meu trabalho. Meu livro está pronto e tem 16 capítulos, caso goste da história e se interesse em ler o restante do primeiro livro, é só comentar ou me mandar um e-mail pedindo o restante. Será uma trilogia. Não é nada profissional, não sou escritor e não trabalho com isso, é apenas minha imaginação sendo passada para o papel do meu jeito. Obrigado por dedicarem um tempo para ler o que estou escrevendo. Os comentários são livres para críticas, ideias, opiniões etc... Victor Gonçalves, 20 anos.

Capitulo. 6 - I’M SORRY

Capitulo. 6
I’M SORRY











*Barulho de respiração ao longe* O alerta do Ford Focus preto pisca fazendo estalos. Dhonna abre os olhos e encara o para-brisas empoeirado. As folhas voam carregadas pelo vento forte da manhã nublada. Rádio *Essa é uma boa notícia para quem quer curtir o fim de semana mais tranquilo* Ela muda a Rádio. *Metade das estradas dos EUA já foram liberadas, queremos liberar todas até o fim da próxima semana* Ela aumenta o volume. *Os casos da doença estão regredindo rápido, podemos respirar aliviados agora*

-Claro, aliviados- Ela liga o carro fazendo o motor tremer. Dhonna anda com o carro pela avenida deserta e abaixa para pegar um CD no porta luvas. Ela põe o CD na entrada que o puxa para dentro na hora. O tempo tem ficado instável, hora bom e hora ruim, os tons cinzas do céu se misturam ao cinza dos prédios ao longe e todos formam um mar sem cor. Ela encosta a cabeça no banco de couro e encara as grandes construções. *Twenty-five years and my life is still, Trying to get up that great big hill of hope... for a destination* Ela respira fundo e solta o ar pela boca, ela encara sua pele pálida pelo espelho do carro, seus olhos fecham e ela canta junto com a música. *And I say Hey! Yeah yeaah, Hey yeah yea, I said hey, what's going on? *



---



Karen está sentada na varanda com as pernas para cima da poltrona acolchoada. Ela segura um copo de café e encara os campos além da avenida Alasca. A varanda é aberta e menos de dois metros acima do nível da rua, toda de madeira e decorada com flores e velas em cúpulas de vidro. O vento balança seus cabelos soltos e faz seu moletom azul balançar. –Posso me sentar com você? – Cloe se aproxima de Karen e se senta em uma poltrona ao lado. –Às vezes fico me perguntando quando tudo isso vai acabar- Ela fecha o casaco.

Karen continua encarando os campos e responde sem olhar para a mulher de cabelos curtos e loiros. –As vezes eu me pergunto se um dia vai acabar- Ela continua a encarar os campos e dá mais um gole no café quente.

Cloe a encara. –Vai acabar, tem que acabar, é assim que as coisas são, a natureza arruma um jeito de aliviar as coisas quando se sente sobrecarregada... mas depois sempre damos um jeito de retomar o controle- Ela começa a encarar os campos vazios.

Karen respira fundo e desvia o olhar dos campos e passa a olhar para Cloe. –Vamos torcer para as coisas estarem melhores nos outros lugares- Ela dá mais um gole no café.

Cloe continua encarando os campos. –É, vamos torcer para isso- Seus cabelos balançam com o vento.

...

O facão desce com força sobre os legumes. Dhavilla está fatiando cenouras enquanto Lenna descasca batatas com Emma, as meninas brincam no quarto com Charlle e o restante das pessoas conversam nas mesas do café.

-Cuidado com o sal, querida, ainda vou temperar- Dhavilla diz observando Emma por sal na panela com água.

-Eu sei mãe- Ela mexe a água com a colher de pau. Alguém grita do lado de fora e todos vão para as janelas. Karen corre e desce até a rua.

-O que foi isso? –Ela pergunta a um homem que desce de um dos prédios com uma espingarda na mão.

Ele a encara e em seguida olha em volta. –Eu não sei, estava dormindo, acordei com o grito- Uma mulher vem correndo na direção deles, ela chora e está muito assustada.

-Uma daquelas coisas pegou meu marido! - Ela diz abraçando Karen. –Estávamos caminhando perto do porto e dois deles nos cercaram.

-Meu Deus- Karen leva as mãos a boca. –Eles estão começando a aparecer.

Cloe vai até ela. –Tinham bastante deles espalhados pelo campo antes de chegarmos até a horda. Eles devem ir chegando aos poucos até o bando chegar de vez- Ela encara a mulher assustada. Outra mulher grita quando mais um aparece na rua. Eles se afastam e encaram a coisa tropeçando nos próprios passos. O homem levanta a espingarda e aponta para a mulher que se aproxima deles.

-EU VOU ATIRAR- Ele treme com a arma nas mãos. –PARA TRAZ! EU ESTOU FALANDO SÉRIO- A mulher se aproxima até ficar a menos de três metros do homem, ele atira no peito da mulher a jogando no chão. As pessoas desviam os olhares. Todos gritam e falam ao mesmo tempo, estão assustados, mas o silêncio cai sobre todos quando eles encaram a mulher se levantando de novo. –Meu Deus- O homem diz se afastando. Ele dá mais um tiro que arranca o braço esquerdo da mulher com o impacto, ela continua de pé.

-SE AFASTEM! - Karen grita puxando pela blusa a mulher que chorava. O homem atira de novo, dessa vez o tiro pega no ombro direito fazendo seu corpo dobrar com o impacto.

-ELA NÃO MORRE- O homem grita recarregando a arma. Não dá tempo e a mulher o segura fazendo o homem gritar e cair no chão. Karen corre e segura a mulher por trás.

As pessoas encaram sem reação. Cloe e Tara correm até eles e tentam ajudar. Tara segura a mulher pelos cabelos e quase é mordida. Karen consegue tirar a mulher de cima do homem e a joga no chão caindo por cima dela. Oliver vem correndo do café com Clarck segurando uma faca, ele crava a faca nas costas da mulher que parece nem se importar com o objeto atravessando o seu corpo. Karen começa a chorar de desespero. –TIRA ELA DE CIMA DE MIM- Ela grita segurando o corpo da mulher com os braços. Cloe a joga no chão e sobe por cima dela, ela se corta com a faca cravada no copo na mulher. Um adolescente se aproxima correndo e atravessa uma barra de ferro no olho da mulher fazendo ela morrer instantaneamente. Eles respiram fundo, Karen se senta e leva a mão esquerda ao peito. –Estou bem- Ela diz tomando folego enquanto Oliver se aproxima.

Todos encaram a mulher caída no chão, seus lábios tremem em alguns espasmos e em seguida param. O clima é de terror, Karen desvia o olhar para o corpo e permanece sentada.

-ELE FOI MORDIDO! – Um homem grita se afastando do homem que atirou na mulher. As pessoas se afastam e o encaram.

Karen se levanta e vai até ele. –Está tudo bem- Ela o abraça.

-Não está- Ele chora ainda segurando a arma, -Se afasta de mim.

-Joe, calma, você vai ficar bem- Karen leva as mãos até o ombro do homem.

Ele desvia o olhar para as pessoas em volta que o encaram com pena e medo. –Boa sorte!

Joe aponta o cano da espingarda para o queixo. –JOE, NÃO! - O tiro sai arrancando parte do rosto de Joe e sujando Karen com o sangue. Todos gritam, Tara vai até Karen e a puxa para trás.



---



-Sou doador universal, ele precisa de sangue, qual é o problema nisso? – Noah bate na máquina de refrigerantes.

Madson vai até ele. –As coisas não são tão simples assim, você é menor de idade, não pode doar sem autorização dos seus pais- Ela pega o refrigerante de laranja que cai da máquina.

Ele se vira e encosta as costas na máquina. –Então vocês deixam ele morrer por causa de uma lei estúpida? Só pode ser piada- Ele sai andando.

-Noah! – Madson o chama. –Ele não vai morrer por causa disso, tem que confiar em mim- Ela o encara. Ele a olha e vira de costas voltando a andar para o fim do corredor.

Madson se apoia no balcão da enfermagem e respira fundo. O movimento no hospital se estabilizou. –Dia difícil? –Aron pega um pouco de café na máquina ao lado dela.

-Porque não me respondeu? Estava preocupada com vocês- Ela se vira e encara o corredor deserto.

-Levei a Tahisse para a maternidade desativada, os antibióticos não estão ajudando muito- Ele dá um gole no café. –Podemos nos ver mais tarde?

Madson se afasta do balcão. –Não estou com tempo! Noah trouxe um amigo para o hospital, tenho que conseguir outros antibióticos para Tahisse, enfim... estou sem cabeça- Ela desvia o olhar.

Aron vai até ela e põe a mão direita sobre o seu ombro. – Relaxa, não vai conseguir ajudar ninguém se você surtar.

-Eu sei, vou ficar bem- Ela entra no quarto de Troye.

Madson se aproxima de Noah. –Vem comigo. Quando comeu pela última vez? – Ela pergunta pegando uma bolsa se sangue vazia.

Ele a olha. –Sei lá, há umas sete ou oito horas.

-Ótimo- ela diz sentando ele na cadeira. –Tranca a porta, não deixe ninguém te ver- Ela vai em direção a porta do banheiro do quanto com Noah dentro. Ele encara seu sangue descendo pela mangueira transparente.

-Ei, Mad! – Ele a chama enquanto ela atravessa a porta, ela para de costas para ele. –Você disse que não podia fazer isso.

Ela volta a andar. –Eu passei a poder- Ela fecha a porta.



---



Dhonna entra em casa e se apoia no balcão da cozinha. Ela encara a mordida inchada em seu pescoço pelo espelho. –Droga- Ela diz para si mesma. Ela pega uma garrafa de Whisky no armário e dá quatro grandes goles direto da garrafa. –Agora sim- Ela diz indo até o quarto. Ela vai até o armário e olha suas roupas, um vestido vermelho chama sua atenção. Ela o pega e o põe sobre a cama. A banheira enche e ela põe três gotas que fazem a espuma cobrir toda a água. Dhonna respira fundo e deita com os cabelos presos. Ela dá mais um gole no Whisky. O dia está lindo agora, os pássaros voam pela janela, ela encara o céu azul o abraçando com os olhos. Ela começa a chorar, ela chora pela sua vida, chora por saber que não tem jeito. –Foda-se- Ela dá mais dois longos goles na bebida deixando o whisky descer pelo seu pescoço.

...

-Dhonna? – Andrew a acorda na banheira. –Onde estão as meninas? Esse é meu final de semana com elas- Ela o encara com a vista embaçada pelo sono. O homem alto de blusa social por dentro da calça cinza e gravata vermelha segura uma maleta de couro. –Dhonna? – Ele a encara e em seguida desvia o olhar para a garrafa de Whisky vazia tombada no chão.

-Elas não estão aqui- Ela se levanta completamente nua da banheira. Um pouco de sangue escorre do seu pescoço e desce pelos seus seios.

Andrew a encara assustado. –Meu Deus, o que aconteceu com você? – Ele diz passando uma toalha pelo corpo dela.

-Você não sabe? – Ela se encara no espelho e em seguida encara o ex-marido. –Eu vou morrer- Ela diz limpando a mordida com algodão.

Ele a segura quando ela ameaça cair no chão. –Você bebeu demais, vou te levar para a cama- Ele diz a pegando no colo.

-Está aí uma coisa que eu queria muito ouvir de alguém hoje- Ela ri encarando o rosto expressivo do homem alto de cavanhaque.

Ele a coloca na cama. –Eu vou te levar para o hospital- Ele diz pegando o celular no bolso da calça.

Ele é interrompido pelas mãos de Dhonna. –NÃO! – Ela diz segurando o braço dele. –Eles vão me matar lá, você sabe muito bem disso, não tem cura! – Dhonna se senta na cama coberta por lençóis brancos. –Eu não vou ser sacrificada como um animal doente! - Ela o encara. –Eu vou morrer do meu jeito! Com aquele vestido vermelho caríssimo, na minha cama... com uma boa garrafa de vinho- Seus olhos enchem d’agua. Ela desvia o olhar dos olhos de Andrew. –Vai embora- Ela encara a janela.

Andrew senta na cama. –Não pode me forçar a ir embora, porque eu não vou- Ele se deita ao lado dela e encara o lustre rustico. –Vou ficar aqui... e vamos tomar aquela garrafa de vinho que eu ganhei quando fui promovido- Ele a encara.

Dhonna sorri e solta algumas gargalhadas. –Eu escondi logo depois que você trouxe ela para casa- Ela ri.

-Você disse que tinha quebrado, botou a culpa na Giulia- Ele dá mais algumas gargalhadas. –Até hoje ainda não entendi o motivo de ter escondido a garrafa- Ele a encara.

