Capitulo. 3
My God, no, please
-Por favor, não! – Tassia corre ofegante pela floresta escura esbarrando em arbustos e tropeçando em galhos secos pelo chão. Os feixes de luz entram pelas brechas das folhagens iluminando aglomerados de mosquitos e poeira.
–Droga, não deixem ela fugir- Grita um dos homens. Eles a perseguem pelas margens do riacho fino com corredeiras suaves. O chão é mais silencioso pelas folhas e terra molhada. A água espirra e desacelera os passos de Tassia quando ela começa a atravessar o rio raso de águas negras. O cabelo molhado pelo suor e pelos respingos de agua colam em seu rosto. Ela tropeça ao sair do córrego e se levanta rápido olhando para trás.
Um homem alto de barba cerrada sai detrás de uma arvore de tronco largo coberto de ervas amarelas e a segura jogando-a no chão, o que a faz gritar. O grito agudo em desespero faz Carol desligar o celular e entrar na floresta atrás de Tassia.
–Para de cena putinha... eu sei que você gosta disso- Diz o homem tirando o cinto da calça jeans azul suja de terra e lama. Ele a segura pelo pescoço contra o chão, seu braço é longo o suficiente para afastar as mãos de Tassia do seu rosto. Ela luta, se contorce, chora, sem sucesso. Os grânulos de terra se prendem ao seu rosto usando suas lagrimas como cola. A maquiagem borrada escorre dos seus olhos assustados que tentam ficar inertes a situação. Ele puxa a calça dela de uma só vez expondo sua calcinha branca. Ela se debate e chora, implora para ele parar, mas ele ri. O desespero e aflição dela o deixa ainda mais louco. Ela vira a cabeça de lado e fecha os olhos fazendo mais algumas lagrimas manchadas pela maquiagem descerem pela bochecha quando ele se aproxima do seu corpo com o pênis já fora da calça.
Carol o acerta na cabeça com um galho, o único que ela achou no caminho. A pancada o faz cair ao lado de Tassia. –MONSTRO! NOJENTO! – Ela grita o acertando mais uma vez e em seguida dando um chute em sua barriga. Tassia se levanta e a abraça, ela chora com as pernas ainda descobertas.
-Vamos, não é só ele- Diz a menina com o rosto manchado pela maquiagem negra. –Não é só ele- Ela diz mais uma vez puxando Carol pela mão.
Elas correm de mãos dadas pela floresta desviado de troncos negros e arbustos espinhosos. Carol sussurra alto o suficiente para que Tassia ouça –Onde está Scott?
-Eu não sei- Ela responde desviando de uma pedra grande.
-Você conseguiu contar quantos são?
-Não. Foi muito rápido... uns cinco talvez. – Elas mantêm o ritmo acelerado. –Precisamos voltar para a festa, buscar ajuda- Ela diz limpando o sangue de sua coxa com a mão.
Carol a observa limpar o corte –Ele te machucou?
-Eu me cortei em um dos arbustos... PARA! – Ela diz se escondendo atrás de uma pedra grande coberta de musgo e cogumelos brancos. –Eles estão ali.
Carol os encara pela lateral da pedra por onde corre uma fileira de formigas.
Eles conversam ao fundo, estão falando baixo, mas alto o suficiente para que Carol ouça.
-São duas agora- Diz um dos homens. Um homem mais velho com barbas grisalhas e boné vermelho. –Vocês se acham espertos? – Ele diz dando um chute forte na barriga de Scott que está deitado de lado no chão. O chute o faz se contorcer e cuspir sangue.
-Meu Deus- Tassia chora baixo levando as mãos a boca. Ela fecha os olhos quando o velho da mais um chute na barriga dele. Carol olha assustada e procura algo em volta delas. –Temos que ir lá- Ela diz tirando a mão da boca.
-Eu sei- Diz Carol pegando uma pedra do tamanho de um paralelepípedo. Ela observa três deles entrando de volta na floresta. –Eles entraram na floresta de novo, Scott está com o mais velho.
-Certo, preciso de alguma coisa também.
-Aqui- Ela diz pegando um galho forte e dando nas mãos de Tassia.
...
Carol entra na clareira e para assustada em frente ao homem de aparentemente sessenta anos. Seu rosto é iluminado pela fogueira tímida de poucas madeiras. –Deixa ele em paz- Ela diz segurando a pedra pesada que faz um dos seus ombros ficar mais baixo do que o normal. Ela sopra uma mecha de cabelos ruivos que descem sobre o seu rosto e seus olhos verdes não piscam em nenhum momento, eles somente o encaram.
