sábado, 5 de novembro de 2016

Capitulo. 2 - See you later

Capitulo. 2
See you later














-Precisamos ir para casa Oliver! – Karen leva a mão esquerda sobre a testa. –Madson disse que as coisas estão piorando.

Oliver vai até a janela e em seguida desvia o olhar para Karen. –Como? Está tudo parado, nada está funcionando! Estamos presos aqui. Não entende?

As notícias tanto na TV quanto nos sites não são nada confortantes. Já fazem duas semanas desde que o primeiro caso da febre vermelha foi confirmado nos EUA. Os boatos de pessoas mortas aparecendo andando pelas ruas não param, o governo desmentiu qualquer caso do tipo seja lá de qual país for, são boatos e a partir de agora vão ser tratados como crimes de terrorismo qualquer pessoa que compartilhar vídeos, matérias ou comentarem sobre tal assunto.

-Filho da puta! Isso saiu no jornal, estava em todas as bancas, não podem esconder isso! – Tara bate no balcão do café assistindo a entrevista com o presidente dos EUA.

Dhavilla se vira para Tara e leva uma das mãos ao braço dela. –Calma querida, eles não vão conseguir esconder isso por muito tempo.

Tara se levanta. –Esse é o problema Dhavilla. Essa é a hora das pessoas saberem o que está acontecendo.

–Vai virar um caos- Alisson diz assustada tomando o café que Lenna pôs sobre o balcão.

*TV- Vocês ouviram, não tem porque se preocupar, está tudo sob controle! Confira no próximo bloco onde e como aplicar o seu dinheiro...*

-Isso só pode ser brincadeira! – Lenna desliga a TV. Charlle está retirando e limpando as mesas do café enquanto Dhavilla, Tara, Alisson e Lenna estão no balcão.

Karen desce as escadas vestindo uma calça jeans clara, blusa branca e jaqueta marrom. –Boa tarde meninas. Alguma novidade? – Ela pergunta enquanto dá um beijo na cabeça de Charlle.–

Lenna vai até ela e a abraça.- Bom dia, Karen. Tudo na mesma-



---



Carol está na passagem de pratos atrás do balcão esperando um dos pedidos saírem. As luzes se apagam deixando o ambiente levemente escuro por causa do fim de tarde. –Acho que foi geral- Carol para ao lado de Christopher na calçada em frente a lanchonete. Os carros lutam para atravessar os cruzamentos sem os sinais funcionando. Algumas pessoas se arriscam em atravessar as ruas correndo de um lado para o outro.

-Apagou aí também? - Uma mulher negra diz saindo da floricultura que fica ao lado da lanchonete.

Carol olha para os dois lados da rua e observa que todos os sinais estão apagados. –Sim! Ficou piscando durante um tempo e apagou de vez agora.

O tempo começou a virar um pouco antes do apagão. O vento está forte e o céu está escuro e trovejando. Praticamente todos os lojistas do centro estão parados do lado de fora das lojas. A maioria conversa, ri alto, uns fumam. O transito já está parado. Nada anda pelas ruas do centro de Las Vegas. Aos poucos os faróis começam a acender iluminando um pouco mais o clima escuro da tarde que começa a perder espaço para a noite fria.

-Eles têm que dar um jeito nisso- Diz a mulher da floricultura. –Tenho essa loja há mais de quinze anos e sempre é a mesma coisa. Ventou, choveu, apaga a luz. Nunca vi isso.

Carol a encara e ri. –Estou aqui há uns três meses só. No meu bairro é assim durante as férias.

A luz volta e todos comemoram nas ruas. Carol entra para a lanchonete e a luz pisca mais uma vez voltando logo em seguida. TV *-Uma onda de apagões deixou metade dos EUA no escuro nessa tarde. O apagão durou entre três e quatro horas formando engarrafamentos que deverão se manter até o fim da noite de acordo com a guarda de trânsito. -*

-Ok- Spencer vai até Carol. –Está liberada.

Carol sai da lanchonete encara o grande engarrafamento. –Mãe? Eu vou me atrasar. Está tudo parado, vou andando- Ela diz no celular.





---





Madson sobe as escadas do metrô molhadas pela chuva recente, ela repara nos cartazes de pessoas desaparecidas que cobre toda a parede. O celular dela vibra. –Oi Tahisse, está melhor? – Tahisse mal consegue falar, está tossindo muito e com a voz fraca e distante.

