sábado, 5 de novembro de 2016

Capitulo. 4 - IT IS NOW!

Capitulo. 4
IT IS NOW!











A respiração de Madson sai aos poucos, totalmente impotente. Seu corpo apoiado na maca de Tahisse quase fica ausente a situação, ela está enjoada, sua barriga se contorce em uma aflição sem controle.

A voz de Aron preenche levemente os ouvidos de Madson e quase é ignorada pelo seu corpo fraco e ausente. –Mad... precisamos terminar com isso- Ele diz segurando uma tesoura de ponta longa. Madson chora e abaixa a cabeça deixando os punhos semicerrados quando vê Aron segurando a tesoura.

-Falhamos com ela, Aron- A voz de Madson sai tremula e impotente. Ela se levanta e para em frente a sua melhor amiga, suas lagrimas pingam sobre seu rosto pálido. -Me dá- Ela estica as mãos.

A voz de Madson o faz estremecer. –Eu cuido disso- Ele diz a encarando. Ele não a quer ver fazendo isso, com certeza ela ficaria devastada por dentro, nunca mais seria a mesma.

-Aron, me dê a tesoura- Ela permanece com as mãos erguidas em direção a Aron.

Ele põe a tesoura de ferro pesada nas mãos de Madson. A tesoura fria como gelo toca suas mãos quentes e trêmulas. -Mad, tem certeza que quer fazer isso? – Ver ela pegando a tesoura o faz morrer por dentro, ver Madson passar por aquilo é torturante. Ela segura a tesoura na têmpora de Tahisse.

Ela treme e chora, chora como nunca chorou antes. -Me desculpa... eu... eu sinto muito- Sua voz sai fina e embolada em meio aos soluços do choro pesado. A sala está fria e o tempo está nublado. –Meu Deus Tahisse- Ela fecha os olhos e segura a tesoura com as duas mãos.

Tudo fica rápido, qualquer som baixo se torna uma orquestra agoniante que tortura a alma aflita de Madson. As mãos dela tremem, ela não consegue controlar seu corpo, ela quer surtar. Seu coração bate com a força de um martelo em seu peito. Suas pupilas dilatam quando as mãos de Tahisse a tocam segurando a tesoura. –Eu ainda não morri- Ela diz com a voz fraca abrindo os olhos. –Eu vou ficar com isso- Ela pega a tesoura das mãos de Madson.

-Meu Deus- Madson ri e chora ao mesmo tempo, ela abraça Tahisse com força. –Eu ia te matar! Que droga, Tahisse- Ela diz limpando as lágrimas.

-Olha quem está de volta- Aron diz se aproximando da maca dando um abraço nela. –Quase hem! - Ele diz rindo. Tahisse está muito fraca e não consegue se levantar, ela permanece deitada e tenta não olhar para o lado em que perdeu seu braço.

-Vocês vão precisar de antibióticos fortes agora- Tahisse diz tentando se ajeitar. –Eles são caros! Não vão conseguir pegar aqui com facilidade. Vão precisar da autorização da enfermeira chefe... não sei quem assumiu o meu lugar.

Madson olha para Aron esperando que ele saiba quem assumiu o cargo.

-Talia assumiu até você voltar- Ele diz abrindo a porta e olhando o corredor.



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Oliver pega as chaves da picape vermelha que alugou com o dono da conveniência e vai até a porta que separa a loja do velho posto de gasolina. –Vamos Clarck- Ele diz saindo da loja.

-Espera cara- Ele diz saindo da loja com um engradado de cervejas corona. Oliver ri e entra na picape. –Temos que ir pela a av. Alasca e entrar depois do radar- Ele diz olhando o mapa aberto sentado no banco carona. Oliver arranca com a picape fazendo a areia fina subir e virar uma nuvem de poeira densa. Eles saem do posto de gasolina e pegam a avenida principal da cidade. Eles observam a cidade completamente deserta, nada se mexe, nenhum carro anda, somente eles. –Onde estão todos? – Clarck diz olhando um carrinho de bebê tombado em uma calçada. A cidade está suja, cheia de papeis e jornais pelas calçadas, a maioria das lojas estão com a placa “CLOSED”. *Pela sua segurança e de sua família, fiquem em casa, respeitem o toque de recolher e usem máscaras* Essa frase se repede por todo o sistema de som da cidade fantasma. *Não abram suas portas e nos liguem se você ou qualquer pessoa de sua casa apresentarem os seguintes sintomas: Febre constante acima de 40°, palidez intensa, veias enegrecidas e enjoo. Não tentem tratar os sintomas em casa, somente o governo pode fornecer o tratamento ideal, não arrisque a vida de sua família* -Que merda é essa? – Ele diz fechando o vidro da picape.