Ele solta uma risada descontrolada e abre as calças. –É isso que você quer? Posso te dar! – Ele diz passando a mão por cima da cueca branca surrada. Tassia o atinge com a galho por trás o fazendo cair no chão. Carol corre e o acerta com a pedra deixando-o tonto, a pedra cai de suas mãos e Tassia a pega. Ela sobe em cima dele e o acerta diversas vezes esmagando o seu rosto. Ela grita e chora cada vez que solta a pedra sobre ele. O sangue espirra sujando seu rosto e sua blusa branca. Carol observa a cena sem reação. Os olhos dele perdem a vida e ficam inertes ao momento, somente o reflexo das chamas da fogueira dão vida aos seus olhos mortos. O homem que por pouco não a estuprou entra correndo na clareira e a chuta fazendo ela rolar em direção a Scott.
-Pai? PAAAI?– Ele grita sacudido o homem já morto no chão. –SUA FILHA DA PUTA, OLHA O QUE VOCÊ FEZ! – Ele o sacode mais uma vez.
Ela se levanta e joga os cabelos loiros e molhados para trás. –Faria mais uma vez se eu pudesse- Ela diz com um sorriso no canto da boca. Seu rosto sujo de sangue e o olhar frio como gelo fazem a barriga de Carol se retorcer.
-Vamos Tassia, me ajude a levantar ele- Ela diz puxando o braço de Scott.
Ele geme de dor quando Carol tenta o levantar, seu rosto está inchado pelas pancadas que recebeu. Tassia para ao lado dele e o puxa pelo outro braço. Elas o levantam cada uma de um lado, eles observam o homem sentado ao lado do pai. –Vocês acham mesmo que vão ficar vivos depois disso? – Ele diz se levantando. Ainda de costas ele fala. –Eu vou terminar o que eu comecei com você e depois você é a próxima ruivinha- Ele se vira e encara o trio que agora dá um passo para trás. Ele ameaça andar, mas algo chama a atenção de todos. –Pai? – Ele se vira e encara o homem deitado. Ele abre os olhos esbranquiçados e seu rosto deformado se contorce com alguns movimentos do maxilar. O homem se mexe mais uma vez, agora os dedos, aos poucos ele vai movendo cada musculo do corpo. Ele se abaixa ao lado do homem e o encara.
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Madson segura o bisturi com a mão direita e ameaça cortar a pele de Tahisse. –Eu não posso, não consigo- Ela diz largando o bisturi na bandeja de aço ao lado de Tahisse. O som constante dos batimentos cardíacos de Tahisse preenchem a sala.
Aron se aproxima de Madson e a entrega o bisturi novamente. –Você consegue, tem que conseguir.
Ela pega o bisturi e respira fundo. –Ok- O bisturi perfura o braço de Tahisse e o sangue começa a escorrer. –Traz o sugador- A voz dela sai abafada pela máscara. Lagrimas escorrem dos seus olhos enquanto ela vai cortando cada camada, pele, carne, musculo. –O que eu estou fazendo? - Ela diz para si mesma em voz baixa. –Vou cortar pelo ligamento para não serrar o osso.
Aron põe a mão esquerda sobre o ombro de Madson -Você está quase lá- O monitor de batimentos começa a apitar.
-Estamos perdendo ela- Madson diz colocando o braço cortado sobre a bandeja. –Droga- Ela corre para o outro lado da sala. –Está perdendo muito sangue, Aron- ela volta com uma caixa de pós cirurgia. Na caixa tem ataduras, agulhas, linhas etc...
-Mad, rápido- Ele diz vendo o sangue pingando da mesa ao chão formando uma poça. A máquina apita mais alto e mais rápido. O som que a cada segundo anuncia a morte de Tahisse faz Madson tremer deixando a caixa cair no chão.
Aron se abaixa e pega a caixa a entregando para Madson.
Ela respira fundo. -Eu vou fechar, me ajuda- Ela começa a estancar o sangramento. –Eu nunca fiz isso, só vi os médicos fazendo- ela diz tentando parar o sangue. – Acho que é assim- Ela começa a costurar as camadas de carne. Eles respiram fundo quando a pressão sanguínea dela estabiliza fazendo a máquina voltar a apitar normalmente.
Aron para ao lado de Madson. –Conseguiu? É isso? – Ele a encara esperando a resposta.
Madson agacha se escorando na parede. –Acho que é. Só vamos ter certeza quando ela acordar. – Ela vai em direção a lixeira ao lado da pia e tira as luvas sujas de sangue e a máscara. Ela joga fora e em seguida lava o rosto. Ela se observa em frente ao espelho, seus olhos não param de lacrimejar. –Pode desligar o gás- Ela diz sem tirar os olhos do espelho. O barulho da válvula sendo apertada por Aron preenche os ouvidos de Madson. –Por favor... volte.