–Mad, por favor, preciso de ajuda. – O hospital foi reaberto há um dia, metade pelo menos.

–Calma, estou chegando! – Madson finaliza a ligação e disca outro número. –Aron, está de plantão?

Aron sai do refeitório segurando um copo de suco. –Estou sim Mad-

–Preciso que me encontre na casa da Tahisse, agora!

...

-Meu Deus- Madson abre a porta do quarto. Tahisse está caída ao lado da cama, ela tenta levantar se apoiando no colchão, mas está muito fraca. Tahisse apoia o cotovelo no criado mudo e desce a cabeça sobre a mão. Madson está parada na porta e não sabe como agir vendo a amiga naquele estado. –Droga Tahisse, vem cá- Madson pega o braço de Tahisse e a apoia no ombro.

Aron entra no quarto. –O que ela tem?

Madson a põe de pé. –Temos que levar ela para o hospital, Aron- Madson responde tentando manter Tahisse em pé apoiada no seu ombro.

–Não! – Tahisse tenta firmar as pernas sem sucesso.

Madson força o corpo para frente para começar a andar. –Você está louca? Olha seu estado, precisamos levar você agora! –

Tahisse se solta do corpo de Madson e cai sobre a cama sentada. –Não podem me levar para lá, vocês não entendem? Eles vão me matar. – Ela levanta a manga da blusa de frio marrom. A mordida está inchada e sangrando, em volta da mordida sua pele está totalmente necrosada e suas veias estão negras até a altura do ombro.

Madson andou lendo sobre os boatos dos mortos e relatos de quem perdeu parentes e amigos com isso, ela sabe que o governo está mentindo e que isso realmente está acontecendo, os casos são cada vez mais comuns. Ela lembra de ter lido o que uma mulher desesperada postou na internet, tentando arrumar ajuda para seu filho. *Antony foi mordido há três dias na escola, seu braço está negro como carvão e a febre não abaixa mais. Eu sei o que está acontecendo! Meu filho vai morrer, a mordida passa o vírus, fiquem longe deles e protejam suas famílias* Nessa hora a barriga de Madson se revira em uma mistura de medo, tristeza e desespero. Ela lembra de ter limpado a mordida de Tahisse no hospital antes de conseguirem fugir. Ela leva as mãos até a cabeça quando ela lembra o que aconteceu, Tahisse foi mordida no hospital pelo homem que matou Jonny. Ela vai morrer e vai voltar como uma daquelas coisas.

–Não! Eu não vou deixar isso acontecer com você- Madson vai em direção a Tahisse, seus olhos estão cheios d’água, ela tenta não chorar. –Aron, me ajuda, precisamos entrar com ela no hospital sem sermos vistos. – Ela suspende Tahisse de novo. –Vai ficar tudo bem, vamos dar um jeito- Ela tenta manter Tahisse em pé com dificuldade. –Droga, Aron. Ela é muito pesada.

Eles a levantam, um de cada lado e a carregam. Ela tenta não fazer peso em excesso, tenta andar um pouco, mas não consegue. –Para! Eu preciso respirar- Tahisse se apoia no corrimão de madeira da escada que liga o corredor a sala. A fadiga dela é intensa. Ela está suando e tremendo de frio, sua pele está branca e seus lábios estão roxos. Ela vira e vomita. Madson vai até ela e puxa seus cabelos para trás.

Madson está de pé atrás de Tahisse segurando seus cabelos com a mão direita. Seu rosto se contorce em uma luta contra o choro, seus lábios tremem e algumas lagrimas descem. Ela tenta ser forte pela amiga. Madson olha para Aron que está parado no primeiro degrau da escada. O olhar assustado e em desespero de Madson invade a alma dele como o vento de uma tempestade invade uma casa pelas janelas. –Vamos Aron, me ajuda, ela é pesada para mim- Madson chama por Aron tentando levantar Tahisse de novo. Ele a envolve e a pega no colo de uma só vez.