-Não sei Clarck, não quero descobrir também- Ele acelera o carro entrando na avenida Alasca. Um carro vem na direção deles, um Toyota Prius azul, ele pisca os faróis de longe parando o carro. Oliver para a picape ao lado dele, uma mulher de mais ou menos quarenta e cinco anos abaixa o vidro.

-Não tem como sair por aqui- Ela diz saindo do carro, vestindo calça social cinza e uma blusa branca de abotoar, cabelos loiros curtos e óculos escuros. Ela acende um cigarro. –Os desgraçados estão por todo o lugar- ela diz limpando uma mancha de sangue no capô do Prius.

-Está sozinha? – Oliver pergunta descendo do carro e colocando o engradado de cervejas sobre o capô vermelho. Ele estende uma para ela.

-Obrigada- O gás sai da garrafa quando ela a abre usando a blusa. –Parei aqui para almoçar... merda de lugar, eu podia pelo menos ter ficado presa em New York- Ela diz tragando o cigarro. –Estava indo no recital da minha filha, três dias de carro- Ela dá um gole na cerveja. –Ela está morando com o pai, se pelo menos os celulares voltassem a funcionar- Ela diz se abaixando para pegar sua bolça dentro do carro.

-Tem uma estrada que passa por uma fazenda, estamos indo dar uma olhada, um homem nos disse que ela pode não estar bloqueada ainda- Oliver diz se apoiando no carro. –Não custa dar uma olhada- Ele diz bebendo a cerveja.

-É, não custa nada- Ela traga o cigarro mais uma vez.



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-São só vocês três? –A enfermeira do exército pergunta enquanto tira o sangue de Tassia.

-Sim, só nos- Dhonna responde segurando o algodão em seu braço. Os exames são feitos todos domingos e os resultados são entregues na segunda de manhã. –Quando vamos saber o que está acontecendo de verdade? – Ela pergunta encarando a enfermeira e os dois homens armados com roupas militar.

A enfermeira termina de tirar o sangue de Tassia e põe o frasco dentro de uma caixa de isopor com suportes pretos. –Vocês já sabem! É um exame de precaução- Ela diz fechando o zíper da caixa.

-Não estou falando dos exames- Ela descruza as pernas vestidas com a calça social preta. –Você sabe do que eu estou falando.

A enfermeira se levanta e vai em direção a porta. –Não, eu não sei do que você está falando. E seria melhor para todos nós se você não fizesse mais esse tipo de pergunta- ela passa pela porta e em seguida um dos homens a fecha quando sai. Dhonna fica encarando a porta fechada e em seguida acompanha com seus olhos pela janela a enfermeira entrar na casa ao lado.

-Está tudo bem mãe? – Tassia pergunta a encarando.

Dhonna responde sem tirar os olhos da janela. –Sim querida, está tudo bem. Vamos no mercado- Ela diz pegando as chaves em cima do balcão que divide a sala da cozinha. –Pega a sua irmã e me espera na garagem- Dhonna sobe as escadas e fecha a porta do quarto. Ela usa uma escada dobrável de dois degraus para pegar uma caixa em cima do armário alto. Com suavidade ela põe a caixa preta sobre a cama com lençóis bege e a abre. Dentro tem uma arma e dezessete balas. Ela põe a arma e as balas dentro da bolsa e desce.

...

As ruas estão vazias, aos poucos as luzes dos postes começam a se acender em sequência após o pôr do sol. De longe ela avista as letras grandes á quase um quilômetro de distância, WALMART. O estacionamento grande é ocupado por menos de dez carros e muitos caixas não estão funcionando. Ela pega um carrinho e entrega outro para Tassia.

-Para que dois carrinhos mãe? – Tassia pergunta passando pela porta automática do hipermercado. O teto sem forro com tubulações de ar por onde estão penduradas grandes placas de preço e luzes fortes as cobrem. O mercado está vazio e as poucas pessoas que estão lá passam com os carrinhos cheios.