Dhonna respira fundo e encara o teto de gesso. –Tinha acabado de descobrir o seu caso com a Mary, não acreditei que fosse um presente do seu chefe. Minha vontade foi quebrar mesmo... – Ela o encara. –Mas era uma garrafa de vinho tão cara... um desperdício- Ela sorri e volta a olhar para o teto.

-Eu me arrependo até hoje por ter estragado tudo- Ele diz olhando para ela.

Ela se vira e o encara de volta. –Ah Andrew, não estraga o momento, já superamos isso. Vai ser mais divertido morrer do que passar a noite te ouvindo pedir desculpas- Ela ri e se levanta.

Andrew se senta e a observa pôr o vestido. –Tem razão, sem drama- Ele se levanta e sai do quarto. –Vou abrir o vinho- Ele diz descendo as escadas.



---



Carol está andando pelas ruas do centro segurando um copo de cappuccino. Ela passa por uma banca de jornal. Seus cabelos ruivos voam com o vento, o sol está forte e a rua está cheia. Ela veste um short jeans, camiseta branca e uma blusa xadrez vermelha amarrada na cintura. Uma notícia chama sua atenção fazendo ela voltar a banca e tirar os óculos escuro. *África closes the doors to the world* (África fecha as portas para o mundo). Ela pega o jornal e se senta no banco em frente a banca velha de metal pichado. Os pombos preenchem parte do chão e crianças os espantam fazendo eles voarem juntos. *Considerado o maior foco do surto de febre vermelha depois da Ásia, a África fechou nessa madrugada todas as entradas do continente. Isolado do mundo o continente passou a emitir alertas nos principais países e declarou lei marcial em todo o território* -Meu Deus- Carol fecha o jornal e observa os carros passarem na rua.

Noah se senta ao lado dela. –Queria falar comigo? – Ele abaixa para amarrar o cadarço.

Ela o encara. –As coisas não estão normais entre a gente faz um tempo já- Ela volta a olhar para os carros.

-Não estão mesmo... e sinceramente, não sei se quero que voltem a ficar- Noah tira uma corrente do pescoço com um anel prata.

Carol continua encarando os carros. –O que aconteceu com a gente? – Uma lágrima desce pelo seu rosto branco com poucas sardas.

Noah se levanta e deixa a corrente com o anel no banco ao lado de Carol. –Eu não sei... - Ele sai deixando o cordão ao lado dela. –Desculpa- Ele diz de costas para ela.

Carol o observa virar a rua e chora baixo. Ela se levanta e passa as mãos no rosto secando as lágrimas. –Bom dia- Ela diz entrando na lanchonete.

-Ei- Maria vai até ela. –Você está bem?

Carol respira fundo amarrando o avental. –Eu vou ficar.

TV*-É perigoso e está se espalhando. Se você ainda não tomou sua vacina, garanta já a sua e a de sua família. Os casos de febre vermelha estão deixando centenas de cidades em estado de calamidade pública*

Carol escuta ao longe a notícia que passa na TV enquanto ela serve uma das mesas. –BATATA SUPREMA- A voz alta vem da cozinha.

Carol para no passa-pedidos aguardando. –Essa é sem molho- Ela diz ajeitando o avental.

A luz apaga fazendo os ventiladores ficarem lentos. –Spencer, o gerador não funcionou.

-Mas que merda, eu pensei que fosse me livrar dos apagões- Ele pega uma lanterna.

Ela vai até ele. –Instalou direito? Por que não deixou para os técnicos cuidarem disso?

Spencer a encara. -Cem pratas para eles conectarem dois fios?

-Pelo menos teríamos luz agora- Ela ri segurando a lanterna.

Ele desvia o olhar para a menina ruiva. –Estou gostando dessa intimidade, Carol... muito boa mesmo. – Ele a encara.

-Ok- Ela ri deixando a lanterna na mesa. –Vou voltar ao trabalho.

Ele pega a lanterna. –Melhor- Ele ri e depois balança a cabeça.

Um carro da fiscalização para na porta da lanchonete e em seguida três pessoas entram. –Posso ajudar? - Carol os recebe.

-Entregue isso ao dono, por favor- Uma mulher morena de cabelos cacheados entrega um papel para Carol.

Ela os encara. –Tudo bem. - Carol anda até o balcão vermelho iluminado apenas pela luz tímida do sol que entra pelas brechas das persianas atrás das mesas onde os clientes comem. Ela para em frente a caixa registradora e põe o papel. *Todo comercio está impedido de abrir a partir do dia vinte de dezembro de dois mil e quinze. Sujeito a perda do alvará de funcionamento e desapropriação do imóvel vigente no código 07.434-09 em prol de força maior durante prazo indeterminado. Fica expressamente proibida a entrada de funcionários e clientes, carga e descarga e qualquer funcionalidade não listada. Obrigada pela compreensão. Suzzan Aquiles, governadora de Nevada. *

-O que é isso? - Spencer para ao lado de Carol e os outros funcionários que leem o documento.

A luz volta fazendo os ventiladores e as TVs ligarem. –O pessoal da fiscalização deixou aqui.

Spencer pega o documento. –Só pode ser piada, estamos em alta temporada.

Alguém abre a porta da lanchonete fazendo o sino tocar. O jornaleiro entra deixando uma pilha de vinte jornais em cima do balcão. Spencer o encara. –Valeu Phill, acerto com você no final de semana.

Lizza, outra garçonete vai até a pilha de jornais e pega um. A capa do jornal, um homem que cambaleia em um parque na Califórnia ganhou destaque mundial e tomou o topo dos assuntos. *The Deads walk* Ela encara a foto e em seguida abre o jornal passando as páginas até chegar a página da notícia. *Agressivo, homem se levanta depois de ser declarado morto em um acidente. O homem identificado como Austin Calliano foi declarado morto após a chegada das equipes médicas minutos depois do acidente grave entre o carro e um ônibus de viagem. Poucas pessoas se feriram, Austin foi levado pelos paramédicos e teve que ser amarrado após morder duas pessoas as deixando em estado grave. Ainda não sabemos o motivo do comportamento, os paramédicos disseram nunca terem visto algo do tipo. Exames serão realizados para saber se Austin teria ingerido algum tipo de droga que possa ter se misturado ao estresse e adrenalina e posteriormente causado o que os especialistas chamam de choque grave, quando uma pessoa perde totalmente os sentidos se tornando momentaneamente instável. * -Essa é da boa- Lizza ri colocando o jornal de volta ao lugar. Um noticia chama a sua atenção e ela aumenta o volume da TV*-Pode ser alguma variação da raiva. Não é possível as pessoas estarem desenvolvendo os sintomas tão rapidamente. Todos os envolvidos no acidente na Califórnia foram localizados e vão ficar em quarentena até sabermos melhor como desenvolve e como foi passado de uma pessoa para outra*

-Cada dia uma merda diferente para nos foder- Spencer diz assistindo a matéria.

Carol o encara. –Parece ter sido sério- Ela tira o avental. –Vai precisar de mim para mais alguma coisa?

-Não, pode ir-Ele apaga a TV. -Chega mais cedo amanhã, vamos contar o estoque.

Ela pega sua bolsa atrás do balcão e caminha em direção a porta. –Ok. Até amanhã.

...

-Oi mãe- Carol entra na casa e põe a bolsa em cima da mesa de centro.

Callie vai até ela e a beija na testa. –Oi querida.

-Onde vai?

-Vou buscar seu irmão no aeroporto.

Carol se senta no sofá de tecido marrom. –Meu pai não ia buscar ele?

Callie respira fundo. –Como se o seu pai cumprisse com o que fala- Ela desvia o olhar para Carol. –Desculpa querida, eu não devia ter dito isso.

-Tudo bem, ele nunca cumpre mesmo.

Callie vai até ela. –Ei, seu pai é um homem incrível e ama vocês. Não deixe que meus problemas com ele interfiram na relação de vocês.

Carol respira fundo.

-Não sai de casa. Está impossível andar na rua com esses apagões.



---



-Não entendo- Tara anda de um lado para o outro na varanda do café. –Porque ela não morria? – Ela encara Karen assustada.

-Eu não sei- Karen prende os cabelos com um rabo de cavalo. –Você viu os tiros? Ele atravessou o tórax dela- Karen se levanta e vai até a sacada.

Dhavilla vai até elas segurando uma bandeja com café e xícaras. –E se todos forem assim? Não teremos a mínima chance- Ela põe a bandeja sobre a mesa de centro ao lado de uma palmeira. –Podemos tentar pelas montanhas- Ela se senta suspirando e olhando para as pernas inchadas.

-Vamos morrer congelados em dois dias se tentarmos subir as montanhas- Lenna segura Lisa no colo. O clima é de angústia, ninguém sabe o que está acontecendo ou o que vai acontecer e a real possibilidade de um confronto os assusta como se um tsunami estivesse vindo na direção deles. O clima está gélido, um nevoeiro forte desceu as montanhas. As ruas estão brancas pela névoa densa. Um tiro é disparado fazendo Karen tremer na sacada da varanda.

-Está ficando cada vez pior- Lenna diz entrando com Lisa.

Alisson desce as escadas com os cabelos ruivos molhados, ela está segurando uma toalha e massageado os cabelos de baixo para cima. –Gente, liguem a TV no canal 8- Ela diz se sentando em uma das poltronas. Lenna pega o controle remoto e liga a TV.

*-Famílias inteiras que visitavam o continente Africano estão impedidas de voltar para casa, estamos com a estudante Alicia em uma chamada de vídeo agora. Alicia, nos conte o que está acontecendo aí- A câmera da jornalista da entrada ao vídeo de Alicia sentada na cama com os olhos inchados e rosto vermelho. –Quero voltar para casa- Ela diz soltando o choro. –As pessoas enlouqueceram aqui. Tem um surto de um tipo de vírus, não sei muito bem, mas não é a febre vermelha. Seja lá o que passa na TV de vocês, não está passando o que realmente está acontecendo- A câmera volta a filmar a jornalista. –O que está acontecendo aí Alicia? – Ela fica aguardando a resposta. –Alicia? – Ela encara o cinegrafista e balança a cabeça em um gesto de querer saber o que aconteceu. –Perdemos o contato? – Ela pergunta mais baixo afastando o microfone do rosto. Ela pressiona o retorno no seu ouvido e ouve alguém falar com ela, ela leva o microfone de volta a boca –Infelizmente a ligação caiu, tentaremos contato com alguém de novo e em breve voltaremos com mais notícias*

Lenna muda o canal, mas a maioria só transmite comunicados de emergência. As poucas emissoras que ainda funcionam, passam programas repetidos, nada mais está sendo gravado.



---



-Noah! – Madson se senta ao lado dele. –Chega! Você está fraco- Ela diz colocando a mão na bolsa cheia de sangue O negativo.

Ela é interrompida por Noah. –Estou bem- Ele diz segurando a mão dela. –Está tudo bem- Ele vomita ao lado da cadeira.

Ela lacra a bolsa de sangue. –Não vai adiantar nada se você acabar precisando de sangue também- Ela se abaixa ao lado dele. –Você já fez o que pode, vai comer alguma coisa- Ela se levanta. –Segura isso aqui- Ela diz encaixando a mangueira de soro na agulha em seu braço. –Você vai se sentir melhor agora- Ela o abraça e sai do quarto com a bolsa de sangue nas mãos.

Noah vai até o banheiro e lava a boca. –Droga- Ele diz se ajoelhando ao lado do vaso. Ele se levanta e lava a boca de novo.

O corredor está vazio. Algumas vozes são ouvidas ao longe dentro das alas. Ele caminha pelo corredor arrastando o ferro com o soro até chegar em uma máquina de refrigerantes, ele coloca uma nota de 1US$ e escolhe uma Coca-Cola. Ele espera. A máquina treme, mas a lata não desce. –Qual é! - Ele aperta o botão diversas vezes e nada. –Merda- Ele chuta a máquina e em seguida escuta dois médicos conversando.

-Os hospitais daqui vão ser evacuados para a Geórgia- Eles caminham na direção da máquina, Noah se esconde. –Acho que tem alguma coisa a ver com o surto da África, pensei que já tinha acabado- Eles se aproximam. –Não entendo, se já está no ponto de evacuar os hospitais, porque as estradas estão sendo liberadas? – Eles passam pela máquina. –Sei lá, talvez seja algum tipo de protocolo- Eles passam por Noah que está escondido atrás de uma porta. Ele sai e fica ao lado da máquina encarando os dois homens andando pelo corredor. A máquina começa a tremer e cospe várias latas de refrigerante quebrando o silencio e assuntando Noah.

...

Ele corre pelo corredor. –MAD- Ele entra no quarto onde Madson checa a pressão de um idoso.

-Oi, só um minuto- Ela diz com o estetoscópio no ouvido olhando o marcador enquanto a bolsa de ar murcha no braço do homem. -13 por 8- Ela sorri. –Foi só um susto, qualquer coisa é só gritar, estou no fim do corredor- Ela diz saindo do lado da cama e indo em direção a Noah. –O que foi? – Eles saem do quarto e começam a andar em direção ao quarto de Troye.