–Vai na frente, pega as chaves e abre a ambulância! –Diz Aron descendo as escadas com Tahisse no colo. Ele atravessa a sala ainda com cheiro de café fresco, eles passam pela mesa onde Tahisse deixou o seu último café antes de piorar. A xícara está pela metade e a mesa está suja com os farelos do pão na chapa com queijo branco que ela fez. Pelo chão estão revistas e jornais, um deles o chama a atenção *The deads walk* a matéria está toda marcada com caneta verde fluorescente.

–Vem, coloca ela aqui- Madson tira os materiais de primeiros socorros de cima da maca. Ele entra com ela nos braços e a deita na maca acolchoada com ferros de suporte amarelos, Madson abre a blusa dela com a tesoura que pegou nas gavetas atrás de Aron.



---



Dhavilla está sentada na cozinha do hotel com as luzes apagadas, iluminada somente pelo feixe de luz do poste que invade a cozinha pela janela em cima da pia. A cozinha está impecável como sempre, mas o rosto dela está distante, como se ela estivesse em queda livre em seus pensamentos. –Mãe? - Emma entra na cozinha. -Porque ainda liga para ele?

Dhavilla coloca o telefone em cima da mesa de madeira rustica de cantos lascados –É meu filho... não importa o que ele me diga, ainda é meu filho. - A família sempre foi importante para ela, Dhavilla sempre fez de tudo para manter todos juntos, mas a relação dela com Tonny sempre foi perturbada. Tonny a culpa pela morte do pai há doze anos, ele se matou quando Dhavilla pediu o divórcio.

Emma vai até Dhavilla e se senta ao lado dela. –A senhora não precisa da aprovação dele, ele é e sempre foi um egoísta. – Ela corta uma fatia do bolo de cenoura que está em cima da mesa.

–Eu sei querida, mas tenho esperança de tudo voltar ao normal um dia. Eu tive tanto trabalho para criar vocês dois e manter esse hotel. Ver minha família se distanciando não era o que eu esperava ver na minha velhice.

Emma senta ao lado de Dhavilla e põe as mãos por cima das dela, ela a encara por alguns segundos. -A senhora tem netas que te amam, tem a mim e os seus amigos, nós somos a sua família e nunca vamos nos distanciar da senhora, entendeu?- Ela envolve Dhavilla com um abraço forte, Dhavilla não consegue se segurar e chora. Ela se sente sozinha na maioria dos dias, menos quando Emma vai com as filhas passar temporada com ela. Ela é e sempre foi forte como uma pedra, não é de demonstrar o que sente, mas tem vezes que ela não aguenta.

Emma é jovem, trinta e dois anos, filha mais velha de Dhavilla e fruto do seu primeiro casamento. Ela se mudou para o Texas com as filhas quando se casou com Luiz há uns anos, ela vai pelo menos duas vezes ao ano visitar a mãe. Já Tonny, ele não visita a mãe desde que foi morar com a vó em Orlando há doze anos quando o pai se matou na banheira de casa.

-A senhora vem para cama? – Emma pergunta enquanto guarda o prato que acabou de lavar.

Dhavilla seca os olhos. –Não querida, pode ir- Ela se levanta da cadeira de madeira escura.

Emma vai até ela e dá um beijo em sua testa. –Ok! Boa noite, vê se dorme um pouco, te amo.

Dhavilla abre a porta principal do Hotel e observa as ruas totalmente vazias de Halavan. São quatro e vinte e três da manhã e a temperatura está abaixo de zero graus, ela sai e fecha a porta.



---





Aron está dirigindo a ambulância com as sirenes desligadas, os fundos estão escuros, somente as luzes de emergência estão acesas. Madson está sentada no banco acoplado segurando o soro que quase cai com o desviar da ambulância dos carros que transitam pela rodovia. –Como ela está? – Ele pergunta olhando pelo espelho retrovisor central. Seus olhos encontram os de Madson e ele repara que seu rosto está sujo de sangue, isso parte o seu coração. Ver Madson tentando ser forte, mantendo Tahisse acordada e sem demostrar pelo menos um sinal de fraqueza.

-Ainda está muito fraca- Ela responde iluminada pela luz verde das letras EMERGENCY acesas ao lado de seu rosto pálido e distante. -Mais rápido Aron, droga.