-Querida, encha esse carrinho com comidas enlatadas, comidas instantâneas, biscoitos, tudo que renda e não estrague- Dhonna diz dando um beijo na testa de Giulia. Tassia anda e vira no fim do corredor com sua irmã. Dhonna vai até a farmácia interna, ela passa pelas prateleiras e pega diversas caixas de remédio para dor, anti-inflamatórios, antibióticos, anestésicos e tudo o que ela achou para limpeza de ferimentos e curativos.

Tassia está no corredor doze, a variedade de comida enlatada é muito grande, ela e Giulia começam a encher o carrinho. –Salsichas? – Ela pergunta pegando a lata das mãos de Giulia.

-Eu gosto delas- Diz a menina de cabelos loiros e touca de urso. –Posso pegar cereais?

Tassia pegas alguns fardos de latas de feijão e mais algumas latas de sopa. –Claro, precisamos de leite em pó também- Ela continua pegando mais latas. Ela tira mais latas da prateleira e abre uma fenda para o corredor ao lado. Do outro lado Tassia vê um casal também com os carrinhos cheios, a mulher segura um bebê e o homem pega latas de leite de em pó. Ela continua os olhando e repara em uma arma na calça do homem alto de jaquetas pretas. Ela observa Giulia chegando perto do casal, a mulher sorri e Giulia brinca com o bebê.

-Onde estão seus pais? – A mulher pergunta.

Tassia dá a volta no corredor. –Ela está comigo e minha mãe- Ela diz chegando perto do casal. –É um lindo bebê- Ela sorri.

-É perigoso sair de casa- O homem diz pegando latas de leite que estão no alto e entregando para Tassia. –Essas coisas já estão por aí- Ele pega mais umas latas.

A luz do mercado apaga e aos poucos os geradores fazem o mercado funcionar de novo. –Vocês já viram algum? – Ela pergunta colocando as latas no carrinho.

-Vimos um no parque semana passada e hoje vimos um na estrada- A mulher diz balançando o bebê. –Temos uma casa na montanha, é difícil de chegar lá, estamos indo hoje.

Tassia tenta não parecer assustada. –Boa sorte. Cuidado no caminho, já deve ter anoitecido- Ela diz pegando na mão de Giulia.

-Boa sorte para vocês também- A mulher diz colocando mais latas no carrinho. –Tentem sair da cidade, não é seguro- Ela desvia o olhar para Tassia.

Dhonna as encontra ao lado do casal, ela encheu o carrinho com remédios, pilhas, cordas, uma marreta de ponta, lanternas, um filtro portátil e mais outras coisas. –Boa noite- Ela diz encarando o carrinho do casal que tem coisas parecidas com o dela.



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Cloe segue Oliver e Clarck pela estrada de terra, ela buzina e eles param os carros. –Estou na reserva há meia hora já- Ela diz descendo do carro. –Falta muito? –Ela encosta na porta azul.

Oliver desliga o carro e desce. –Não sei, acho melhor voltar, estamos andando há três horas e nada! O sol já vai descer- Ele diz jogando um maço de cigarro pra Cloe.

-Está esfriando rápido- Diz Clarck fechando a jaqueta. A boca deles começa a soltar fumaça, a temperatura despencou. –Acho que ainda falta um pouco- Ele diz acendendo um cigarro.

Oliver dá um trago no cigarro de Clarck. –Acho que conseguimos fazer em meia hora, deixamos seu carro aqui e pegamos ele na volta.

-Melhor- Cloe desliga e trava o carro. Ela entra no banco carona com Clarck. O sol começa a se pôr, Cloe observa os campos ao longe.

...

-De quem era o sangue no seu carro? –Clarck pergunta procurando alguma rádio, mas só acha estática.

Cloe se vira para ele. –Era de uma dessas coisas- Ela encara a estrada deserta pelo retrovisor. –Parei na estrada para tentar usar o telefone e ele veio na minha direção. Aquilo não era mais uma pessoa. Se importa? – Ela pergunta antes de acender o cigarro.

-Não, fica à vontade- Oliver responde entregando o isqueiro a Cloe. –Eu nunca vi um deles- Ele diz fazendo a curva e levantando poeira na estrada. –Não sei se eu conseguiria matar- Ele desliga o rádio que só chiava.

-Tem sorte. É difícil esquecer depois, mas na hora ou é você ou é ele- Ela diz tragando o cigarro e soltando a fumaça pela janela. Eles observam duas pessoas andando pela plantação baixa. Eles andam devagar e com movimentos arrastados. –Está aí a sua primeira vez- Ela diz também olhando as pessoas ao longe. Eles os olham indiferentes, como se fossem parte do cenário. –Acho que estamos chegando- Ela diz olhando o moinho que aparece bem distante. O céu começa a ficar laranja, as aves voam por cima deles, as plantações balançam ao vento forte.