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-Eu matei ele, tenho certeza- Murmura Tassia, ela e Carol se entreolham e dão mais um passo para trás.
O homem alto de barba cerrada aproxima o rosto do pai e aos poucos ele observa a cabeça dele sair do chão. –Você está bem? Consegue me ouvir? –Ele se aproxima mais. –AAAAAAAAAAH- Ele grita de dor quando seu pai arranca uma parte do seu pescoço com uma mordida. O homem que minutos antes era chamado de pai agora é uma mistura de restos sem vida que rasteja em direção ao rapaz alto que cai ao chão. –O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? – Ele grita quando leva mais uma mordida na coxa. Elas observam paralisadas toda a cena que parece ter sido tirada de um filme de terror. O homem agoniza no chão quando mais partes do seu corpo são arrancadas, fazendo o sangue espirrar.
-O que é isso? – Carol pergunta com um olhar que parece desacreditar no que está vendo.
Tassia responde também sem entender. –Eu não sei... e não quero descobrir. Vamos sair daqui. - Elas arrastam Scott pela floresta parcialmente iluminada pelo sol que acaba de começar a nascer. As folhas estão molhadas por causa do sereno da madrugada. A cada minuto a floresta vai ficando mais clara e os pássaros começam a cantar. Elas avistam dois carros parados ao lado da fogueira apagada que ainda solta fumaça branca. Elas entram na clareira onde Troye e Noah as recebem preocupados pelo sumiço. O chão está coberto por copos descartáveis azuis e vermelhos.
-Porque não atende a droga do celular? – Noah pergunta indo em direção a Carol. Ele e Troye pegam Scott e o colocam sentando ao lado da Frontier Vermelha. -O que aconteceu com vocês? – Ele pergunta.
-Eu conto no carro- Diz Carol dando um abraço em Noah. Eles observam Tassia entrando no carro, ela está somente de calcinha e blusa, toda suja de sangue e cabelos molhados.
Troye pergunta quando Tassia passa ao seu lado. –Você está bem? – Ela bate à porta da Frontier sem responder.
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Aron entrega um copo de papel cheio de café para Madson. –Foi tudo muito rápido- Ele diz se sentando no chão ao lado dela. –Assim que vocês saíram o exército entrou, foi um caos- Ele sopra o copo quente. Madson e Aron estão sentados no chão ao lado da maca de Tahisse, o cheiro do café dá vida a sala que há pouco mais de uma hora fez eles entrarem em desespero. As paredes brancas e o chão gelado de porcelanato cinza claro fazem questão de lembrar a eles onde eles estão e o que está acontecendo. É impossível relaxar ou tentar esquecer os momentos de angustia que viveram há pouco tempo. Mesmo assim, eles tentam conversar um pouco, mas qualquer assunto que eles entram acaba no mesmo lugar.
Madson se vira encostando a cabeça de lado na parede para olhar para Aron. –O que aconteceu aqui?
Ele se ajeita e toma mais um pouco de café –Todos da ala de infecção e setor de risco morreram, uns foram comidos vivos e os que sobraram foram executados ali mesmo. Eles limparam tudo e examinaram os funcionários do restante do hospital e as pessoas da sala de espera- Ele sopra o copo fazendo a fumaça dançar sobre o café quente. –A ordem agora é matar qualquer um que entrar com os sintomas da febre vermelha ou com qualquer tipo de mordida humana.
-Meu Deus- Ela põe o copo de café no chão. –Como assim matar?
-Os funcionários do hospital estão proibidos de tocar no assunto, mas essa ordem é para todos os hospitais. Não importa como, todas as pessoas que morrem voltam, a mordida mata e a febre vermelha também, então temos que mata-los para que eles não se transformem- Ele se levanta e vai em direção ao banheiro. –E tem que ser na cabeça.
Ela também se levanta. –Como assim?
-Na cabeça, eles só morrem se acertar na cabeça. Não adianta atirar ou cravar uma faca em outra parte do corpo, eles não morrem.
Ela pega o café e tenta não pensar muito sobre isso agora. –Espero que achem logo uma cura, as pessoas não podem ser mortas por virem ao hospital procurando tratamento.
-É desumano eu sei. Mas se não agirmos certo, isso pode espalhar, se isso vai para as ruas perderíamos o controle e nem quero imaginar como as coisas ficariam.
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Karen está penteando os cabelos cacheados sentada na cama enquanto Oliver lê algumas notícias na página do The New York Times. O sol da manhã entra pela janela recém-aberta e ilumina o quarto mobiliado com móveis rústicos. O celular de Karen toca. –Oi querida- Ela diz colocando a escova de madeira em cima do criado-mudo.