---



Tara está deitada de olhos abertos na cama, todos estão dormindo. –Merda! – Ela diz tirando o cobertor marrom de pelos grossos de cima dela. Tara levanta e vai em direção ao armário. O quarto está parcialmente iluminado pela noite clara de lua cheia, mesmo assim ela usa o celular para achar o maço de cigarros que deixou do lado da TV. –Tenho certeza que estava aqui. – Ela diz em voz baixa enquanto passa o celular por cima do móvel de madeira clara e prateleiras de vidro. –Aqui. – Ela diz levantando um livro que cobria o maço. O corredor do hotel está totalmente escuro, apenas o elevador aberto no fim do corredor largo com vinte e dois quartos dão rumo aos passos de Tara. Ela entra no elevador que está parado no sétimo andar do prédio e encara o corredor escuro e sem vida, isso desperta um certo desespero em Tara, não saber o que tem lá a deixa agoniada e ser forçada a olhar para um lugar sem fim a faz apertar o botão do térreo diversas vezes seguidas. Ela sente um alivio incontrolável quando as portas do elevador finalmente começam a se fechar.

Ela sai do elevador e entrega as chaves do quarto para a recepcionista, uma garota nova, provavelmente uma estagiaria. –Boa noite senhora- Diz a estagiaria.

–Boa noite- Tara responde passando pela recepção. -Peça para alguém concertar as luzes do corredor do sétimo andar! Estão totalmente apagadas.

–Desculpe senhora, elas são acionadas por movimento, vou mandar o técnico dar uma olhada pela manhã. - Diz a estagiaria olhando o corredor do sétimo andar pelas câmeras.

Tara abre as portas de vidro do hotel e caminha até a praça parcialmente coberta por uma névoa fraca e fria como a fumaça de um congelador aberto. As arvores estão com as pontas congeladas pelo frio e o chão está escorregadio ao ponto de fazer Tara cair. Ela cai com os seios para baixo e seu maço de cigarro escorrega pela sua cintura e vai deslizando a uma distância de mais ou menos um metro do seu corpo. Alguma coisa mexe os arbustos que estão atrás de Tara, o que faz a sua respiração ficar pesada e lenta. A fumaça da respiração quente de Tara sobe pelo seu rosto e ela encara uma sombra cobrindo seu corpo. Sua respiração vai ficando mais rápida e o medo paralisa seu corpo que começa a queimar com o gelo que cobre o chão de placas de cimento. Ela pega uma pedra que está ao lado de sua cabeça e com um grito ela se vira e a arremessa com toda sua força.

–Oh Deus, nunca agradeci tanto por uma pessoa ter uma mira tão ruim- Dhavilla diz pegando o maço de cigarro e estendendo a mão para Tara.

Tara respira fundo e fecha os olhos. –Droga, Dhavilla. O que faz aqui uma hora dessas? – Ela pergunta segurando a mão de Dhavilla enquanto se levanta.

–Dia difícil e você?

Tara tenta ascender um cigarro. –Não consegui dormir ainda. – O vento sopra apagando a chama do isqueiro. –Merda de vento- Ela vira de costas e rola a pedra do isqueiro mais uma vez. A chama ilumina seu rosto enquanto ela traga o cigarro, ela expira toda a fumaça fazendo seu rosto descontrair pelo alívio de entregar ao seu corpo o seu calmante favorito. –Como essa merda pode ser tão boa? – Tara diz se virando e voltando a acompanhar Dhavilla.

...

-Eu entendo vocês, não julgo, não nasci com sessenta e seis anos, já tive meus vícios- Dhavilla sorri enquanto põe as mãos nos bolsos do casaco acolchoado preto para fugir do frio intenso. –Ah é mesmo? E o que a senhora rebelde fez na juventude? Chegou depois das dez da noite em casa?– Tara ri e da mais um trago no cigarro.

Dhavilla respira fundo. -Ah querida, os anos sessenta e setenta foram os anos da expressão, liberdade, rock. David Bowie, Elton John, Rolling Stones, The Who, Bee Gees, fui em muitos shows desses caras, já beijei um dos guitarristas do David até. – Ela ri enquanto fala. -Vocês jovens acham que curtem hoje em dia, mas nunca viveram a explosão da liberdade. Nunca viram as meninas pulando as janelas de casa com suas saias rodadas e as trocando por calças de couro apertadas e maquiagem pesada. Isso era rebeldia! Beber em bares noturnos, fazer coisas que eram consideradas para homens. Meu lugar não era em casa.