-Eu estava pegando um refrigerante, ouvi dois homens conversando- Ele a encara. –Eles falaram que o hospital vai ser evacuado- Ele encara Troye pela janela do quarto.

Madson o encara. –Tem certeza que ouviu certo?! –Ela observa o corredor. –Não estou sabendo de nada- Ela desvia o olhar para Noah.

-Tenho, eu ouvi, os hospitais vão ser evacuados para a Geórgia- Ele continua a encarando. Madson se vira e começa a andar. -Onde você vai? – Noah pergunta ainda parado em frente à janela de vidro larga.

-Preciso falar com uma pessoa- Ela diz sem olhar para trás.

...

Madson entra apressada na maternidade desativada. –Aron? – Ela encara o quarto com iluminação baixa. –Aron? – Ele se levanta do sofá.

-O que foi? – Ele pergunta indo até ela.

Madson vai até Tahisse e a encara pálida e desacordada. –Vão evacuar os hospitais- Ela diz se sentando no sofá.

Aron vai até ela. – Eu ouvi sobre isso semana passada, achei que fosse demorar mais- Ele se senta também.

-Porque vão fazer isso? Digo, as coisas voltaram ao normal- Ela encara o copo de café vazio tombado no chão cinza.

-As coisas não voltaram ao normal, Mad, estão piorando- Ele se vira para ela. –Vem comigo- Ele se levanta e segura na mão dela.

Eles caminham até o fim do corredor e entram no corredor do necrotério. Eles continuam andando até chegarem a porta por onde Madson e Tahisse fugiram. –Vou abrir, tudo bem? – Ele a encara.

-Esse é o pátio onde cremam as roupas de cama- Ela o encara sem intender o porquê de estarem ali.

Ele leva as mãos a maçaneta e respira fundo. –Eles não estão cremando só roupas de cama aqui- Ele abre a porta verde de duas folhas.

-Meu Deus- Madson leva as mãos a boca encarando os milhares de corpos enrolados em lençóis brancos. Corpos de todos os tamanhos, pequenos como bebês, do tamanho de crianças e adultos. É possível ver o cabelo de alguns deles saindo pelo lençol mal colocado. Ela bloqueia o nariz com a mão direita. O cheiro forte de carne podre misturados com o cheiro de carne queimada e produtos químicos fazem Madson entrar de volta para o necrotério.

-O que vamos fazer com a Tahisse? Eles vão matar ela- Ela diz encarando os mortos amontoados em diversas pilhas e alinhados no chão- Aron fecha a porta deixando a sala escura.

-Vamos dar um jeito, ok? – Ele a abraça.

...

Noah encara a rua pela janela do quarto. Vários helicópteros passam por cima do hospital sentido ao centro da cidade. –O que está acontecendo? - Ele pergunta para si mesmo. Um grito de uma mulher que passa correndo pela pista entra no quarto abafado pelo vidro. Ela corre segurando uma bolsa. Ele continua encarando, mais duas pessoas passam correndo, Noah começa a ficar assustado. Alguns gritos são ouvidos ao longe e um homem passa correndo com uma criança nas costas. Um carro bate no poste com força fazendo ele cair arrebentando os fios. Ele se afasta da janela assustado quando diversas pessoas começam a passar correndo pela pista de quatro vias. Um barulho ensurdecedor faz Noah levar as mãos ao ouvido. Um clarão invade o quarto e o impacto faz o hospital tremer jogando ele no chão. Ele tenta se levantar, seus ouvidos estão zunindo, ele mexe o maxilar e pisca os olhos com força, sua cabeça dói, ele vê pessoas correndo pelo corredor. O teto de gesso racha deixando descer fios de poeira branca, a luz se apaga. –MAD! – Ele se levanta e anda até a porta do quarto. Outra explosão abala a estrutura do hospital, os corredores se enchem de poeira.

Um médico entra no quarto. –Temos que tirar vocês daqui- Ele diz puxando a maca de Troye.

...

Madson acorda e encara o teto iluminado pelo fogo, ela está tonta. Ela se vira e olha para Aron caído ao lado dela. –Aron... ei- Ela o balança. Sua cabeça dói. –Aron? Acorda- Ela vira a cabeça dele e encara seus olhos abertos e sem vida. Sua cabeça sangra. –Não, meu Deus por favor, não- Ela começa a chorar. Ela se arrasta até ele ainda chorando. Ela parece não acreditar no que vê. O sangue da cabeça de Aron forma uma poça em volta dele, Madson se suja enquanto tenta o reanimar, ela chora alto e grita batendo no peito dele. –Aron, por favor- Ela continua. Seus cabelos loiros descem pelo seu rosto vermelho pelo choro, ela leva as mãos sujas de sangue a cabeça, ela treme, o balança, checa seu pulso e em seguida o abraça. –Eu sinto muito Aron- Ela o abraça mais forte, suas lagrimas descem em meio a soluços longos e constantes. Ela fecha os seus olhos com as mãos sujas de sangue e encara a porta.

Ela se levanta e anda até a porta encarando o corredor bloqueado pelo fogo. –ALGUÉM? - Ela grita. –ALGUÉM ME AJUDA- Ela tosse, a fumaça começa a encher todo o ambiente. Ela olha para o outro lado do corredor e encara uma porta com um desenho de uma escada.

...

-ESPERA- Noah segura o homem. –CADÊ A MADSON? - Ele pergunta.

O médico volta a andar com a maca. –Não sei, temos que sair daqui- Ele diz desviando os olhos de Noah para uma mulher que passa correndo.

-Ela pode estar aqui dentro ainda, não podemos ir- Ele para. O médico continua a puxar a maca. –Espera, ela ainda está aqui- Ele tenta segurar o homem de jalecos que não o olha. –Está me ouvindo?

O médico respira fundo e o encara. –Dê seu jeito então!- Ele diz largando a maca e começando a correr pelo corredor.

-COVARDE- Noah treme encarando Troye desacordado e em seguida olhando o corredor com as luzes piscando, o cheiro de queimado já preenche todo o ambiente. –MAAAD- Ele grita empurrando a maca pelo corredor que agora já está coberto por uma mistura de fumaça e poeira.

...

Madson sobe as escadas e tropeça em um dos degraus, somente as luzes de emergência vermelhas iluminam as escadas de incêndio. Ela abre a porta do A5 (quinto andar) e encara a turbina do Boeing 777 ainda rodando dentro do hospital. Metade do hospital foi totalmente destruído junto com parte do bairro com a queda do avião com 342 passageiros. O som da turbina é ensurdecedor e faz Madson recuar. Ela olha em volta e observa as paredes caídas. Uma coisa chama a sua atenção, uma mulher se levanta. –Não se mexe! Eu vou te ajudar- Ela entra no andar devastado e aberto pelo avião e corre na direção da mulher. Ela olha em volta e observa dois homens se levantando ao lado. Alguma coisa mexe em seu pé, uma mulher esmagada por uma parede tenta puxar sua perna, seus olhos estão brancos. Madson olha em volta e repara nos sobreviestes que cercam ela aos poucos –Meu Deus- Ela diz quando percebe o que está acontecendo. –Merda- Ela tenta recuar e bate em uma criança que tenta morder sua cintura. Ela desvia e bate em uma mulher que estica os braços para agarra-la. Ela se vê sem saída e fecha os olhos. Três tiros a assustam, ela olha para trás e encara o policial, ao lado dele Tahisse tenta se manter de pé.

-VAMOS- Ele grita. Madson corre e põe o braço de Tahisse sobre seu ombro e a ajuda a andar, o policial fecha a porta e eles descem as escadas.

-MAAAAD- Noah grita cobrindo o rosto com a blusa.

-AQUI- Madson grita indo até ele. –Graças a Deus- Ela o abraça.

Madson olha em volta e encara os corredores. –Precisamos sair do hospital- Ela puxa a maca e entra no corredor que vai até o refeitório.

-Ah Madson, que bom que você está bem- Sarah a abraça. –Eu trouxe todos que estavam na pediatria para cá, tentei sair do hospital com eles... aquelas coisas estão por todo o lugar- Ela diz fechando a porta. –E Aron? – Ela pergunta encarando Madson. Seu rosto muda quando Madson balança a cabeça em sinal de não e em seguida chora. –Vem cá- Sarah a abraça de novo.

Madson limpa os olhos com o jaleco. –Onde estão todos? – Ela pergunta desabotoando o jaleco sujo de sangue.

-Foi tudo muito rápido- Sarah diz se sentando ao lado de uma garotinha sem os cabelos. –Não vi sobreviventes da UTI para trás, morreram todos, demos sorte- Ela diz dando um gole no suco. –Só fui saber que foi um avião quando vi uma daquelas coisas vestida de comissária de bordo comendo um paciente. Eles se espalharam rápido caindo de um andar para o outro pelos buracos que os destroços fizeram- Ela se levanta.

Noah pega um pouco do suco. –Tem alguma outra saída?

-Se conseguirmos atravessar o corredor, podemos ir pelos leitos três e quatro até a saída lateral- Madson diz olhando pelo vidro da porta.



---



-Ei sra. Anderson, é o hospital da Madson- Anna diz olhando o noticiário.

Wanda corre e pega o controle aumentando a televisão. *Um avião comercial fez um pouso forçado destruindo parte do hospital estadual de Las Vegas. As equipes de socorro foram enviadas e o exercido está cercando o local, ainda não se sabe o motivo que levou o piloto Liam Danavan de cinquenta e seis anos pousar em uma área movimentada. As buscas pela caixa preta irão ser iniciadas logo após a busca por sobreviventes* -Anna, vamos- Ela diz abrindo a porta da casa.

...

Wanda chega até o cordão de isolamento feito pelo exército e encara o hospital em chamas. Ela entra em desespero. –ALGUÉM VIU MINHA FILHA? – Ela olha em volta, centenas de pessoas estão sendo atendidas por médico do exército e colocadas nos helicópteros. -MADSON- Ela grita ainda olhando em volta. Ela vai até uma mulher que segura uma lista de sobreviventes. –Por favor, Madson, Madson Anderson- Ela pergunta para a mulher que começa a ler a lista procurando o nome.

-Eu sinto muito- Ela diz encarando Wanda.



---



-Vamos agora- Madson diz abrindo a porta de duas folhas com janelas de vidro. Ela desvia de uma maca que está tombada no corredor, alguns fios desencapados descem do forro e soltam faíscas com intervalos de alguns segundos iluminando as paredes brancas com listras azuis e vermelhas. –Em silêncio- Ela diz olhando para as crianças que encaram os corpos no chão assustadas.

Madson sai acompanhada pelo policial que segura a pistola apontada para frente e logo atrás Noah empurra Troye na maca de ferro pesada, as rodas fazem um barulho agudo pelo chão marcado de pegadas de sangue. As crianças vão de mãos dadas e por último Sarah. O corredor está coberto por fumaça branca e poeira.

Alguns mortos começam a aparecer saindo das alas da enfermagem. –DROGA- Madson grita quando um deles estica os braços pela janela fazendo ela se jogar na parede. Em seguida alguns começam a sair das alas e Madson empurra um deles contra a parede para abrir caminho para o grupo. –RÁPIDO, ENTREM AQUI- Ela diz encarando o corredor dos leitos. Eles correm e entram, Madson fica para trás e empurra um deles para o chão. –SÃO MUITOS- Ela diz encarando o policial que põe Tahisse desacordada no chão frio. Ele começa a atirar, o barulho dos disparos ecoa alto pelo corredor fazendo todos levarem as mãos aos ouvidos. –RAPIDO SARAH- Ela diz olhando Sarah tentando pôr o código na porta. Ele atira mais algumas vezes e Madson continua empurrando, uma das crianças grita.

-Meu Deus- Sarah diz para si mesma. –MADSON- Ela grita. Madson vira para trás e encara sua amiga. Tahisse está se levantando, seu maxilar se mexe para os lados, seu cabelo pende pelo seu rosto pálido e frio. Ela treme em espasmos musculares sem fim, mais faíscas iluminam o corredor destacando os olhos brancos e mortos de Tahisse.

-Não Tahisse... você não- Ela diz deixando algumas lágrimas descerem. Ela perde o foco ficando alheia a situação, seus braços ficam fracos e o homem de olhos brancos se solta dos braços de Madson indo em direção ao seu corpo em choque.

-MAD- A voz de Noah ecoa pela cabeça dela enquanto o homem morto se aproxima de seu pescoço. –MAD- Ele corre na direção dela. Tahisse começa a se aproximar, ela geme, abre e fecha a boca mexendo o maxilar. O policial atira na cabeça do homem faltando menos de 2 centímetro da boca dele para o pescoço dela. Ela desperta a tempo de se defender de Tahisse

–AAAAAAAAAAH- Madson grita empurrado Tahisse na parede. Sarah abre a porta e as crianças entram. Noah deixa Troye perto das crianças e volta para ajudar. Os tiros cessam e o policial é segurado pela perna caindo no chão, ele grita quanto os mortos começam a subir por cima dele arrancando partes do seu corpo com mordidas fortes. O sangue espirra sujando as pernas de Madson que encara o homem sendo devorado no chão sem poder fazer nada.