-Mãe?
-Oi amor, estou morrendo de saudades. Como está a sra. Anderson?
-Ela está bem, quero voltar para casa, quando vocês voltam?
-Ah querida, estamos fazendo o possível. Já já a Mad volta do trabalho.
-Ficamos sem luz ontem de novo e minha escola está fechada. Quero ver minhas amigas- Ela diz colocando as pernas em cima do sofá bege.
-Logo as coisas vão voltar ao normal- Karen se levanta e vai em direção ao banheiro- É só por um tempo- Ela põe o celular no viva voz e o coloca sobre a pia de mármore.
-As coisas não parecem muito normais aqui- Ela diz olhando pelas brechas da persiana branca que cobre a janela grande da sala. Ela observa dois carros do exército fazendo a ronda pelo bairro. –Está longe de estar normal- Murmura a menina.
Karen lava o rosto e responde. – Está tudo bem, querida, não se preocupe. Eu vou descer para tomar café, se comporte! A sra. Anderson não pode se estressar.
-Ok mãe, te amo- Ela diz saindo da janela e indo em direção da mesa de centro da sala com o chão de tábuas de madeira envernizada.
Karen desliga o celular e apoia as mãos sobre a pia. –Vamos descer? – Ela pergunta dando um beijo em Oliver.
Ele abaixa a tela do Notebook –Pode ir na frente, estou lendo umas coisas aqui.
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Wanda Anderson está preparando panquecas para Anna enquanto presta atenção nas notícias da TV * -NÃO VAMOS NOS CALAR- Grita um dos manifestantes. –Milhares de pessoas ocupam a Times Square em um movimento que tem ganhado força no país. – Diz a jornalista. –Uma das exigências dos manifestantes é o pedido de transparência do governo sobre os casos envolvendo a febre vermelha. – Ela completa. –O governo segue mantendo o plano inicial... – Ela é interrompida por uma forte explosão logo atrás. –O que foi isso? – Ela pergunta ao cinegrafista que agora segura a câmera apontando ao chão. As pessoas gritam e as chamas do ônibus incendiado ficam altas. –Acabaram de explodir um ônibus! A tropa de choque já está no local. Vocês podem ouvir daqui o som deles batendo no escudo- O cinegrafista dá zoom no cordão de isolamento formado pelos integrantes da tropa de choque. As pessoas tacam pedras e gritam para eles. O coro da multidão toma conta de todo ambiente –QUEREMOS A VERDADE- Todas as pessoas repetem a frase diversas vezes. A luz acaba na casa de Wanda desligando a TV e o restante das coisas.
-Esses apagões vão durar até quando? – Ela diz pegando um prato no armário. –Anna, as panquecas estão na mesa- Ela coloca o prato com sete panquecas empilhadas sobre a mesa. A luz apagou de novo, já é a terceira vez na semana e dessa vez foi no estado inteiro.
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Lexa é a jornalista que estava cobrindo as manifestações em New York. Ela está vestindo saia social cinza e uma blusa branca, seus cabelos castanhos estão presos em um rabo de cavalo. –Cortou? – Ela pergunta para Louis.
-Cortei- Ele diz olhando as imagens na câmera. –Ficaram ótimas.
-Sinto cheiro de Pulitzer... vamos conseguir- Ela ajeita o microfone e põe uma mecha do cabelo que desce atrás da orelha. Eles entram na multidão que agora perde o controle. As pessoas tacam pedras em direção da tropa de choque que revida com bombas de gás lecrimogenio.
–Não para de filmar!- Uma mulher passa com o rosto sangrando, provavelmente agredita pelos policiais ou vítima de umas das pedras que voam sobre todos eles. *QUEREMOS A VERDADE, QUEREMOS A VERDADE* Eles continuam gritando. Ela se aproxima do local da explosão onde á oito pessoas mortas no chão.
-SAIAM DE PERTO! NÃO SE APROXIMEM!- Grita um dos policias que tentam afastar a multidão. Outros policiais atiram na cabeça dos oito mortos que estão no chão, o que faz a multidão enlouquecer.
-VOCÊS ESTÃO LOUCOS?– Um adolescente grita vendo uma mulher no chão ter sua cabeça furada por uma bala.
As pessoas começãm a gritar. –MONSTROS! – Grita uma mulher, -COVARDES- Outro homem grita. Mais pedras são arremeçadas contra as forças policiais,
-SAIAM DAQUI- Uma voz grita ao som de um aplificador. –O uso de armas de fogo foi autorizado- Os policiais sacam as armas e apontam para a multidão.