Tara desvia o olhar para Dhavilla. –Parece que eu me enganei, tem muito mais coisas para contar do que eu- Ela joga o cigarro no chão e pisa no filtro ainda aceso.

–Pode apostar que sim querida- Ela ri.



---



-Droga Aron, não podemos ficar mais tempo com ela aqui fora, temos que entrar- Madson olha pela janela traseira da ambulância totalmente apagada. Eles estão há horas tentando entrar no hospital, mas o movimento está intenso.

Aron abre a porta da ambulância. –Espera aqui! Vou dar um jeito- Diz Aron descendo da ambulância. Ele vai em direção ao setor de limpeza que fica ao lado do hospital. Aron tem uns amigos lá, mas nessa noite só tem uma pessoa tomando conta do lugar. –E aí cuzão, preciso de uns lençóis e um carrinho- Ele diz entrando e dando uns tapas no peito de Mike, são amigos há anos.

–Entra e pega, não sou seu empregado- Mike responde fumando um cigarro na porta do setor de limpeza.

Aron entra na sala. –Você pode fumar aqui? – Ele pergunta enquanto coloca dois lençóis dentro do carrinho de transporte de lixo hospitalar.

Mike o encara. –Qual é cara, eu não recebo há dois meses, foda-se o cigarro- Mike traga o cigarro, ele solta a fumaça pela boca e a puxa de volta pelo nariz.

Aron desvia o olhar para o homem de touca azul e uniforme amarelo. –Como quer continuar pagando por putas nas ruas se for demitido? – Aron passa com o carrinho por Mike. Ele atravessa a sala e passa pela porta.

Mike respira fundo e responde. –Não vou ter putas para pagar quando o mundo acabar, e meu irmão, não vai demorar para essa porra ir toda para o espaço.

Aron para de andar por um momento, ele sabe do que Mike está falando. –É crime falar sobre isso agora, além de fodido, quer ser preso? - Ele ri e volta a andar com o carrinho.

Mike apaga o cigarro na parede e o joga no lixo. –Foi bom te ver também- Ele diz entrando para o setor de limpeza e fechando a porta.

Madson abre as portas da ambulância e encara o carrinho. -Você está brincando né?

–Não, é simples. Vocês entram e eu cubro vocês com os lençóis, passamos por todos e vamos para ala interditada do hospital, está totalmente vazia.

Madson respira fundo. –Ok, me ajude a por ela, tente manter o soro acima de nós, o sangue não pode voltar. - Eles deitam Tahisse nos fundos do carrinho e em seguida Madson deita ao seu lado. Aron segura o soro com a mesma mão que empurra o carrinho. Ele cobre a mão com o lençol que cobre Madson e Tahisse.

–Ok meninas, agora fiquem quietas. – Ele diz passando com o carrinho pela porta principal do hospital.



---



A música alta abafada pelas arvores do parque quase não é ouvida poucos metros floresta a dentro. *Think I can fly, think I can fly when I'm with u* Noah dança com Carol perto da fogueira, eles se beijam e são interrompidos por Tassia. –Ah, qual é, parem! Vão me fazer vomitar- Tassia os separa entregando um copo descartável vermelho cheio de cerveja para Noah.

Ele ri e a encara. –Obrigado cortadora de clima- Ele diz pegando o copo. Noah dá três goles demorados e deixa o copo pela metade.

–Vocês viram o Scott? – Tassia pergunta abaixando para amarrar a bota de cano alto.

Carol pega o copo das mãos de Noah e dá um gole na cerveja. –Ele estava com o Troye perto do carro.

Mais ou menos cinquenta adolescentes dançam em volta da fogueira alta ao som da música eletrônica. Os carros parados circulando a fogueira iluminam a festa com os faróis acesos. Troye está encostado na Frontier 2014 vermelha conversando com Scott. *I wanna run away, I wanna run away, Anywhere out this place* -Ei, estava te procurando- Tassia diz segurando a jaqueta old school college vermelha de Scott.

–É mesmo? – Ele responde a beijando.

Tassia é uma garota muito bonita, com dezesseis anos, branca e com os cabelos loiros que descem até a cintura fina à mostra. Ela veste uma calça jeans escura justa com manchas mais claras e partes desfiadas, uma bota de salto alto até a canela e uma blusa branca mostrando os ombros. –Vamos dar uma volta- Ela o puxa pela jaqueta.