Eles se aproximam do moinho que roda devagar. –Tem que entrar na esquerda para contornar- Clarck vê o mapa. –Aqui- Ele diz apontando a estrada no mapa para Oliver. Está escurecendo rápido. As sombras das arvores atravessam a estrada de terra e cobrem a picape vermelha empoeirada. Eles continuam andando com o carro, a presença dos mortos começa a ficar mais frequente, eles passam por um, depois três perto da estrada, eles observam que nos campos dos dois lados começam a se formar grupos de até dez deles.

-É melhor a gente voltar- Cloe diz olhando ao redor e cada vez vendo mais deles. –De onde eles vieram? – Ela diz baixo. O tom laranja no céu começa a perder espaço para o azul escuro da noite. Não tem iluminação. –Oliver, são muitos- Eles começam a entrar na pista, os mortos vêm de todos os lados.

-Que merda é essa? – Clarck observa assustado eles se aglomerando em volta do carro. –Cara, vamos voltar, isso não está legal- Eles se gritam quando Oliver faz a curva escondida pelas pedras altas, centenas de mortos estão aglomerados pela pista e campo ao redor. Eles estão tão perto da virada da curva que Oliver não tem tempo de frear sem entrar no meio deles.

-MERDA- Ele diz mudando a marcha. Os mortos batem com os braços e cabeças por todo o carro, os retrovisores quebram, são muitos. Cloe se afasta da janela caindo por cima de Clarck que segura o banco com força. A multidão é iluminada pelo farol do carro que lança a sombra deles contra as arvores.

-TIRA A GENTE DAQUI- Clarck grita quando os vidros começam a trincar. Oliver dá a ré sem enxergar nada, ele olha o painel piscando em vermelho. –PUTA QUE PARIU, OLIVER- Ele grita olhando os olhos assustados de Oliver reparando no fim da gasolina. Eles estão cercados, o carro balança violentamente enquanto Oliver passa por cima de alguns mortos com carro. Oliver consegue sair do aglomerado, mas carro desliga e desliza por mais uns cinquenta metros até parar completamente. Eles estão bem na frente deles, eles encaram a horda vindo.

-SAI! SAAAAI, AGORA- Cloe grita abrindo a porta jogando um deles no chão com o impacto. Eles correm desviando dos poucos que estão na estrada. A noite desceu completamente, aos poucos eles vão adaptando a visão ao escuro dos campos. –Meu Deus- Ela tira os saltos e fica descalça.



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Dhonna conversa com o casal enquanto Tassia e Giulia estão em outro corredor. –Sinceramente? Não acredito que o governo possa conter isso- Ela diz apoiada no carrinho. –Está silencioso demais, sem pronunciamentos, sem matérias nos jornais- Ela continua.

O homem de jaqueta preta e arma na cintura pega um fardo de macarrão instantâneo. –Eu não quero pagar para ver, tenho lido matérias na internet e a coisa está bem feia em alguns lugares- Ele põe o fardo no carrinho. –Brasil, Chile, Bolívia, praticamente toda a América do Sul declarou lei marcial- Eles se assustam com o a porta principal de vidro se estilhaçando.

-TASSIA, GIULIA? – Dhonna grita encarando os corredores, elas entram no corredor da mãe correndo com o carrinho.

-O que foi isso? – Tassia pergunta parando ao lado deles. Eles encaram as mulheres de uniforme saindo do caixa e encarando a porta. Quatro seguranças passam correndo por eles. Eles escutam os tiros altos que fazem eco por todo o WALMART. A mulher dá um passo para trás com o bebê no colo. Eles não conseguem ver a porta, todos encaram o fim do corredor como se esperassem alguma coisa aparecer, e aparece. Um homem sem camisa aparece cambaleando no final do corredor e os encara, eles olham assustados e tremem com o som do tiro a queima roupa que o homem leva na cabeça. Ele cai no fim do corredor e um dos seguranças o cutuca com o pé. Dhonna leva as mãos aos olhos de Giulia e a puxa em direção ao seu corpo.