-Eles não podem fazer isso- Diz Lexa se virando para o cinegrafista.
-Cinco...- O policial começa a contar. -Quatro...-
-NÃO PARA DE FILMAR- Ela grita
-Três...Dois...-
-Meu Deus- Ela dá um passo para trás e fecha os olhos.
-Um... FOGO!- Os policiais atiram para o alto fazendo a multidão gritar e em seguida ficar em silêncio. Helicópteros sobrevoam o local e de um deles sai a voz que preenche as ruas lotadas.
-Voltem para suas casas agora! A situação está crítica e multidões podem ser o inicio do caos. Usem máscaras e luvas para sair de casa. Qualquer um com sintomas de febre vermelha deve comparecer ao hospital mais próximo imediatamente! Estamos fazendo o possivel, mas precisamos da cooperação de vocês, voltem para suas casas agora!
A multidão começa a se dispersar aos poucos, pessoas voltam aos predios ou caminham de volta para seus carros ou casas. O coração de Lexa está disparado. Varias placas e cartazes estão por todo o lugar, mas um senhor segurando uma placa chama a sua atenção “And the dead in Christ shall rise first . Then we which are alive and remain shall be caught up together with them in the clouds. 1 Thessalonians 4:13-18” (E os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens. 1 Tessalonicenses 4:13-18).
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-Conseguiram falar com a Tassia? – Troye se inclina na mesa da sala de aula e pergunta a Noah. –Eu liguei para a casa dela hoje, mas a mãe dela disse que ela não queria falar com ninguém- A sala está quase vazia, apenas oito alunos estão presentes na aula de sociologia da quarta feira. A sala mantém o formato rústico dos colégios antigos, mesas de madeira, corredores largos, chão de taco escuro e lousa a giz.
Noah vira para trás. –Não. Carol está tentando desde ontem- Ele encara Carol do outro lado da sala. O olhar dela está distante, ela praticamente não está naquela aula. As imagens de Tassia quase sendo estuprada e do homem voltando a vida estão presentes em sua cabeça o desde o acontecimento. Ela se treme de susto quando a campainha do intervalo toca. Ela se levanta e segura os livros na frente dos seios, sai da sala sem olhar para ninguém.
Noah tenta alcança-la pelo corredor com poucos alunos. –Carol- Ele a chama. Ele a alcança e para ao lado dela. –Não falou comigo o dia inteiro- Ele diz.
-Eu preciso de um tempo, preciso ficar sozinha- Ela tenta voltar a andar e é segurada por ele.
-Vai se afastar de mim? Quero te ajudar- Ele diz olhando os olhos dela.
Ela solta o seu braço das mãos de Noah com um movimento agressivo. –Quer me ajudar? Me deixa em paz! – Ela volta a andar em direção a porta principal. Ele observa ela abrir e bater à porta com força.
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-Querida, vamos comigo ao mercado- Wanda diz pegando a bolça ao lado de Anna. Wanda é uma senhora bem carismática, com cinquenta anos, ela sempre foi presente na vida da família deles. Ajudou Karen em muitos aniversários de Noah e Anna. Ela é mãe de Madson e quase uma vó para eles. –Vamos querida, vamos aproveitar enquanto o metrô está vazio- Ela diz desligando a TV.
-Sra. Anderson, viu minha máscara? – Ela pergunta olhando por trás das almofadas do sofá. Seus cabelos cacheados como os da mãe pendem ao rosto branco e lábios rosados. –Eu deixei por aqui- Ela continua procurando. –Achei- A máscara hospitalar personalizada com um rosto de uma gata infantil foi o jeito mais divertido que Wanda achou de fazer Anna passar a usar a máscara. Elas saem da casa usando um carrinho de feira e são surpreendidas pela ronda do exército.
-Vocês moram nessa quadra? Preciso do endereço de vocês e o exame.
-Bom dia querido, só um minuto- Ela diz procurando os papéis na bolsa. –Aqui- Ela os entrega.
-Onde vocês vão? – Ele pergunta lendo o resultado dos exames e entregando de volta para Wanda.
Ela guarda os papéis na bolsa. –Mercado.
-Vão usar o metrô?
-Vamos sim.
Ele entrega um cartão a ela e um para Anna. –Só podem transitar pelas ruas e usar o metrô com esse cartão, não percam ele de jeito nenhum- O cartão é tipo um “passe” para que seja seguro andar pelas ruas. Somente as pessoas com os exames médicos semanais comprovados podem sair de casa. –Tenha um bom dia! Não esqueçam o toque de recolher- Elas passam por eles e continuam caminhando.