-MAD- Noah grita puxando Tahisse pelo pescoço jogando ela no chão –Não podemos ajudar- eles se abraçam. –Eu sinto muito- Ele diz encarando Tahisse. Eles correm e entram no outro corredor onde Sarah tenta abrir outra porta. –Droga- Ele diz quando repara que a porta não fecha por dentro. Eles estão encurralados, de um lado os mortos caminham em direção a eles e do outro Sarah tenta abrir a última porta que separa eles da recepção.

-NÃO VAI DAR TEMPO- Sarah grita tentando pôr o código na porta –A PORTA DESSE CORREDOR SÓ TRANCA POR DENTRO, ESTAMOS CERCADOS- Madson olha em volta e encara as crianças chorando no chão, ela observa Noah correr até Sarah e depois olhar para ela com o olhar assustado, tudo se passa em câmera lenta, os ouvidos dela começam a zunir. Ela encara Sarah chorar na porta tentando desenfreadamente acertar o código, ela desvia o olhar para o corredor onde dezenas de mortos se arrastam na direção deles. A respiração dela é a única coisa que ela consegue ouvir, seu coração bate forte em sintonia com seus pensamentos confusos. Ela caminha até a porta que divide um corredor do outro.

Noah a encara, ele se levanta quando ela atravessa a porta e se vira para eles. –MAD? – Ele começa a andar em direção a ela. –MAD! NÃO! – Ele começa a correr, Sarah a encara.

-Boa sorte- Madson aperta o botão fazendo a porta do corredor fechar. Ela observa Noah correr em sua direção. –Eu sinto muito! Vou dar uma chance para vocês- As lágrimas descem pelo seu rosto branco, seus cabelos loiros estão presos, alguns fios descem pelo seu ombro. –Vocês não vão morrer aqui!

-NÃAO- A voz dele fica distante, ela sorri e é completamente escondida pela porta que tranca fazendo um estalo alto.

-NÃO, NÃAAAAO, POR FAVOR- Ele grita batendo na porta, ele chora e desce ao chão. –Mad.

Madson leva as mãos a porta e chora encostando a testa no metal frio da porta de divisão.

Todos encaram Noah bater na porta, as crianças choram baixo. Sarah treme levando as mãos à cabeça. Tudo fica com fuso, Sarah abre a porta e a luz da recepção preenche os olhos de todos. Eles abrem a porta do hospital e várias pessoas correm até eles, Wanda sorri quando vê as crianças saindo com Noah, ela corre até ele e o abraça. –Graças a Deus- Ela diz desviando o olhar para a porta esperando Madson sair. A cada criança que sai o coração de Wanda bate mais forte, seu sorriso vai dando lugar a uma feição séria até ser totalmente substituído por um rosto frustrado com olhos paralisados e brilhantes. Sarah sai e fecha a porta, Wanda encara Noah que chora e a abraça.

-Eu sinto muito- Ele diz a abraçando forte. –Me desculpa- Ele chora. Wanda desvia o olhar para porta do hospital ainda sem reação.



Noah chora ao fundo, Wanda se aproxima do hospital e é segurada por um dos soldados. –Não... ela ainda está lá dentro, certo? – Ela pergunta olhando para Noah que abaixa a cabeça. –Temos que entrar lá... temos que ajudar minha filha a sair- Ela diz com a voz rouca e fraca pelo choro que começa a dominar a mulher em choque. –Vocês não estão me ouvindo? Minha filha ainda está lá dentro! – Ela se debate tentando se soltar dos braços do homem que a segura. Os tanques de hidrogênio explodem fazendo a parte da frente do hospital ceder. Wanda cai de joelhos no chão. –MADSON- Ela grita sendo segurada pelo homem enquanto a poeira invade a rua como uma névoa que desce a montanha.

Capítulo 5 - MAD
























*-Há pouco menos de um mês o mundo vem enfrentando um inimigo desconhecido. Nós não dormimos desde então! Nossa prioridade máxima foi tentar de todas as formas impedir a entrada disso em nosso país-* Milhões de pessoas estão paradas nas ruas, bares, dentro de casa. Famílias inteiras assistem o pronunciamento do presidente dos EUA. *–Há duas semanas o primeiro caso de febre vermelha foi confirmado em nosso território. Essa não é uma luta só nossa, é uma luta mundial! Nos juntamos á sessenta e sete países aliados e não aliados para tentar reverter essa situação. Infelizmente, muitos países não tem a nossa tecnologia ou a nossa força, começamos a agir cedo e por isso estamos aqui, firmes. É hora de vocês saberem a verdade. É hora de vocês terem noção da dimensão do inimigo que estamos enfrentando para que possam nos ajudar a proteger o nosso país! A partir de hoje a imprensa está livre para cobrir os casos de febre vermelha. Iremos retirar o bloqueio na comunicação interna e externa, vocês precisam... –A luz cai desligando praticamente tudo, somente as luzes conseguem ficar acesas, fracas, mas acesas.

-Sra. Anderson? – Anna desce as escadas segurando uma boneca de pano, seus cabelos estão soltos, ela veste um pijama azul claro com sorrisos.

-Oi querida, foi só uma queda de luz- Ela diz tirando alguns eletrodomésticos da tomada. –Melhor tirar tudo da tomada, se a luz voltar com pico de energia vai acabar queimando tudo- Ela diz tirando a geladeira da tomada. Algo chama a atenção de Wanda na janela. Ela se aproxima e a abre. Os prédios no centro da cidade começam a apagar e em seguida quadras inteiras começam a ficar no escuro. A luz vem apagando em sequência de fase até deixar Wanda no escuro. Ela continua observando pela janela, algumas quadras reacendem, outras piscam. A luz na casa dela reascende iluminando o rosto assustado de Anna. Uma grande explosão estremece toda a casa e enfim as luzes se apagam por toda a cidade de uma só vez.

As sirenes de emergência começam a tocar por todo o bairro, geralmente essas sirenes são acionadas em casos como tornados ou algum evento catastrófico.

-O que está acontecendo? – Anna pergunta correndo até Wanda. Ela dá as mãos a Anna, alguém bate com força na porta principal assustando Wanda. Ela abre a porta de casa e encara os oficiais do exército, em seguida ela olha em volta e repara nos soldados batendo nas outras casas.

-Pegue suas coisas em desça para o porão! Não suba até desligarmos as sirenes. – Ele ameaça virar as costas, mas Wanda o segura.

-O que é isso? Algum tipo de treinamento? Ouvi uma explosão. – Ela encara o homem que segura um rifle de assalto. Carros de polícia passam em alta velocidade pela rua iluminando as pessoas assustadas nas calçadas.

Ele puxa o braço. –Tira sua neta daqui de cima. Estaremos no canal emergencial caso precise.

Ela observa o homem indo em direção a outra casa. -Wanda? – Uma mulher se aproxima com um carrinho de bebê. –O que é isso? – Ela pergunta parando o carrinho ao lado dela. Tiros começam a ser ouvido, as pessoas começam a gritar e correr na rua. Uma frota do exército passa com tanques e carros blindados pela rua. Mais tiros são disparados na rua ao lado. Os postes de luz piscam, a luz volta e um transformador explode jogando uma chuva de faíscas para cima acabando com a luz novamente.

-SAIAM DAS RUAS, ENTREM E TRANQUEM AS PORTAS- Um homem que passa em um dos carros do exército diz em um megafone. –ENTREM AGORA! SÓ SAIAM QUANDO AS SIRENES PARAREM DE TOCAR.



--



-Que loucura- Troye encara a janela do quarto de Noah. –Apagou tudo- Ele diz se virando para Noah que está deitado na cama de barriga para cima. –Ah, qual é? Sabe que eu gosto da cama de cima, sou visita- Ele diz tacando o tênis nele.

Noah se protege do tênis com o travesseiro. –Visita? Para com isso! Você vem mais aqui do que eu- Ele diz tacando o tênis de volta com mais força. –Só vou descer porque eu gosto mais da cama debaixo- Ele diz descendo as escadas da cama de madeira. Troye tira a camisa, ele é magro, mas seu corpo é levemente definido, não muito alto com cabelos castanho claro.

-Cara, preciso de uma bermuda- Ele diz tirando a calça jeans preta, ele está usando uma cueca box cinza, suas pernas são levemente cobertas por pelos até a altura da coxa mais branca que o restante do corpo. –Eu não sabia que ia dormir aqui, não trouxe nada, só os livros.

Noah deita na cama sem camisa, ele sempre foi um garoto quieto. Branco, não muito alto também, cabelos negros como os da mãe jogados para trás, barba rala e cerrada, geralmente usa toucas e roupas de moletom. A luz da lua é a única coisa que ilumina o quarto escuro. A luz branca passa pelos vidros da janela e ilumina Noah na cama. Ele está deitado de barriga para cima, ele tem um corpo normal, peitos largos e levemente saltados, sua barriga é um pouco definida, não muito, poucos pelos descem até entrar na cueca samba canção. –Cara, não tem ninguém em casa, a Mad está no hospital e Anna está com sra. Anderson, não precisa por bermuda- Ele diz olhando a sombra da arvore no forro do quarto.

-Ok- Ele coloca o celular ao lado do computador de Noah.

-Troye, aproveita que está em pé, abre a janela aí. Está foda o calor- Ele ri quando termina de falar.



---



Aron entra no quarto onde Madson dorme ao lado de Tahisse. –Mad- Ele a balança de leve a despertando aos poucos. –Mad- Ele chama mais uma vez. Ela abre os olhos e os esconde com a mão. –Seu plantão começa em dez minutos- Ele diz dando um beijo na testa dela e a entregando uma sacola de papel com café e sanduiche.

-Como vou entrar em plantão? Não posso deixar ela sozinha aqui- Ela se levanta e abre a sacola. –É arriscado- Ela diz soprando o café. –Não podemos abaixar a guarda, Aron.

Aron vai até ela. –Vamos continuar vindo aqui sempre, você pegou vinte e quatro horas só- Ele estende as mãos para ela.

Madson vai até o banheiro e lava o rosto. –Só? É o dobro do meu horário normal. - Ela solta o cabelo que cai por cima dos ombros. Aron entra no banheiro e a entrega o jaleco. –Obrigada- Ela veste e dá um beijo nele.

-Tem sorte de só terem dobrado. A maioria dos médicos não podem mais deixar o hospital.

-Quando isso tudo vai acabar? - Ela apoia os braços na pia de mármore.

...
Madson atravessa a porta de duas folhas e passa pela ala de espera. –Ei, Mad! – Sarah se aproxima abotoando o jaleco. –Como você está? Não te vi mais depois daquela loucura- Ela diz indo no balcão pegar café.

Madson para ao lado dela e pega um copo de papel. –Eu estou tomando conta dos filhos dos meus vizinhos- Ela aperta o botão da máquina de cappuccino. –Tem açúcar aí? – Ela pergunta encarando o pote vazio ao lado. Sarah passa outro pote de açúcar para Madson. –Obrigada.

-Isso aqui tem sido um inferno- Sarah para atrás do balcão. –Hoje está calmo, por enquanto.

-Aron me contou que o movimento está forte- Madson adoça o cappuccino.

-Eu vou embora- Sarah respira fundo. –Vou voltar para o interior.

Madson desvia o olhar para Sarah. –Seus avós moram lá, certo?

-Sim. Não estou aguentando isso aqui. Muitas mortes, muitas regras... quase não me sinto humana.



---



Troye força a janela de vidro. –Cara, está emperrada aqui- Ele diz tentando forçar a janela para cima.

Noah o encara. –Faz força- Ele ri e volta a olhar para o forro. Troye encara a rua escura, iluminada pelos carros de polícia que passam em alta velocidade a todo o tempo. Ele começa a ouvir tiros e clarões pelas outras ruas.

-Não é possível, isso não vai abrir- Ele diz dobrando os joelhos e os esticando. Seus braços tremem e seus poros começam a suar. –Que droga- Ele empurra de novo. A janela quebra, o barulho dos cacos grandes caindo e se estilhaçando no chão preenche todo o ambiente. Troye é arremessado para trás pelo impacto da bala e cai no chão ao lado de Noah.