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-Já era para eles terem voltado- Karen se levanta do balcão e vai até a porta. –Aconteceu alguma coisa- Ela diz fechando a porta. Alisson está parada ao lado do balcão de madeira rústica do café iluminado pelas lâmpadas amarelas. Ela usa uma calça jeans e um moletom cinza com a estampa de um urso panda na frente. Seus cabelos lisos e ruivos estão presos em um rabo de cavalo. Ela encara a rua pela janela.

-Tem alguma coisa errada- Alisson vai até Karen. –Precisamos ir procurar por eles- Ela diz encarando Karen. Tara se levanta do sofá marrom de couro.

-Vamos no meu carro, eu peguei com o aeroporto- Tara pega as chaves. Karen está de calça jeans vermelha e botas, jaqueta preta e blusa branca. Seus cabelos negros e cacheados balançam com o vento quando ela abre a porta.

Ela encara a noite fria de Halavan. –Tomem cuidado- Lenna diz abraçando Karen. –Vou ficar com a Charlle, tudo bem? – Ela pergunta receosa que Karen fique chateada.

-Sem problemas, lá fora está perigoso e Charlle não pode ficar sozinha- Karen diz retribuindo o abraço.



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-Esperem- Cloe diz desacelerando. –Não precisamos mais correr- Ela diz encarando os dois homens que param logo em frente. Ela respira cansada com as mãos nos joelhos. –Não sou mais nenhuma garotinha que pode sair correndo brincando de pique- Ela tenta se recompor.

-Conseguimos sair de perto deles, mas ainda estamos longe da cidade- Oliver vai até Cloe e estende a mão para ela. –Vamos caminhando agora. Prestem atenção nos campos, eles estão espalhados, mas ainda estão aqui- Ele diz voltando a caminhar.

Eles andam um do lado do outro pela estrada de terra. Os campos estão vazios com apenas alguns deles bem espalhados, é lua nova e o céu está lotado de estrelas.

–Não dá para ver estrelas em New York- Cloe Olha o céu manchado por aglomerados de estrelas. Ela anda com dificuldade, está descalça, o salto não a deixava correr. Clarck a encara e olha para os pés dela que deixam pequenas manchas de sangue pela terra.

- Aqui, calça eles- Clarck tira os sapatos e entrega a Cloe.

Ela pega os sapatos e põe nos pés. –Obrigada. O que vamos fazer quando eles alcançarem a cidade? Chamamos a atenção deles- Ela diz encarando Oliver que anda olhando para frente.

As palavras saem dos lábios de Oliver acompanhadas pela fumaça causada pelo frio intenso. –Eu não sei- Ele continua encarando a estrada escura. –Condenamos a cidade inteira! - Ele fala com a culpa rasgando seu corpo por dentro. –Eles devem chegar na cidade em uns dois dias- Ele continua. Eles podem ouvir o vento trazendo os gemidos dos mortos que os acompanham a poucos quilômetros atrás. –Meu Deus- Ele suspira soltando mais fumaça pela boca.

-Não foi sua culpa. Uma hora ia acontecer, ia nos pegar de surpresa cedo ou tarde- Cloe tenta confortar Oliver. –Pelo menos agora temos uma chance de dar um passo na frente deles- Ela acende um cigarro.

Clarck olha as horas no celular, 10:43pm. –Nós já estamos andando a quase três horas- Ele diz guardando o celular no bolso da calça jeans. –Acha que seu carro tem gasolina para voltarmos para a cidade? – Ele pergunta olhando para Cloe.

-Talvez, pelo menos bem próximo ele nos deixa- Ela traga o cigarro o fazendo queimar e brilhar mais forte. As cinzas pegando fogo se destacam na noite escura. –Ali na frente- Ela aponta para o carro parado na estrada. Cloe destrava o carro e entra, o motor liga junto com o aquecedor. –Cuidado com os tapetes, acabei de aspirar- Ela ri.



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-Não é possível- Karen diz olhando em volta no centro da cidade. –Eles não estão em lugar nenhum- Ele senta no meio fio. A cidade totalmente vazia assusta Alisson que repara nas pessoas na janela.

-VÃO PARA A CASA, NÃO É SEGURO AÍ- Uma mulher grita de um dos prédios baixos de quatro andares. Elas encaram a mulher.

-PORQUE NÃO É SEGURO? – Tara pergunta a mulher que fecha as cortinas e some. –Patéticos- Ela diz soltando a fumaça do cigarro. A porta de um dos apartamentos se abre e surge uma senhora com seu neto.