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Madson está deitada na poltrona de couro que Aron pegou de um dos quartos do hospital. Já fazem quase oito horas desde que eles terminaram a cirurgia. Aron está trabalhando no hospital enquanto Madson se mantém escondida. As luzes se apagam. –Merda- Ela diz indo até a janela. O quarto fica totalmente escuro e os equipamentos de Tahisse são desligados também. As luzes de emergência se acendem e clareiam o quarto. –Está tudo bem? – Ela pergunta quando Aron entra no quarto.
-Sim, outro apagão, não entendo porque os geradores não funcionaram- Ele diz entregando um sanduiche natural e um suco de laranja para Madson. –De qualquer forma, vou dar uma checada no subsolo.
-Os aparelhos desligaram, não tem como eu acompanhar os batimentos cardíacos dela sem eles- Ela diz mexendo no monitor.
-Vou dar um jeito, já estou voltando- Ele diz saindo da sala.
Ela abre o embrulho do sanduiche e dá uma mordida. –Delícia- Ela diz para si mesma, está faminta. Ela está exausta e abalada, mas ela tem ficado mais forte a cada dia que se passa. Madson termina de comer e vai até o banheiro do quarto hospitalar, ela encosta a porta e começa a tirar a roupa. Ela se encara no espelho do banheiro, está nua e com os cabelos soltos. Sua cintura fina e magra molda seu corpo. A água começa e molhar seus cabelos e descer pelo seu corpo, ela senta debaixo do chuveiro e fica ali.
Madson desperta uns trinta minutos depois com Aron entrando no banheiro. –Me desculpa- Ele se vira em um movimento rápido. –Fiquei preocupado, te chamei e você não respondeu- Ele diz encostando os ombros na parede de azulejo gelada de costas para Madson.
-Eu peguei no sono. Acho que foi a primeira vez que eu fechei os olhos depois que tudo isso começou- Ela diz esfregando o shampoo nos cabelos loiros molhados.
-Não consegui fazer os geradores funcionarem. Os técnicos pararam de trabalhar faz dois dias já, estamos cada vez mais com menos funcionários- Ele diz ainda de costas para ela. Aron é um homem atraente, alto com cerca de 1.90 de altura, branco com os cabelos no estilo militar. Sua blusa de manga fica apertada em seu corpo e expõe os braços definidos. Seus olhos castanhos e sobrancelhas baixas o deixa com um olhar intimidador e masculino. A barba cerrada e a boca fina se mexem com suavidade a cada palavra. Madson nunca o tinha visto dessa forma. Os momentos juntos a fizeram enxergar o quão bonito Aron era, ela o olha e repara em suas costas marcadas pela blusa.
-Pelo menos os médicos e enfermeiros continuaram- Ela diz se enrolando em uma toalha branca de algodão. Ele se vira e a observa. Ela está enrolada na toalha, com as pernas a mostra e os cabelos soltos molhados. Ele tenta ser discreto, mas sua calça fica mais apertada a cada segundo que se passa. Eles se encaram por mais de um minuto sem dizer uma palavra e então ela se aproxima dele sem tirar seus olhos dos olhos dele. Ela pega a sua mão e põe sobre o seu seio direito, ele fecha os olhos e o aperta de leve. Ele a beija. A toalha dela desce deixando a mostra o seu corpo branco por onde Aron passa a mão esquerda até chegar a coxa de Madson, ele puxa sua coxa para cima a mantendo suspensa ao lado de suas pernas. Ela respira ofegante enquanto ele beija o seu pescoço e a põe contra a parede. Madson tira a blusa branca de Aron e o encara, ela passa as mãos por todo o corpo até chegar no cinto dele e o abre. As calças dele descem e sua cueca box branca marca seu pênis que pulsa sem controle nenhum. Eles continuam se beijando colados um ao outro. Madson olha para cima enquanto se contorce sentindo o volume de Aron sobre seu corpo completamente nu. Ele passa a mão pela cueca apertada e tira o pênis ereto pela lateral, os pelos semicerrados arranham de leve as pernas de Madson. Ela geme de prazer sentindo o membro de Aron passar pela sua coxa a deixando em partes molhadas pelo seu líquido pré-ejaculatório. Ele pulsa o pênis entre suas pernas, Madson se arrepia a cada vez que os lábios de Aron a toca. Ele desce pelos seus seios arrastando a barba enquanto passa sua língua por sua barriga e se ajoelha em sua frente. Madson o encara, ela respira e em seguida geme olhando para o alto quando Aron a toca com os seus lábios macios, sua língua a percorre de cima para baixo enquanto seu rosto a toca com sua barba a deixando louca de prazer. Ela o puxa para cima e o beija. Ele a penetra ainda segurando sua coxa ao lado do seu corpo. A respiração dela fica mais alta e o acompanha a cada movimento que ele faz com a cintura empurrando seu membro dentro de Madson. Ele a beija, passa sua barba pelo seu pescoço, o corpo de Madson se arrepia, ela passa as unhas pelas costas de Aron que continua a movimentar sua cintura. A boca dele está um pouco aberta, sua respiração está ofegante, sua mão grande aperta a coxa suspensa de Madson com força a deixando marcada. Os movimentos de Aron ficam mais rápidos, mais rápidos e mais fortes, seu rosto se contorce e ele olha para o alto fechando os olhos com força.