Noah se levanta assustado e abaixa ao lado de Troye. –Não, Troye? Acorda! Por favor cara, ACORDA- Ele o sacode, Troye tosse fazendo sangue sair por sua boca. –Fica calmo, fica comigo- Ele diz colocando as mãos sobre o furo no peito de Troye. O sangue atravessa por seus dedos e escorre por toda a barriga até encharcar a cueca cinza. –Troye? – Ele o sacode quando o vê fechando os olhos de novo. –Fica acordado!- Ele veste uma bermuda e o pega no colo. O sangue pinga e encharca a bermuda de Noah, as lagrimas começam a escorrer dos seus olhos enquanto ele o carrega pela escada. –PORRA! –Ele grita quando abre o painel de chaves e não encontra a do carro. –Ok, está tudo bem- Ele diz para si mesmo com Troye nos braços. Ele entra com ele na garagem escura e encara o carro. Noah olha em volta, tudo está escuro. Ele corre até a porta e a levanta manualmente. A luz da lua invade a garagem até tocar o chão sujo pelo sangue de Troye, ele corre até o carro e tenta abrir a porta na esperança dela estar destrancada. –Que merda, MERDA!- Ele diz olhando Troye no chão. Noah olha em volta, ele leva as mãos à cabeça e encara uma pá de obra, ele a pega e vai até a porta do motorista. O vidro trinca, ele bate mais uma vez com mais força, o vidro se esfarela caindo para dentro do carro. Ele abre a porta traseira por dentro e pega Troye no colo, em seguida Noah o deita no banco e vai até a caixa de ferramentas amarela no final da garagem escura com prateleiras de madeira. Ele crava a chave de fenda de cabo vermelho na ignição e a roda, o carro liga acendendo os faróis. –Por favor Troye, só mais um pouco- Ele encara o amigo deitado desacordado pelo retrovisor.



---



-Tassia? Segura a sua irmã- Dhonna está abaixada atrás do carrinho ao lado da mulher com o bebê. As luzes do WALMART se apagaram e a movimentação fora do mercado fazem as caixas entrarem para os corredores. Uma das atendentes corre pelo corredor deles. –Ei, o que está acontecendo? – Dhonna pergunta iluminando a menina ruiva com o celular.

Ela se abaixa ao lado deles. –Eu não sei, ouvi tiros- Ela prende os cabelos com uma fita. –Acho que tem algumas daquelas coisas do lado de fora- Ela abre o primeiro botão da camisa branca com crachá *Sophia Loham*

-Tinha um deles aqui dentro, vimos o segurança matar- Diz a mulher pegando o bebê no colo. –Precisamos chegar no carro- Ela se levanta.

O hipermercado está totalmente escuro e silencioso, passos são ouvidos por todos os lados. O silêncio é quebrado por um grito agudo e em desespero. –Samanta? – Sophia se levanta e corre até sumir do alcance dos olhos de Dhonna.

Dhonna se levanta e se apoia em uma prateleira repleta de molhos. –Temos que ir agora! - Ela pega Giulia e a põe dentro de um dos carrinhos. O casal se levanta e a mulher cobre o bebê com o manto que estava dentro do carrinho. Mais um grito é ouvido, mais perto e mais alto. –Tassia, não sai de perto de mim- Ela diz lutando para enxergar o caminho. O carrinho bate em alguma coisa que cai no chão com o impacto. O barulho os assusta, Dhonna não sabe em que ou em quem ela bateu, não dá para ver nada.

-O que foi isso? – Tassia pergunta tentando ligar a lanterna do celular. –Mãe? –Ela pergunta de novo.

Dhonna puxa o carrinho para trás. –Volta- Ela sussurra. O homem puxa a mulher pelo braço, ele segura a arma que estava em sua cintura. –Por aqui- Ela diz entrando em um corredor frio, provavelmente o setor de congelados. Alguém corre de salto perto deles, o chão estala em cada passo. Eles continuam, a fumaça pesada e fria que sai dos freezers bate na perna de Tassia fazendo todo seu corpo se arrepiar. O silêncio absoluto cai sobre o mercado escuro, somente as rodas dos carrinhos são ouvidas. O silêncio é quebrado por uma pilha de latas de leite em pó que é derrubada perto deles. –MERDA- Ela acelera, os barulhos ficam mais próximos, passos arrastados, coisas batendo nas prateleiras, potes quebrando, um grito de dor preenche todo o ambiente. Uma mulher grita como se estivesse sendo torturada por alguém. –Meu deus- Dhonna mantem o ritmo acelerado.

A mulher tropeça e cai com o bebê. –Droga- Ela bate o braço no chão para proteger seu filho.

-Você está bem? - Tassia a ajuda a levantar. Eles começam a andar por cima de cacos de vidro. Eles estalam a cada passo.

-Obrigada- Ela diz ajeitando o manto por cima do bebê. Alguém começa a se aproximar deles. O homem levanta a arma e aponta para os lados tentado descobrir de onde vem os passos arrastados. Outra porta de vidro de um dos freezers quebra fazendo um barulho ensurdecedor. Mais passos são ouvidos, ele destrava a arma, mais passos arrastados. Alguém entra correndo bem na frente deles, ele se vira assustado e dispara a arma. Sophia cai no chão de olhos abertos, o sangue escorre pelo furo na sua testa.

-O QUE VOCÊ FEZ? – Dhonna corre e se abaixa do lado da menina que há poucos minutos estava com eles. O homem entra em desespero, ele deixa a arma cair.

-Eu não vi, eu pensei...meu Deus, o que fiz? –Ele vai até a menina, suas mãos tremem. –Eu sinto muito, eu pensei que fosse uma das coisas- Ele se apoia no ferro de proteção dos freezers para o carrinho. –Meu Deus- Ele leva as mãos à cabeça.

Tassia se aproxima deles. Ela olha para Sophia caída no chão, o sangue começa a formar uma poça. –A culpa não foi sua, qualquer um de nós atiraria- Ela põe a mão no ombro dele e o entrega a arma. –Você deixou cair- Dhonna se levanta e avista no fim do mercado as letras levemente iluminadas em vermelho EXIT.

-Ali, RAPIDO! - Ela aponta para a porta, eles correm e se aproximam.

-MÃE? –Uma criança grita dentro do mercado fazendo eles pararem na porta. –MÃAE? – Dhonna encara o homem.

-De onde está vindo? – Ela tenta forçar a visão. –Eles vão pegar ele- Ela diz correndo para dentro do mercado.

-Espera! Mãe? –Tassia a segura.

-Fica com a sua irmã! Não vem atrás de mim, eu volto em um minuto- Dhonna entra na escuridão do mercado.



---



Madson está em pé ao lado do balcão com Sarah, ela segura uma prancheta de lado e um copo de café enquanto elas conversam. –É porque eu amo muito minha profissão, senão eu já teria abandonado isso aqui desde semana retrasada- Sarah dá um gole no café. –Nós estamos muito expostos a isso tudo, fico assustada as vezes. Não temos muito preparo- Ela vai até o micro-ondas. –Mad... bolo de caneca, quanto tempo mesmo? – Ela pergunta mexendo o pó do bolo instantâneo na xícara com leite.

Madson vai até ela. –Eu sempre coloco um minuto- Ela diz se sentando no banco atrás do balcão da recepção.

A porta automática da recepção se abre. –MAD- Noah grita assustado, sem camisa e todo sujo de sangue. Ele para na porta do hospital.

-Meu Deus- Madson se levanta e corre até ele, ela olha em volta e pega uma maca que estava encostada na parede. –Bota ele aqui, rápido- Ela diz ajudando Noah a pôr Troye na maca de ferro gelada. –SARAH- Ela grita entrando com Troye no corredor, ela corre com a maca. –Noah, fica na sala de espera, você não pode entrar.

Sarah deixa o bolo no micro-ondas e corre na direção de Madson. –O que aconteceu? – Ela começa a empurrar a maca com ela. Sarah é clínica geral.

-O furo é de bala, não atravessou! - Madson respira fundo, está cansada. –Temos que levar ele para o setor cirúrgico- Elas passam pela porta de divisão do corredor. *somente pessoal autorizado* Sarah passa pela sala de descanso dos médicos e bate na porta com força sem parar de andar.

-Cirurgia, retirada de bala do tórax- Ela diz ainda empurrando a maca quando Colle sai da sala apreçado arrumando o jaleco.

Colle corre na direção delas. –Não tinha ninguém para fazer a triagem? – Ele diz levantando a toalha em cima do peito de Troye.

Sarah checa as vias respiratórias de Troye e em seguida o entuba. –Vou começar a respiração artificial. O coração está fraco demais.

Madson corre até eles segurando um papel. – A negativo- Ela os encara. –Não temos.

Mais duas enfermeiras se aproximam e uma médica. –Faz uma tomografia do tórax- Lexia diz levantando a cabeça dele. –Droga, ele bateu com a cabeça- Ela o põe no lugar. –Bipa o neurocirurgião, é o Carlos, ele está em casa.

Colle levanta a toalha e repara na barriga inchada. –Vamos ter que operar o tórax. Está com hemorragia.

-Estamos sem cardiologista desde semana passada- Lexia diz o conectando as máquinas. –Não podemos operar o tórax sem um cardiologista.

-Eu consigo- Sarah diz indo até eles. –Estou me especializando em cardio.

Todos a olham. –Você não pode fazer cirurgia solo ainda... o concelho cairia em cima de nós.

-Ela disse que consegue- Madson vai até eles. –Não temos um cardio aqui e não podemos deixa-lo morrer.

Sarah a encara. –Fizemos um juramento quando nos formamos. Salvar vidas, é obrigação nossa.

As máquinas começam a apitar. Lexia corre até Troye. –Estamos perdendo ele.

-Prepara o carrinho de choque, vamos reanimar- Colle diz indo até Troye.

Sarah olha para Madson que observa a situação com as mãos na boca. –Não fique aí parada! Traga bolsas O negativo.

Madson assente e desvia o olhar assim que Troye recebe a primeira carga fazendo seu peito sair da maca.

...

Madson entra na sala com as bolsas de sangue e entrega as enfermeiras.

-Vamos levar ele para a ala cirúrgica D. – Lexia diz pegando uma das bolsas.

-Essa ala foi desativada pelo estado- Madson diz os olhando, sua voz fica tremula.

-Eu sei- Colle olha no relógio. –Tem duas cirurgias sendo feitas agora, a ala B está com problemas. Temos que leva-lo para lá. - Ele passa por elas. Madson engole seco, ela morde os lábios enquanto pensa.

*tira a Tahisse daí! A sala vai ser usada* A mensagem é enviada para Aron. –Droga- Ela diz baixo encarando o celular. *Aron?????* Ela envia outra mensagem, ele não visualiza nenhuma das duas. Ela encara o corredor e em seguida entra na sala de tomografia.

-Mad, fecha a porta por favor- Sarah diz parando a maca ao lado aparelho, Troye tosse cuspindo sangue. –Ei, se acalma- Madson passa a mão na cabeça dele. A respiração dele fica ofegante enquanto ele encara as luzes brancas do aparelho que o envolve. –Tenta não se mexer- Ela diz atrás da bancada mexendo no computador. –Da uma olhada- Sarah diz encarado Colle. –Está alojada aqui- Ela aponta para as imagens.

Madson se afasta e vai até a porta, ela leva o celular ao rosto *barulho de ligação chamando... ei você ligou para mim! Eu não posso atender agora, deixe seu recado e eu ouvirei em breve*

-Merda- Ela diz colocando o celular de volta no jaleco.

-Pronto, enviei o resultado para a ala D, vamos- Sarah diz indo em direção ao Troye. –Me ajuda com ele- Elas o colocam de volta na maca e vão em direção a porta. Elas entram no corredor da ala D. O coração de Madson dispara a cada sala que eles passam. Ela solta a respiração aliviada quando passa pela janela de vidro da sala e encara Colle de pé ao lado a mesa cirúrgica. Ele está ajeitando a iluminação e separando os instrumentos.

-Graças a Deus- Ela diz soltando o ar.

-Graças a Deus o que? – Sarah pergunta entrando na sala.

Madson tenta disfarçar. –Graças a Deus que chegamos a tempo- Ela diz ajeitando o cabelo.



---



-Já era para ela ter voltado- Tassia encara a escuridão do mercado.

...

Dhonna anda se apoiando nas prateleiras. –ONDE VOCÊ ESTÁ? – Ela grita tentando enxergar alguma coisa. Alguém se mexe perto dela fazendo seu coração disparar. –Olá- Sua voz sai trêmula pelo medo, sua respiração está ofegante. Ela entra no setor de camping. –Graças a Deus- Ela diz pegando uma lanterna, a lanterna pisca e ela bate nela com as mãos. Dhonna ilumina o corredor bagunçado e desvia de alguns brinquedos espalhados pelo chão. Cada vez que o silêncio é quebrado por qualquer tipo de som o coração de Dhonna acelera. –EU PRECISO QUE VOCÊ GRITE PARA EU SABER ONDE VOCÊ ESTÁ- Ela desvia de uma barraca de camping montada. Alguém se mexe lá dentro, ela engole a seco e leva as mãos ao zíper da barraca azul. –Ei- Ela puxa o zíper da barraca e abre a porta com força apontando a lanterna para dentro.