-Vocês têm que sair das ruas, é perigoso- Ela aconselha as mulheres.

-Meu marido veio aqui no centro com um amigo mais cedo. Ele não voltou para casa- Karen se levanta. –Ele é alto, barba cerrada, estava com um casaco de moletom...- Ela pergunta na esperança de ter alguma notícia.

-Eu sinto muito querida, muitas pessoas sumiram recentemente- Ela lamenta.

Karen a encara e pergunta. –O que está acontecendo aqui? Porque as pessoas estão sumindo?

Ela sai mais ou menos dois metros do prédio antigo de tijolos vermelhos envernizados. –Elas somem e quando aparecem não são mais elas- A senhora ameaça entrar em casa.

Karen a segura pelo braço. -Me desculpa- Ela solta a mulher. A senhora a encara.

-Eles simplesmente não são mais humanos, são outra coisa- Ela olha para o neto e depois volta a olhar para Karen. –Eles matam qualquer um que chegue perto deles- A mulher entra no prédio com o neto. –Não seja mordida por eles, mas se for, um tiro na cabeça ira proteger seus amigos de você- Ela diz fechando a porta. Karen perde o controle e se desespera pelo marido. Ela leva as mãos à cabeça e chora, Alisson a abraça.

-Ei, eles estão bem- Alisson diz abraçando Karen. Um feixe de luz começa a iluminar as placas da pista principal. –Viu? Devem ser eles- Ela diz limpando as lágrimas de Karen. O carro se aproxima e leva junto um alivio às mulheres. Oliver para o carro ao lado delas e desce.

-O que estão fazendo aqui? – Ele a abraça. –Nós temos que sair daqui- Ele diz soltando ela.

Tara encara Oliver e em seguida desvia o olhar para Cloe dentro do carro com Clarck, eles não estão bem. –O que aconteceu? –Ela pergunta.

Oliver está desnorteado. –Temos que ir para um lugar seguro! - Ele tenta manter a calma.

Karen para ao lado dele. – Amor, o que está acontecendo? – Ela pergunta perdendo o sorriso do rosto. –Amor?

Oliver a encara, seus olhos estão distantes. –Eles estão vindo. - As palavras os preenchem com uma enxurrada de desespero e medo. -Nós fomos até a estrada das fazendas ver se estavam bloqueadas. Estão infestadas dessas coisas- Ele diz ainda a encarando.

-Que coisas, Oliver? – Ela pergunta mudando o tom da voz. Seus cabelos balançam com o vento.

Ele respira fundo. –Os mortos.



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Emma prepara as filhas para dormir. –Vou pegar seu nebulizador- Ela diz saindo do quarto. Dhavilla está na cozinha do hotel preparando café. –Taylor está com bronquite de novo- Ela diz pegando o nebulizador no armário na pia. –Não é possível, ela fez o mesmo tratamento que eu fiz quando tinha a idade dela- Ela prepara a nebulização.

Dhavilla começa a coar o café. –Ah querida, ela acabou de terminar o tratamento. Eu lembro que o seu irmão precisou estender as vacinas, talvez ela precise também.

-1...2...3...- Ela conta as gotas do brônquio dilatador. –Talvez ela precise. Pega o soro na geladeira para mim por favor- Dhavilla leva o soro para Emma.

-Acabei de fazer café, você quer? – Ela pergunta colocando o soro sobre a mesa.

Emma sorri e em seguida completa o inalador com o soro. –Vou querer sim, só vou levar isso para a Taylor, ela está chiando muito- Ela diz rosqueando a máscara.

-Querida, eu ainda tenho um pouco de antialérgicos da última vez- Dhavilla diz adoçando o café.

Emma liga o nebulizador e prende a máscara no rosto de Taylor. Ele faz o mesmo barulho de sempre, um motor baixo e constante. A fumaça começa a sair pela lateral da máscara. Emma acaricia os cabelos dela.

-Não adianta tentar me esconder, eu sou sua mãe e cuido de você desde quando nasceu. Acha que não sei quando está com falta de ar? – Ela diz se levantando da cama e dando um beijo na testa dela, em seguida ela vai até a cama de Lisa que já está dormindo. –Boa noite meu amor- Ela diz baixo dando um beijo na bochecha dela.



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-Meu Deus- Alisson se vira fechando os olhos, ela não quer acreditar no que está ouvindo.