Eles estão suados, ainda de pé e abraçados após o orgasmo. Os cabelos de Madson estão colados em seu rosto e as bocas deles estão secas. Madson tenta respirar devagar e suas pernas tremem. O suor escorre pelo corpo de Aron, Madson olha pelo espelho e observa suas costas largas e como ele a esconde com seu corpo alto. Ela desce os olhos pelo espelho e repara na bunda de Aron, redonda e com um tom mais claro que o restante do corpo. –Você precisa pegar um sol- Ela diz apertando ele. Ele ri e a enrola na toalha. –Obrigada- O sorriso no canto da boca dela o faz ficar a encarando enquanto ela apenas sorri. –O que foi? – Ela pergunta colocando as mechas do cabelo que pendem ao rosto atrás da orelha.
-Nada, só estou te curtindo- Ele diz encostado na parede, ainda nu e com os pelos aparados que descem da barriga até o pênis. Ela termina de se vestir e joga a toalha para ele.
-Pode se vestir já, Aron- Ela diz rindo e saindo do banheiro.
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-Droga! Dhavilla, socorro! – Lenna grita da cozinha do café.
-Ah querida, você botou os ovos cedo demais- Diz Dhavilla pegando a colher de pau das mãos de Lenna. –Precisa pôr a clara depois, se não perde o ponto- Ela diz deligando a batedeira.
Karen está sentada no balcão junto com Tara e Alisson, Oliver e Clarck foram ao centro. O dia está frio e o vento está forte, o café está vazio como nos últimos dias.
-Eu batia nela sempre- Diz Tara, adoçando o café. –O que eu posso fazer? Ela pedia- Ela ri e põe a colher sobre o balcão.
-Minha irmã mais nova também me irritava. Ela roubava minhas roupas, maquiagem e escondia- Karen diz pegando um pouco do café. –E o pior era que minha mãe defendia ela.
-Eu sou a irmã mais nova, então parem, vocês são cruéis- Alisson vai até a porta e observa o tempo, ela ri e vira para as mulheres no balcão. –A sorte de vocês é que éramos fracas e bobas- Ela diz rindo e fechando a porta.
Dhavilla e Lenna estão tentando fazer suflê de chocolate. A linha telefônica e internet caíram por toda a cidade.
...
Oliver e Clarck entram em uma loja de conveniência no centro da cidade, um sino preso a porta faz barulho assim que eles entram.
-Talvez se tentarmos pela estrada, podemos ir pelo Norte- Diz Oliver pegando uma caixa de cigarros.
Clarck anda pelo corredor de madeira com prateleiras cheias de biscoitos e doces. Ele pega um barbeador no fim do corredor. –Podíamos tentar, mas se pegarmos um bloqueio na principal vamos ter que voltar. Talvez as pistas secundárias ou estradas pelas montanhas não estejam bloqueadas- Ele diz colocando o barbeador na cesta que Oliver segura.
O homem no balcão os chama. –Ei, talvez eu saiba como ajudar- Ele diz se apoiando no balcão. –Ouvi dizer que a estrada que passa pelas fazendas dos Wilson não está bloqueada. Tenho os mapas aqui se quiserem- Ele diz pegando um dos mapas.
Eles se aproximam. Oliver está com um casaco de moletom cinza e calça jeans. Branco e com 1.85 de altura, ele está com a barba um pouco grande, aparentando ter seus trinta e sete anos. Ele é um homem maduro e bonito. Já Clarck é um garoto de mais ou menos vinte e cinco anos, no estilo de cara que ainda serve ao exército americano. Ele é um pouco mais baixo que Oliver, não tem barba e seu cabelo é loiro claro, um rapaz muito bonito também. Ele veste uma jaqueta azulada e blusa branca por baixo, calça jeans preta e botas. –Podemos dar uma olhada lá- Diz Clarck pegando um dos mapas. –Ainda está cedo, chegaríamos antes de anoitecer.
-Vamos alugar um dos carros- Oliver diz colocando as coisas no balcão.