–Uma volta, claro. - Troye diz vendo eles saindo da festa.

Noah encosta ao lado de Troye. –Te deixaram para trás?

–Onde está a Carol? – Troye pergunta pegando o copo da mão de Noah.

–Ela está falando com a Ashley no celular.

...

A floresta está com algumas partes claras por causa da lua, Scott e Tassia andam de mãos dadas e passam por um córrego. –Chega, estamos longe demais já- Tassia diz parando de andar.

–Ok, aqui está ótimo- Ele responde sentando em um tronco caído. Os dois se beijam. Tassia tira a jaqueta de Scott e expõe os braços dele que saltam pela camiseta preta, a camiseta justa molda ao peitoral definido por onde Tassia passa as mãos descendo até a barriga. Ela sobe em cima de Scott e tira a blusa expondo o sutiã de bojo preto. Scott beija seu pescoço e vai descendo até os seus seios. O pênis rígido de Scott pulsa de acordo com os movimentos que Tassia faz, Ela lambe Scott do queixo até chegar ao ouvido direito onde ela dá uma mordida de leve. A barba cerrada faz Tassia se contorcer enquanto Scott passa o queixo dos seios para a barriga de Tassia. Ela encara o volume na calça de Scott. Eles continuam se beijando até serem interrompidos por passos nas folhas secas da floresta escura.

–Ouviu isso? – Tassia pergunta segurando a jaqueta a pondo em frente aos seios.

–Ouvi, devem ser alguns cervos- Ele volta a beijar o pescoço de Tassia.

Ela para e levanta assustada –Espera, para! Tem alguém ali.- Eles encaram a escuridão até começarem a ver a silhueta de umas três ou quatro pessoas andando lentamente em direção a eles. –Merda, será que nos viram? – Tassia pergunta abaixando a blusa.

–Ei, seus virgens... querem bater uma nos olhando? – Ele grita.

Tassia o segura pela camiseta. –Para Scott, por favor- Ela diz tentando segurar os braços de Scott.

–Me solta! – Ele diz indo em direção as arvores.

Tassia o encara assustada. –Scott, por favor, vamos embora, está tudo bem- Ele continua andando até sumir em meio as arvores. –Scott? – Ela grita em pé ao lado do tronco caído. A noite está fresca e clara. O chão coberto de galhos e folhas secas que formam uma orquestra de sons que deixam Tassia com assustada. –Scott? – Ela o chama entrando na escuridão da floresta. Os barulhos de passos e galhos estalando a fazem olhar para todos os lados, mas ela mal consegue ver as arvores em volta. –Vamos Scott, estou com medo, por favor- Ela diz cruzando os braços e entrando mais na floresta.



---



Madson observa as luzes do corredor passando por cima deles pela brecha do lençol. –O que você tem aí Aron? – Pergunta Malía, uma das seguranças do hospital.

–Só lixo, lençóis sujos- Aron responde tentando manter o ritmo dos passos. Malía tira a lanterna do coldre de couro preto e aponta para o carrinho de lixo hospitalar. Os olhos de Madson se fecham quando a luz da lanterna os invadem. Sua respiração ofegante e alta a faz parar de respirar por um tempo temendo que Malía a ouça ao longe. Algo chama a atenção de Malía e ela aproxima a lanterna do emaranhado de lençóis. O seu coração pode ser ouvido quebrando o silencio dos ouvidos de Madson. Suas pupilas dilatadas se adaptam a escuridão em baixo dos lençóis, tudo se passa tão devagar e tão silencioso que até os ponteiros do relógio de Aron são capazes de quebrar o silencio constante de toda ação do momento que se passa na eternidade dos trinta segundos mais longos que Madson já viveu.

O silencio enfim é quebrado pela campainha de acionamento de funcionários. *Seguranças e policias responsáveis de plantão, favor comparecer a porta de entrada principal* Malía põe a lanterna de volta ao coldre quando é chamada no rádio pelo seu colega de trabalho.

A voz de Brad sai pelo rádio com o típico som de uma chamada convencional. –Malía? Vem para a porta principal, rápido.

Ela encara Aron e depois desvia o olhar para o carrinho de lixo. –Já entendi Brad, estou chegando- Ela diz se afastando sem tirar os olhos dos de Aron.