-Não faz barulho- Uma mulher a encara assustada. –Tem alguma coisa errada aqui dentro- Ela tenta fechar a porta.

-Calma, está tudo bem- Dhonna entra na barraca. –Eu achei a saída de emergência, minhas filhas estão me esperando.

A mulher encosta o corpo na parede de lona. –Estava saindo da cidade, parei para comprar algumas coisas. Droga.

Dhonna entrega uma lanterna para a mulher. –Pretendo sair com as minhas filhas, mas precisamos sair do mercado primeiro. – Ela diz rindo. –Estava na porta, ouvi uma criança gritando e voltei.

-Também ouvi, eu o segui, mas alguma coisa me jogou no chão, entrei em desespero, dizem que essas coisas estão por aí e que eles mordem... pensei que fosse ser mordida, corri e entrei nessa barraca- Ela sai da barraca apontando a lanterna para as prateleiras. –Meu nome é Ariel. –

-Dhonna- Ela responde parando ao lado de Ariel.

Dhonna encara os outros corredores. –Esse mercado é imenso, como vamos acha-lo? – Ela aponta a lanterna para outro corredor.

-Talvez a mãe tenha achado ele- Ariel pega um casaco no setor de roupas. –Achei- Ela diz vestindo a jaqueta turquesa. –Estava louca atrás dessa jaqueta- Ela aponta a lanterna para o corpo e se olha no espelho, algo chama atenção dela. –EI, CUIDADO- Ela grita apontando a lanterna para a pessoa se jogando em direção a Dhonna. Ela desvia e cai no chão, Ariel tenta puxar o homem pela perna. –SAI DE PERTO DELE! – Ariel grita caindo no chão perdendo o equilíbrio.

-DROGA- Dhonna tenta chutar o homem que sobe em cima dela.

-MÃAAAE- A voz vem do corredor ao lado.

Dhonna encara Ariel. –VAI BUSCAR ELE, EU DOU UM JEITO AQUI- Ela diz dando mais um chute na cara dele, Ariel se levanta e corre na direção do corredor.

Ariel entra no corredor de animais de estimação -Ei, não vou te machucar- Ela diz apontando a lanterna para as prateleiras. –Cadê você? – Ela segura a lanterna com as duas mãos agora.

-Você viu minha mãe? – O garoto de mais ou menos três anos sai de trás de um saco de ração. –Ela me disse para esperar aqui- Ele segura nas mãos de Ariel.

-Desculpa meu anjo, eu não vi sua mãe, mas vou te levar para um lugar seguro- Ela diz pegando o garoto no colo.

Dhonna entra no corredor e aponta a lanterna para Ariel. –Por aqui- Ela diz correndo na direção da padaria.

...

-Você está bem? – Ariel põe o garoto no chão.

-Não- Dhonna se senta em uma das mesas. –Não lembro para onde fica a saída de emergência.

Ariel pega a mão do garoto. –Vamos procurar- Ela diz encarando Dhonna.

-Sim, vamos procurar- Dhonna se levanta e começa a caminhar ao lado de Ariel.

...

-Daniel? É um belo nome- Dhonna sorri para o menino. –Você é um rapaz muito corajoso- Ela diz desviando de um carrinho de compras tombado no chão. –Ali, a saída- Ela acelera os passos em direção a porta.

-Graças a Deus- Tassia corre e abraça a mãe. –Nunca mais nos deixe sozinhas- Ela diz abraçada com Dhonna.

Dhonna a interrompe e se vira para o casal com o bebê. –Vocês podem levar minhas filhas com vocês?

A mulher vai até ela. –Claro, todos vocês são bem-vindos.

-Preciso que vocês duas se comportem e fiquem seguras- Ela diz as abraçando.

-O que você está fazendo? Você não vem? – Tassia a encara com o olhar assustado.

Ariel vai até Dhonna. –Quer que eu fique com você? – Ela diz segurando as mãos de Daniel.

-Não, eu preciso ficar sozinha- Ela dobra o pescoço mostrando a mordida. Ariel respira fundo e desvia o olhar. – Está tudo bem- Dhonna diz deixando algumas lágrimas descerem pelo seu rosto. –Mantenha as minhas filhas seguras, por favor- Ela abraça Ariel.

-Mãe? –Giulia a encara, ela tenta entender o que está acontecendo.

Dhonna vai até ela e a pega no colo. –Mamãe não vai poder ir com vocês. Eu me machuquei no mercado, vou precisar ficar aqui mais um pouco- Ela abraça forte a menina e entrega ela para Ariel. –Eu te amo muito, minha princesa- Ela diz acariciando o rosto da menina.

-Cuida da sua irmã- Ela abraça Tassia que chora a apertando com os braços. –Eu sinto muito querida- Ela diz encarando a lua enquanto abraça Tassia.

-Não mãe, por favor, podemos dar um jeito- Tassia diz com a voz trêmula pelo choro. –Vamos achar uma cura, pedir ajuda... por favor mãe.

Dhonna leva as mãos ao rosto vermelho de Tassia e a acaricia limpando as lágrimas que descem. –Eu sei que é difícil, estou lutando para não desabar aqui... preciso que seja forte pela Giulia, por favor querida.

Giulia chora enquanto observa sua mãe se despedir de todos. –Ei, vai ficar tudo bem, eu vou cuidar de vocês enquanto sua mãe tiver fora- Ariel se abaixa ao lado da menina.

-Eu quero ficar com a minha mãe- A voz de Giulia sai fraca pelo choro tímido.

Dhonna se abaixa ao lado dela. –Você precisa ser forte meu amor. Você vai ficar bem- Ela diz acariciando os cabelos da filha. –Você já é uma mocinha, mocinhas não choram mais. – Dhonna diz sorrindo.

-Mas a senhora está chorando... por que não pode ficar?

Dhonna ri. –Sim, estou chorando de saudades já- Ela abraça Giulia com força. –Mamãe não pode ir, mas vou encontrar com vocês em breve, ok?

Dhonna se levanta e vai em direção ao carro. –Eu amo vocês, mais do que qualquer coisa, nunca se esqueçam disso- Ela entra no carro. Tassia chora segurando Giulia por trás, todos observam a situação com um nó na garganta.

Ela acelera o carro e sai do estacionamento.

O coração de Tassia dispara, seu rosto trava em um choque momentâneo, ela sente sua pressão cair rapidamente, sua boca fica seca. –Boa noite mãe- Ela diz observando o carro sumir na estrada vazia.

...

Giulia está sentada no chão e se recusa a ir com eles. Ariel se abaixa ao lado dela e põe os cabelos ruivos para trás. –Ei, temos que ir- Ela diz encarando a menina que continua olhando para o chão. –Qual é o seu nome? – Ariel pergunta ainda agachada na frente da menina que não responde. –O meu nome é Ariel- Giulia levanta o rosto e encara a mulher bonita de cabelos ruivos, seus olhos estão brilhando e refletem a lua.

-Ariel como a sereia? – Ela pergunta descontraindo o rosto e esquecendo por um momento tudo o que estava acontecendo.

Ariel sorri para a menina. –Isso. Como a sereia! - Os olhos de Giulia se enchem com algum tipo de felicidade momentânea e ela sorri, sorri como se tivesse conhecendo uma princesa de verdade. –Vem, vamos embora- Ariel a pega no colo.



---



-Ele está bem? – Noah se levanta quando Madson entra no corredor.

-Ele está muito cansado da cirurgia, mas vai ficar bem, você pode ir lá agora se quiser-

Noah se levanta e o encara pela janela, ele está dormindo. –Você me assustou- Ele diz sentado ao lado do amigo. –Meu Deus Troye, eu fiquei com tanto medo- Ele diz passando o ombro direito no rosto para secar as lágrimas que descem. –Não acredito que estou falando sozinho- Ele desvia o olhar e encara os aparelhos ao lado da cama.

-Não está falando sozinho- Troye diz com a voz fraca e ainda de olhos fechados. –Também fiquei com medo- Ele respira com dificuldade, ele está sem camisa, ataduras envolvem seu tórax até a altura do peito.

-Você sujou meu carro todo- Noah diz rindo. –Sabe que vai ter que limpar- Ele continua. Troye ri com dificuldade, sem abrir os olhos.

–Não vou limpar... sou visita, lembr... – Ele começa a se tremer e as máquinas começam a apitar.

-MAD!

Capitulo. 4 - IT IS NOW!

Capitulo. 4
IT IS NOW!











A respiração de Madson sai aos poucos, totalmente impotente. Seu corpo apoiado na maca de Tahisse quase fica ausente a situação, ela está enjoada, sua barriga se contorce em uma aflição sem controle.

A voz de Aron preenche levemente os ouvidos de Madson e quase é ignorada pelo seu corpo fraco e ausente. –Mad... precisamos terminar com isso- Ele diz segurando uma tesoura de ponta longa. Madson chora e abaixa a cabeça deixando os punhos semicerrados quando vê Aron segurando a tesoura.

-Falhamos com ela, Aron- A voz de Madson sai tremula e impotente. Ela se levanta e para em frente a sua melhor amiga, suas lagrimas pingam sobre seu rosto pálido. -Me dá- Ela estica as mãos.

A voz de Madson o faz estremecer. –Eu cuido disso- Ele diz a encarando. Ele não a quer ver fazendo isso, com certeza ela ficaria devastada por dentro, nunca mais seria a mesma.

-Aron, me dê a tesoura- Ela permanece com as mãos erguidas em direção a Aron.

Ele põe a tesoura de ferro pesada nas mãos de Madson. A tesoura fria como gelo toca suas mãos quentes e trêmulas. -Mad, tem certeza que quer fazer isso? – Ver ela pegando a tesoura o faz morrer por dentro, ver Madson passar por aquilo é torturante. Ela segura a tesoura na têmpora de Tahisse.

Ela treme e chora, chora como nunca chorou antes. -Me desculpa... eu... eu sinto muito- Sua voz sai fina e embolada em meio aos soluços do choro pesado. A sala está fria e o tempo está nublado. –Meu Deus Tahisse- Ela fecha os olhos e segura a tesoura com as duas mãos.

Tudo fica rápido, qualquer som baixo se torna uma orquestra agoniante que tortura a alma aflita de Madson. As mãos dela tremem, ela não consegue controlar seu corpo, ela quer surtar. Seu coração bate com a força de um martelo em seu peito. Suas pupilas dilatam quando as mãos de Tahisse a tocam segurando a tesoura. –Eu ainda não morri- Ela diz com a voz fraca abrindo os olhos. –Eu vou ficar com isso- Ela pega a tesoura das mãos de Madson.

-Meu Deus- Madson ri e chora ao mesmo tempo, ela abraça Tahisse com força. –Eu ia te matar! Que droga, Tahisse- Ela diz limpando as lágrimas.

-Olha quem está de volta- Aron diz se aproximando da maca dando um abraço nela. –Quase hem! - Ele diz rindo. Tahisse está muito fraca e não consegue se levantar, ela permanece deitada e tenta não olhar para o lado em que perdeu seu braço.

-Vocês vão precisar de antibióticos fortes agora- Tahisse diz tentando se ajeitar. –Eles são caros! Não vão conseguir pegar aqui com facilidade. Vão precisar da autorização da enfermeira chefe... não sei quem assumiu o meu lugar.

Madson olha para Aron esperando que ele saiba quem assumiu o cargo.

-Talia assumiu até você voltar- Ele diz abrindo a porta e olhando o corredor.



---



Oliver pega as chaves da picape vermelha que alugou com o dono da conveniência e vai até a porta que separa a loja do velho posto de gasolina. –Vamos Clarck- Ele diz saindo da loja.

-Espera cara- Ele diz saindo da loja com um engradado de cervejas corona. Oliver ri e entra na picape. –Temos que ir pela a av. Alasca e entrar depois do radar- Ele diz olhando o mapa aberto sentado no banco carona. Oliver arranca com a picape fazendo a areia fina subir e virar uma nuvem de poeira densa. Eles saem do posto de gasolina e pegam a avenida principal da cidade. Eles observam a cidade completamente deserta, nada se mexe, nenhum carro anda, somente eles. –Onde estão todos? – Clarck diz olhando um carrinho de bebê tombado em uma calçada. A cidade está suja, cheia de papeis e jornais pelas calçadas, a maioria das lojas estão com a placa “CLOSED”. *Pela sua segurança e de sua família, fiquem em casa, respeitem o toque de recolher e usem máscaras* Essa frase se repede por todo o sistema de som da cidade fantasma. *Não abram suas portas e nos liguem se você ou qualquer pessoa de sua casa apresentarem os seguintes sintomas: Febre constante acima de 40°, palidez intensa, veias enegrecidas e enjoo. Não tentem tratar os sintomas em casa, somente o governo pode fornecer o tratamento ideal, não arrisque a vida de sua família* -Que merda é essa? – Ele diz fechando o vidro da picape.