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Tassia está deitada na cama olhando o notebook, ela escreve na sua caixa de pesquisa “mortos que comem pessoas” Ela começa a ler os relatórios de busca “Filho mais novo mata irmão e mãe com mordidas”, “Cidades inteiras na África são dos mortos”, “Homem morto é achado andando em parque na Califórnia”, “Mortos vivos, mito ou verdade? ”, “A mordia transforma”, “Pessoas que receberam a vacina contra a febre vermelha já estão infectadas”. Ela fecha o notebook sem abrir nenhuma das opções. Ela olha para o vazio do quarto e respira, uma lágrima escorre dos seus olhos. A mãe dela bate na porta. –Oi- Ela diz botando metade do corpo dentro do quarto.
-Oi mãe- Tassia diz deitando e virando para a parede. Dhonna entra no quarto e fecha a porta devagar. Ela senta na cama e acaricia os cabelos da filha.
-Você precisa comer, querida- Ela diz deitando ao lado de Tassia. –Estou preocupada com você.
-A senhora não sabe o que eu vi, a senhora não intende- Ela diz deixando sua voz fraca pelo choro.
-Você pode me contar- Ela diz olhando para o teto com pôsteres colados.
Tassia se vira e fica de frente para Dhonna. Sua pele branca está rosa pelo choro e seus olhos estão molhados. –Eu matei ele- Ela respira fundo. –Eles tentaram me estuprar na floresta, Carol me salvou.
Dhonna senta e encara Tassia. –Oque? – Seus olhos enchem de água, ela se levanta.
-Foi na festa da fogueira. Entrei na floresta com Scott e eles perseguiram a gente. Quando Carol o acertou na cabeça ele já estava sem roupa- Ela começa a chora de soluçar.
-Calma amor- Dhonna a abraça forte. –Vocês sabem quem foi? Vamos na delegacia.
-Não mãe, você não intende, eu matei ele- Ela diz tentando controlar o choro. –Matei com uma pedra. Eu e Carol fomos procurar pelo Scott, ele estava no chão e eles estavam batendo nele. Eu o acertei na cabeça diversas vezes, ele morreu!
-Não chore por ele querida, ele mereceu, faria o mesmo com qualquer um que tentasse machucar você ou sua irmã- Ela diz abraçando Tassia novamente. –Nunca mais faça isso! Foi arriscado, você não tem noção de como eu ficaria se algo te acontecesse- Ela diz segurando Tassia pelos ombros. –Temos que ir na delegacia mesmo assim.
-A senhora já leu sobre os boatos das pessoas que morrem e voltam? – Ela pergunta olhando os olhos de Dhonna. –Já ouviu falar?
Dhonna a encara. –São só boatos querida - Ela diz abrindo as cortinas do quarto. O sol preenche e destaca os grânulos de poeira que voam, os olhos vermelhos e encharcados de Tassia brilham refletindo o sol.
-Não mãe, não são boatos, eu vi.
Dhonna se afasta e a encara. –Você estava abalada, com medo e movida pela adrenalina, é normal ver coisas que não existem.
Tassia vai até ela. –Não mãe, eu não imaginei isso. Ele se levantou e mordeu um dos caras.
Dhonna a encara. –Tassia, para! É crime falar sobre isso- Ela diz saindo apressada do quarto.
-Mãe? O que foi? – Tassia pergunta indo atrás de Dhonna. –Mãe?
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Madson está sentada ao lado Tahisse lendo um livro que pegou de um dos quartos. Aron entra e dá um beijo nela. –Está com fome? – Ele pergunta indo ao banheiro. A sala está tão silenciosa que ela consegue ouvir Aron abrir o zíper da calça.
-Não, mas um café bem forte seria ótimo- Ela diz fechando o livro e o colocando na mesa. Ele sai do banheiro e vai em direção a ela.
-Um café? É só o que você quer agora? –Ele diz puxando ela para um abraço.
Ela o encara e sorri. –Hum... talvez eu não queira só o café- Ela diz ficando na ponta dos pés.
-Olha quem está querendo me alcançar- Ele diz pegando ela no colo, eles riem e se beijam, um beijo suave. –Acho que eu posso conseguir mais um pouco de café- Ele a coloca deitada na poltrona reclinável marrom.
Madson olha para o lado e o sorriso aos poucos sai do seu rosto, sua respiração trava. Aron a encara e depois olha para o lado. –Meu Deus, não, por favor- Ela diz deixando as lágrimas descerem pelo seu rosto. –Não, não- Ela diz indo em direção a Tahisse. As lagrimas descem pelo seu rosto e ela fica tonta por um momento. –Não, não, não... – Cada “não” que ela fala sai mais fraco pela voz tomada pelo choro. Ela cai ao lado da amiga que não respira mais.
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