Aron respira fundo. –Foi por pouco- Ele volta a empurrar o carrinho.

...

-Qual? – Aron pergunta enquanto observa as salas por onde passa.

Madson tira os lençóis de cima dela. –O setor cirúrgico C está desativado, vamos para lá. - Ela desce do carrinho e para em frente a porta. -Droga- Ela diz olhando o painel de segurança na porta da sala. –Eu não sei a senha- Ela continua encarando a sequência de números iluminados por Led azul.

-Vinte e três... quarenta e cinco... doze- A voz fraca e impotente de Tahisse faz Madson e Aron olharem para trás. Madson digita os códigos fazendo o visor do painel ficar verde e a porta abre. Aron vai até o carrinho e pega Tahisse no colo. Eles entram na sala parcialmente escura, com uma mesa cirúrgica no meio rodeada por holofotes e com uma mesa de aço ao lado com alguns bisturis e pinças em cima.

–Coloca ela aqui- Madson diz cobrindo a mesa fria com os dois lençóis que Aron trouxe. Tahisse encara os holofotes desfocando em cima dos seus olhos por causa da visão turva, ela quer se manter acordada. Madson abre as gavetas e depois os armários.

Aron a observa rodeando a sala. –O que você quer? – Ele pergunta se aproximando.

–Anestesia- Ela diz abrindo e fechando mais uma gaveta.

Ele se abaixa ao lado de Madson. –O que você vai fazer, Mad?

Ela para e o encara. –Precisamos amputar o braço, é nossa única chance de tentar salva-la.

A resposta de Madson faz Aron se sentir enjoado, ele sente calafrios por todo o corpo. –Mad, não podemos cortar o braço dela. Eu sou só o motorista e você é enfermeira, não podemos operar. E mesmo que tentássemos, se aplicarmos a anestesia errado, matamos ela de qualquer forma!

Madson respira fundo e se senta no chão. –Acha que eu não sei? Ela vai morrer se não fizermos nada! Não quero pensar depois que eu poderia ter feito alguma coisa.

Tahisse tenta se sentar e começa a tossir. –Debaixo do armário do freezer tem a anestesia a gás. – Tahisse aponta para o armário com portas de aço no fim da sala.

–Ok- Madson tenta abrir a porta, ela faz força porque a porta está emperrada. A porta abre fazendo Madson perder o equilíbrio. Ela para em frente ao armário com prateleiras de aço e iluminação forte. –Qual? – Ela pergunta olhando os cilindros.

Tahisse tosse mais algumas vezes. –Ele é verde e fino, está escrito N2O em vermelho. – Ela respira fundo. -Você vai precisar da máscara e a mangueira, deve estar em alguma gaveta do outro lad...– Ela não consegue terminar de falar, está fraca demais para isso. Ela tenta respirar fundo mais uma vez, mas o seu corpo está começando a parar de funcionar.

Aron corre até Tahisse e a põe de lado. –Droga Mad, rápido!

Madson atravessa a sala arrastando o cilindro de gás N2O e com a mangueira pendurada no ombro esquerdo. Aron posiciona o cilindro ao lado da mesa cirúrgica, ele conecta a mangueira e depois a máscara. –Que Deus esteja com a gente- Ele diz terminando de enroscar a mangueira.

Madson se aproxima de Tahisse. –Obrigada- A voz fraca de Tahisse luta para sair um pouco mais alta. –Obrig...

Ela é interrompida por Madson. –Quero que você acorde quando eu terminar! Eu não vou sair daqui até você acordar- As lágrimas começam a escorrer na lateral dos olhos de Tahisse. Madson liga os equipamentos e o monitor de batimentos começa a funcionar. Madson se abaixa e abraça Tahisse com todas as suas forças.

Tahisse faz um último esforço e põe o braço por trás de Madson tentando retribuir o abraço. –Respira fundo- Madson diz pondo a máscara no rosto dela. –Vai Aron- Aron abre o registro deixando a gás sair. O barulho do gás passando pela máscara faz o coração de Madson bater mais forte, ela está segurando a mão de Tahisse. –Até mais tarde- Diz Tahisse fechando os olhos e soltando as mãos de Madson.

Nenhum comentário:

Postar um comentário