-Não sei Clarck, não quero descobrir também- Ele acelera o carro entrando na avenida Alasca. Um carro vem na direção deles, um Toyota Prius azul, ele pisca os faróis de longe parando o carro. Oliver para a picape ao lado dele, uma mulher de mais ou menos quarenta e cinco anos abaixa o vidro.

-Não tem como sair por aqui- Ela diz saindo do carro, vestindo calça social cinza e uma blusa branca de abotoar, cabelos loiros curtos e óculos escuros. Ela acende um cigarro. –Os desgraçados estão por todo o lugar- ela diz limpando uma mancha de sangue no capô do Prius.

-Está sozinha? – Oliver pergunta descendo do carro e colocando o engradado de cervejas sobre o capô vermelho. Ele estende uma para ela.

-Obrigada- O gás sai da garrafa quando ela a abre usando a blusa. –Parei aqui para almoçar... merda de lugar, eu podia pelo menos ter ficado presa em New York- Ela diz tragando o cigarro. –Estava indo no recital da minha filha, três dias de carro- Ela dá um gole na cerveja. –Ela está morando com o pai, se pelo menos os celulares voltassem a funcionar- Ela diz se abaixando para pegar sua bolça dentro do carro.

-Tem uma estrada que passa por uma fazenda, estamos indo dar uma olhada, um homem nos disse que ela pode não estar bloqueada ainda- Oliver diz se apoiando no carro. –Não custa dar uma olhada- Ele diz bebendo a cerveja.

-É, não custa nada- Ela traga o cigarro mais uma vez.



---



-São só vocês três? –A enfermeira do exército pergunta enquanto tira o sangue de Tassia.

-Sim, só nos- Dhonna responde segurando o algodão em seu braço. Os exames são feitos todos domingos e os resultados são entregues na segunda de manhã. –Quando vamos saber o que está acontecendo de verdade? – Ela pergunta encarando a enfermeira e os dois homens armados com roupas militar.

A enfermeira termina de tirar o sangue de Tassia e põe o frasco dentro de uma caixa de isopor com suportes pretos. –Vocês já sabem! É um exame de precaução- Ela diz fechando o zíper da caixa.

-Não estou falando dos exames- Ela descruza as pernas vestidas com a calça social preta. –Você sabe do que eu estou falando.

A enfermeira se levanta e vai em direção a porta. –Não, eu não sei do que você está falando. E seria melhor para todos nós se você não fizesse mais esse tipo de pergunta- ela passa pela porta e em seguida um dos homens a fecha quando sai. Dhonna fica encarando a porta fechada e em seguida acompanha com seus olhos pela janela a enfermeira entrar na casa ao lado.

-Está tudo bem mãe? – Tassia pergunta a encarando.

Dhonna responde sem tirar os olhos da janela. –Sim querida, está tudo bem. Vamos no mercado- Ela diz pegando as chaves em cima do balcão que divide a sala da cozinha. –Pega a sua irmã e me espera na garagem- Dhonna sobe as escadas e fecha a porta do quarto. Ela usa uma escada dobrável de dois degraus para pegar uma caixa em cima do armário alto. Com suavidade ela põe a caixa preta sobre a cama com lençóis bege e a abre. Dentro tem uma arma e dezessete balas. Ela põe a arma e as balas dentro da bolsa e desce.

...

As ruas estão vazias, aos poucos as luzes dos postes começam a se acender em sequência após o pôr do sol. De longe ela avista as letras grandes á quase um quilômetro de distância, WALMART. O estacionamento grande é ocupado por menos de dez carros e muitos caixas não estão funcionando. Ela pega um carrinho e entrega outro para Tassia.

-Para que dois carrinhos mãe? – Tassia pergunta passando pela porta automática do hipermercado. O teto sem forro com tubulações de ar por onde estão penduradas grandes placas de preço e luzes fortes as cobrem. O mercado está vazio e as poucas pessoas que estão lá passam com os carrinhos cheios.

-Querida, encha esse carrinho com comidas enlatadas, comidas instantâneas, biscoitos, tudo que renda e não estrague- Dhonna diz dando um beijo na testa de Giulia. Tassia anda e vira no fim do corredor com sua irmã. Dhonna vai até a farmácia interna, ela passa pelas prateleiras e pega diversas caixas de remédio para dor, anti-inflamatórios, antibióticos, anestésicos e tudo o que ela achou para limpeza de ferimentos e curativos.

Tassia está no corredor doze, a variedade de comida enlatada é muito grande, ela e Giulia começam a encher o carrinho. –Salsichas? – Ela pergunta pegando a lata das mãos de Giulia.

-Eu gosto delas- Diz a menina de cabelos loiros e touca de urso. –Posso pegar cereais?

Tassia pegas alguns fardos de latas de feijão e mais algumas latas de sopa. –Claro, precisamos de leite em pó também- Ela continua pegando mais latas. Ela tira mais latas da prateleira e abre uma fenda para o corredor ao lado. Do outro lado Tassia vê um casal também com os carrinhos cheios, a mulher segura um bebê e o homem pega latas de leite de em pó. Ela continua os olhando e repara em uma arma na calça do homem alto de jaquetas pretas. Ela observa Giulia chegando perto do casal, a mulher sorri e Giulia brinca com o bebê.

-Onde estão seus pais? – A mulher pergunta.

Tassia dá a volta no corredor. –Ela está comigo e minha mãe- Ela diz chegando perto do casal. –É um lindo bebê- Ela sorri.

-É perigoso sair de casa- O homem diz pegando latas de leite que estão no alto e entregando para Tassia. –Essas coisas já estão por aí- Ele pega mais umas latas.

A luz do mercado apaga e aos poucos os geradores fazem o mercado funcionar de novo. –Vocês já viram algum? – Ela pergunta colocando as latas no carrinho.

-Vimos um no parque semana passada e hoje vimos um na estrada- A mulher diz balançando o bebê. –Temos uma casa na montanha, é difícil de chegar lá, estamos indo hoje.

Tassia tenta não parecer assustada. –Boa sorte. Cuidado no caminho, já deve ter anoitecido- Ela diz pegando na mão de Giulia.

-Boa sorte para vocês também- A mulher diz colocando mais latas no carrinho. –Tentem sair da cidade, não é seguro- Ela desvia o olhar para Tassia.

Dhonna as encontra ao lado do casal, ela encheu o carrinho com remédios, pilhas, cordas, uma marreta de ponta, lanternas, um filtro portátil e mais outras coisas. –Boa noite- Ela diz encarando o carrinho do casal que tem coisas parecidas com o dela.



---



Cloe segue Oliver e Clarck pela estrada de terra, ela buzina e eles param os carros. –Estou na reserva há meia hora já- Ela diz descendo do carro. –Falta muito? –Ela encosta na porta azul.

Oliver desliga o carro e desce. –Não sei, acho melhor voltar, estamos andando há três horas e nada! O sol já vai descer- Ele diz jogando um maço de cigarro pra Cloe.

-Está esfriando rápido- Diz Clarck fechando a jaqueta. A boca deles começa a soltar fumaça, a temperatura despencou. –Acho que ainda falta um pouco- Ele diz acendendo um cigarro.

Oliver dá um trago no cigarro de Clarck. –Acho que conseguimos fazer em meia hora, deixamos seu carro aqui e pegamos ele na volta.

-Melhor- Cloe desliga e trava o carro. Ela entra no banco carona com Clarck. O sol começa a se pôr, Cloe observa os campos ao longe.

...

-De quem era o sangue no seu carro? –Clarck pergunta procurando alguma rádio, mas só acha estática.

Cloe se vira para ele. –Era de uma dessas coisas- Ela encara a estrada deserta pelo retrovisor. –Parei na estrada para tentar usar o telefone e ele veio na minha direção. Aquilo não era mais uma pessoa. Se importa? – Ela pergunta antes de acender o cigarro.

-Não, fica à vontade- Oliver responde entregando o isqueiro a Cloe. –Eu nunca vi um deles- Ele diz fazendo a curva e levantando poeira na estrada. –Não sei se eu conseguiria matar- Ele desliga o rádio que só chiava.

-Tem sorte. É difícil esquecer depois, mas na hora ou é você ou é ele- Ela diz tragando o cigarro e soltando a fumaça pela janela. Eles observam duas pessoas andando pela plantação baixa. Eles andam devagar e com movimentos arrastados. –Está aí a sua primeira vez- Ela diz também olhando as pessoas ao longe. Eles os olham indiferentes, como se fossem parte do cenário. –Acho que estamos chegando- Ela diz olhando o moinho que aparece bem distante. O céu começa a ficar laranja, as aves voam por cima deles, as plantações balançam ao vento forte.

Eles se aproximam do moinho que roda devagar. –Tem que entrar na esquerda para contornar- Clarck vê o mapa. –Aqui- Ele diz apontando a estrada no mapa para Oliver. Está escurecendo rápido. As sombras das arvores atravessam a estrada de terra e cobrem a picape vermelha empoeirada. Eles continuam andando com o carro, a presença dos mortos começa a ficar mais frequente, eles passam por um, depois três perto da estrada, eles observam que nos campos dos dois lados começam a se formar grupos de até dez deles.

-É melhor a gente voltar- Cloe diz olhando ao redor e cada vez vendo mais deles. –De onde eles vieram? – Ela diz baixo. O tom laranja no céu começa a perder espaço para o azul escuro da noite. Não tem iluminação. –Oliver, são muitos- Eles começam a entrar na pista, os mortos vêm de todos os lados.

-Que merda é essa? – Clarck observa assustado eles se aglomerando em volta do carro. –Cara, vamos voltar, isso não está legal- Eles se gritam quando Oliver faz a curva escondida pelas pedras altas, centenas de mortos estão aglomerados pela pista e campo ao redor. Eles estão tão perto da virada da curva que Oliver não tem tempo de frear sem entrar no meio deles.

-MERDA- Ele diz mudando a marcha. Os mortos batem com os braços e cabeças por todo o carro, os retrovisores quebram, são muitos. Cloe se afasta da janela caindo por cima de Clarck que segura o banco com força. A multidão é iluminada pelo farol do carro que lança a sombra deles contra as arvores.

-TIRA A GENTE DAQUI- Clarck grita quando os vidros começam a trincar. Oliver dá a ré sem enxergar nada, ele olha o painel piscando em vermelho. –PUTA QUE PARIU, OLIVER- Ele grita olhando os olhos assustados de Oliver reparando no fim da gasolina. Eles estão cercados, o carro balança violentamente enquanto Oliver passa por cima de alguns mortos com carro. Oliver consegue sair do aglomerado, mas carro desliga e desliza por mais uns cinquenta metros até parar completamente. Eles estão bem na frente deles, eles encaram a horda vindo.

-SAI! SAAAAI, AGORA- Cloe grita abrindo a porta jogando um deles no chão com o impacto. Eles correm desviando dos poucos que estão na estrada. A noite desceu completamente, aos poucos eles vão adaptando a visão ao escuro dos campos. –Meu Deus- Ela tira os saltos e fica descalça.



---



Dhonna conversa com o casal enquanto Tassia e Giulia estão em outro corredor. –Sinceramente? Não acredito que o governo possa conter isso- Ela diz apoiada no carrinho. –Está silencioso demais, sem pronunciamentos, sem matérias nos jornais- Ela continua.

O homem de jaqueta preta e arma na cintura pega um fardo de macarrão instantâneo. –Eu não quero pagar para ver, tenho lido matérias na internet e a coisa está bem feia em alguns lugares- Ele põe o fardo no carrinho. –Brasil, Chile, Bolívia, praticamente toda a América do Sul declarou lei marcial- Eles se assustam com o a porta principal de vidro se estilhaçando.

-TASSIA, GIULIA? – Dhonna grita encarando os corredores, elas entram no corredor da mãe correndo com o carrinho.

-O que foi isso? – Tassia pergunta parando ao lado deles. Eles encaram as mulheres de uniforme saindo do caixa e encarando a porta. Quatro seguranças passam correndo por eles. Eles escutam os tiros altos que fazem eco por todo o WALMART. A mulher dá um passo para trás com o bebê no colo. Eles não conseguem ver a porta, todos encaram o fim do corredor como se esperassem alguma coisa aparecer, e aparece. Um homem sem camisa aparece cambaleando no final do corredor e os encara, eles olham assustados e tremem com o som do tiro a queima roupa que o homem leva na cabeça. Ele cai no fim do corredor e um dos seguranças o cutuca com o pé. Dhonna leva as mãos aos olhos de Giulia e a puxa em direção ao seu corpo.