Cloe vai até elas. –Mal conseguimos sair de lá inteiros. Se eles nos cercarem aqui vai ser impossível sair- Ela diz. O vento continua forte e a noite fica clara pela lua.

Karen respira fundo. –Temos que avisar a essas pessoas- Ela é interrompida por Clarck.

-Não temos tempo para isso, e vai ficar difícil sair daqui se todos entrarem em pânico- Ele diz batendo a porta do carro. Karen se vira para ele.

-Essas pessoas tem o direito de tentar sobreviver, eles têm o direito! - Ela diz o encarando com os olhos semicerrados. –Vocês estão brincando né? – Ela encara as pessoas em volta.

-Ela tem razão- Tara joga o cigarro no chão e pisa. –Temos que avisar, não é justo, não vou carregar essa culpa comigo- Ela diz olhando para Karen.

Oliver para no meio deles. –Certo, vamos avisar- Ele diz segurando as mãos de Karen.

-Como vamos fazer isso? A cidade não é tão pequena assim- Alisson pergunta se levantando do meio fio.

-Vamos avisar ao máximo que conseguirmos e eles vão avisando também- Karen diz indo em direção a porta do prédio onde a senhora que falou com elas mora.

Alisson atravessa a rua com Clarck e toca o interfone de um prédio de três andares.

-Tem uma horda deles vindo para cá, vocês precisam se proteger- Diz Karen para a senhora que está com a porta entre aberta.

-Meu Deus- A senhora abre a porta. –O que vamos fazer? –Ela encara Karen com o olhar assustado.

-Não sei o que vamos fazer, mas podemos sobreviver juntos- Karen diz levando as mãos aos ombros da senhora. –Precisamos avisar ao máximo de pessoas- Ela diz encarando a senhora negra de saias longas e casaco de moletom.

-Eu vou avisar a todos do prédio querida, obrigada.

Eles já estão há duas horas batendo de porta em porta, gritando pelas ruas, pela primeira vez desde o toque de recolher as ruas de Halavan ficaram movimentadas. Pessoas descem com caixas de papelão e abastecem os carros. Alguns se negam a sair de casa, outros simplesmente não acreditam. A rua principal fica totalmente engarrafada e alguns acidentes acontecem por conta do desespero, as pessoas se ajudam, compartilham suprimentos. –TENHO CINCO VAGAS NO MEU CARRO- Uma mulher grita batendo a porta.

-Mesmo se fosse verdade, acharia improvável ter tantos nos campos- Um homem diz sentado em um banco na calçada. –Nunca vi os supostos mortos vivos. Acredito que ninguém aqui tenha visto também- Ele cospe no chão.

Uma mulher abre a porta do carro e pega uma lata de cerveja. –E se for verdade? Prefiro arriscar e voltar para casa depois do que me sentar no sofá e ser comida viva caso seja verdade- Ela abre a lata deixando o gás sair. –As pessoas estão sumindo, não nos deixam sair de casa para procurar. Quem é levado para tratamento não volta mais...é óbvio que está acontecendo alguma coisa- Ela dá um gole na cerveja.

Karen se levanta da calçada e prende o cabelo. –Eu tenho lido em sites o tempo todo e acredito que vocês também, está acontecendo, aceitem! Se não querem acreditar, fiquem em casa e vejam com os próprios olhos... mas podem ter certeza que vai ser a última coisa que vocês vão ver- Ela ajeita a jaqueta. –Essas coisas são perigosas, estão se espalhando, vocês não veem que estamos sendo enganados pelo governo?

Tara vai até ela. –A maioria de vocês nunca nem saíram daqui! Não sabem como as coisas estão lá fora, isso não começou agora- Ela acende um cigarro. –Não são boatos, acham mesmo que o mundo pararia de funcionar por causa de boatos? Estamos há quase uma semana presos por causa de boatos? –Ela traga o cigarro fazendo as cinzas iluminarem seu rosto.

-Quanto tempo temos até eles chegarem aqui? – Uma mulher morena de cabelos longos e soltos vestindo uma camisa branca e calça jeans pergunta.

Oliver a encara. –Eles são lentos, talvez um dia ou dois se tivermos sorte- Ele fecha o casaco.



Karen entra no carro. –Vocês querem saber se é verdade ou não? Não tiro a razão de vocês, mas estejam preparados para se proteger e se não nos deixarem sair da cidade talvez precisaremos encarar isso sozinhos se quisermos viver. Não podemos perder tempo.

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