---



-Já era para eles terem voltado- Karen se levanta do balcão e vai até a porta. –Aconteceu alguma coisa- Ela diz fechando a porta. Alisson está parada ao lado do balcão de madeira rústica do café iluminado pelas lâmpadas amarelas. Ela usa uma calça jeans e um moletom cinza com a estampa de um urso panda na frente. Seus cabelos lisos e ruivos estão presos em um rabo de cavalo. Ela encara a rua pela janela.

-Tem alguma coisa errada- Alisson vai até Karen. –Precisamos ir procurar por eles- Ela diz encarando Karen. Tara se levanta do sofá marrom de couro.

-Vamos no meu carro, eu peguei com o aeroporto- Tara pega as chaves. Karen está de calça jeans vermelha e botas, jaqueta preta e blusa branca. Seus cabelos negros e cacheados balançam com o vento quando ela abre a porta.

Ela encara a noite fria de Halavan. –Tomem cuidado- Lenna diz abraçando Karen. –Vou ficar com a Charlle, tudo bem? – Ela pergunta receosa que Karen fique chateada.

-Sem problemas, lá fora está perigoso e Charlle não pode ficar sozinha- Karen diz retribuindo o abraço.



---



-Esperem- Cloe diz desacelerando. –Não precisamos mais correr- Ela diz encarando os dois homens que param logo em frente. Ela respira cansada com as mãos nos joelhos. –Não sou mais nenhuma garotinha que pode sair correndo brincando de pique- Ela tenta se recompor.

-Conseguimos sair de perto deles, mas ainda estamos longe da cidade- Oliver vai até Cloe e estende a mão para ela. –Vamos caminhando agora. Prestem atenção nos campos, eles estão espalhados, mas ainda estão aqui- Ele diz voltando a caminhar.

Eles andam um do lado do outro pela estrada de terra. Os campos estão vazios com apenas alguns deles bem espalhados, é lua nova e o céu está lotado de estrelas.

–Não dá para ver estrelas em New York- Cloe Olha o céu manchado por aglomerados de estrelas. Ela anda com dificuldade, está descalça, o salto não a deixava correr. Clarck a encara e olha para os pés dela que deixam pequenas manchas de sangue pela terra.

- Aqui, calça eles- Clarck tira os sapatos e entrega a Cloe.

Ela pega os sapatos e põe nos pés. –Obrigada. O que vamos fazer quando eles alcançarem a cidade? Chamamos a atenção deles- Ela diz encarando Oliver que anda olhando para frente.

As palavras saem dos lábios de Oliver acompanhadas pela fumaça causada pelo frio intenso. –Eu não sei- Ele continua encarando a estrada escura. –Condenamos a cidade inteira! - Ele fala com a culpa rasgando seu corpo por dentro. –Eles devem chegar na cidade em uns dois dias- Ele continua. Eles podem ouvir o vento trazendo os gemidos dos mortos que os acompanham a poucos quilômetros atrás. –Meu Deus- Ele suspira soltando mais fumaça pela boca.

-Não foi sua culpa. Uma hora ia acontecer, ia nos pegar de surpresa cedo ou tarde- Cloe tenta confortar Oliver. –Pelo menos agora temos uma chance de dar um passo na frente deles- Ela acende um cigarro.

Clarck olha as horas no celular, 10:43pm. –Nós já estamos andando a quase três horas- Ele diz guardando o celular no bolso da calça jeans. –Acha que seu carro tem gasolina para voltarmos para a cidade? – Ele pergunta olhando para Cloe.

-Talvez, pelo menos bem próximo ele nos deixa- Ela traga o cigarro o fazendo queimar e brilhar mais forte. As cinzas pegando fogo se destacam na noite escura. –Ali na frente- Ela aponta para o carro parado na estrada. Cloe destrava o carro e entra, o motor liga junto com o aquecedor. –Cuidado com os tapetes, acabei de aspirar- Ela ri.



---



-Não é possível- Karen diz olhando em volta no centro da cidade. –Eles não estão em lugar nenhum- Ele senta no meio fio. A cidade totalmente vazia assusta Alisson que repara nas pessoas na janela.

-VÃO PARA A CASA, NÃO É SEGURO AÍ- Uma mulher grita de um dos prédios baixos de quatro andares. Elas encaram a mulher.

-PORQUE NÃO É SEGURO? – Tara pergunta a mulher que fecha as cortinas e some. –Patéticos- Ela diz soltando a fumaça do cigarro. A porta de um dos apartamentos se abre e surge uma senhora com seu neto.

-Vocês têm que sair das ruas, é perigoso- Ela aconselha as mulheres.

-Meu marido veio aqui no centro com um amigo mais cedo. Ele não voltou para casa- Karen se levanta. –Ele é alto, barba cerrada, estava com um casaco de moletom...- Ela pergunta na esperança de ter alguma notícia.

-Eu sinto muito querida, muitas pessoas sumiram recentemente- Ela lamenta.

Karen a encara e pergunta. –O que está acontecendo aqui? Porque as pessoas estão sumindo?

Ela sai mais ou menos dois metros do prédio antigo de tijolos vermelhos envernizados. –Elas somem e quando aparecem não são mais elas- A senhora ameaça entrar em casa.

Karen a segura pelo braço. -Me desculpa- Ela solta a mulher. A senhora a encara.

-Eles simplesmente não são mais humanos, são outra coisa- Ela olha para o neto e depois volta a olhar para Karen. –Eles matam qualquer um que chegue perto deles- A mulher entra no prédio com o neto. –Não seja mordida por eles, mas se for, um tiro na cabeça ira proteger seus amigos de você- Ela diz fechando a porta. Karen perde o controle e se desespera pelo marido. Ela leva as mãos à cabeça e chora, Alisson a abraça.

-Ei, eles estão bem- Alisson diz abraçando Karen. Um feixe de luz começa a iluminar as placas da pista principal. –Viu? Devem ser eles- Ela diz limpando as lágrimas de Karen. O carro se aproxima e leva junto um alivio às mulheres. Oliver para o carro ao lado delas e desce.

-O que estão fazendo aqui? – Ele a abraça. –Nós temos que sair daqui- Ele diz soltando ela.

Tara encara Oliver e em seguida desvia o olhar para Cloe dentro do carro com Clarck, eles não estão bem. –O que aconteceu? –Ela pergunta.

Oliver está desnorteado. –Temos que ir para um lugar seguro! - Ele tenta manter a calma.

Karen para ao lado dele. – Amor, o que está acontecendo? – Ela pergunta perdendo o sorriso do rosto. –Amor?

Oliver a encara, seus olhos estão distantes. –Eles estão vindo. - As palavras os preenchem com uma enxurrada de desespero e medo. -Nós fomos até a estrada das fazendas ver se estavam bloqueadas. Estão infestadas dessas coisas- Ele diz ainda a encarando.

-Que coisas, Oliver? – Ela pergunta mudando o tom da voz. Seus cabelos balançam com o vento.

Ele respira fundo. –Os mortos.



---



Emma prepara as filhas para dormir. –Vou pegar seu nebulizador- Ela diz saindo do quarto. Dhavilla está na cozinha do hotel preparando café. –Taylor está com bronquite de novo- Ela diz pegando o nebulizador no armário na pia. –Não é possível, ela fez o mesmo tratamento que eu fiz quando tinha a idade dela- Ela prepara a nebulização.

Dhavilla começa a coar o café. –Ah querida, ela acabou de terminar o tratamento. Eu lembro que o seu irmão precisou estender as vacinas, talvez ela precise também.

-1...2...3...- Ela conta as gotas do brônquio dilatador. –Talvez ela precise. Pega o soro na geladeira para mim por favor- Dhavilla leva o soro para Emma.

-Acabei de fazer café, você quer? – Ela pergunta colocando o soro sobre a mesa.

Emma sorri e em seguida completa o inalador com o soro. –Vou querer sim, só vou levar isso para a Taylor, ela está chiando muito- Ela diz rosqueando a máscara.

-Querida, eu ainda tenho um pouco de antialérgicos da última vez- Dhavilla diz adoçando o café.

Emma liga o nebulizador e prende a máscara no rosto de Taylor. Ele faz o mesmo barulho de sempre, um motor baixo e constante. A fumaça começa a sair pela lateral da máscara. Emma acaricia os cabelos dela.

-Não adianta tentar me esconder, eu sou sua mãe e cuido de você desde quando nasceu. Acha que não sei quando está com falta de ar? – Ela diz se levantando da cama e dando um beijo na testa dela, em seguida ela vai até a cama de Lisa que já está dormindo. –Boa noite meu amor- Ela diz baixo dando um beijo na bochecha dela.



---



-Meu Deus- Alisson se vira fechando os olhos, ela não quer acreditar no que está ouvindo.

Cloe vai até elas. –Mal conseguimos sair de lá inteiros. Se eles nos cercarem aqui vai ser impossível sair- Ela diz. O vento continua forte e a noite fica clara pela lua.

Karen respira fundo. –Temos que avisar a essas pessoas- Ela é interrompida por Clarck.

-Não temos tempo para isso, e vai ficar difícil sair daqui se todos entrarem em pânico- Ele diz batendo a porta do carro. Karen se vira para ele.

-Essas pessoas tem o direito de tentar sobreviver, eles têm o direito! - Ela diz o encarando com os olhos semicerrados. –Vocês estão brincando né? – Ela encara as pessoas em volta.

-Ela tem razão- Tara joga o cigarro no chão e pisa. –Temos que avisar, não é justo, não vou carregar essa culpa comigo- Ela diz olhando para Karen.

Oliver para no meio deles. –Certo, vamos avisar- Ele diz segurando as mãos de Karen.

-Como vamos fazer isso? A cidade não é tão pequena assim- Alisson pergunta se levantando do meio fio.

-Vamos avisar ao máximo que conseguirmos e eles vão avisando também- Karen diz indo em direção a porta do prédio onde a senhora que falou com elas mora.

Alisson atravessa a rua com Clarck e toca o interfone de um prédio de três andares.

-Tem uma horda deles vindo para cá, vocês precisam se proteger- Diz Karen para a senhora que está com a porta entre aberta.

-Meu Deus- A senhora abre a porta. –O que vamos fazer? –Ela encara Karen com o olhar assustado.

-Não sei o que vamos fazer, mas podemos sobreviver juntos- Karen diz levando as mãos aos ombros da senhora. –Precisamos avisar ao máximo de pessoas- Ela diz encarando a senhora negra de saias longas e casaco de moletom.

-Eu vou avisar a todos do prédio querida, obrigada.

Eles já estão há duas horas batendo de porta em porta, gritando pelas ruas, pela primeira vez desde o toque de recolher as ruas de Halavan ficaram movimentadas. Pessoas descem com caixas de papelão e abastecem os carros. Alguns se negam a sair de casa, outros simplesmente não acreditam. A rua principal fica totalmente engarrafada e alguns acidentes acontecem por conta do desespero, as pessoas se ajudam, compartilham suprimentos. –TENHO CINCO VAGAS NO MEU CARRO- Uma mulher grita batendo a porta.

-Mesmo se fosse verdade, acharia improvável ter tantos nos campos- Um homem diz sentado em um banco na calçada. –Nunca vi os supostos mortos vivos. Acredito que ninguém aqui tenha visto também- Ele cospe no chão.

Uma mulher abre a porta do carro e pega uma lata de cerveja. –E se for verdade? Prefiro arriscar e voltar para casa depois do que me sentar no sofá e ser comida viva caso seja verdade- Ela abre a lata deixando o gás sair. –As pessoas estão sumindo, não nos deixam sair de casa para procurar. Quem é levado para tratamento não volta mais...é óbvio que está acontecendo alguma coisa- Ela dá um gole na cerveja.

Karen se levanta da calçada e prende o cabelo. –Eu tenho lido em sites o tempo todo e acredito que vocês também, está acontecendo, aceitem! Se não querem acreditar, fiquem em casa e vejam com os próprios olhos... mas podem ter certeza que vai ser a última coisa que vocês vão ver- Ela ajeita a jaqueta. –Essas coisas são perigosas, estão se espalhando, vocês não veem que estamos sendo enganados pelo governo?

Tara vai até ela. –A maioria de vocês nunca nem saíram daqui! Não sabem como as coisas estão lá fora, isso não começou agora- Ela acende um cigarro. –Não são boatos, acham mesmo que o mundo pararia de funcionar por causa de boatos? Estamos há quase uma semana presos por causa de boatos? –Ela traga o cigarro fazendo as cinzas iluminarem seu rosto.

-Quanto tempo temos até eles chegarem aqui? – Uma mulher morena de cabelos longos e soltos vestindo uma camisa branca e calça jeans pergunta.

Oliver a encara. –Eles são lentos, talvez um dia ou dois se tivermos sorte- Ele fecha o casaco.



Karen entra no carro. –Vocês querem saber se é verdade ou não? Não tiro a razão de vocês, mas estejam preparados para se proteger e se não nos deixarem sair da cidade talvez precisaremos encarar isso sozinhos se quisermos viver. Não podemos perder tempo.